Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Tenho duas netas nascidas na Dinamarca, filhas de minha única filha, que mora naquele país há mais de 30 anos. O pai é um dinamarquês de longa linhagem e devido às várias visitas que fiz àquela nação escandinava aprendi sobre a importância dos vikings na formação não só da península, como na Europa como um todo.
A Era Viking, como é chamado o período que vai de 800 a 1100 DC, marcou a atuação dos Homens do Norte, assim denominados os habitantes da Escandinávia, na realização de grandes ofensivas contra a Europa e a Ásia, através de longas e ferozes viagens, bem como sua influência na cultura europeia, através da colonização, estabelecimento de fazendas e fundação de cidades.
Os escandinavos moravam na região hoje compreendida pela Noruega, Dinamarca e Suécia, agrupados em inúmeros reinos de pequeno tamanho territorial. Eram pagãos, acreditavam numa religião politeísta, Thor era o chefe dos deuses e chamavam de Valhalla a morada deles. Morrer em batalha era garantia de partilhar as delícias do outro mundo, por eles considerado muito melhor do que aquele onde viviam.
Há várias hipóteses para a expansão viking a outras regiões da Europa. Alguns estudiosos citam o crescimento populacional, após o abrandamento da Era do Gelo, criando a necessidade de buscar riquezas não encontradas no território da Escandinávia. Outros, destacam a tecnologia de construir navios mais leves, que podiam ser usados em mares profundos ou rasos e que teriam de ser experimentados para além do seu limite territorial. Alguns mais citam o surgimento de uma classe de jovens em busca de aventuras e de conhecer os mares, talvez a mesma ambição que quatro séculos mais tarde dominou os portugueses e deu início à Era das Navegações
O certo é que, em 793 eles se lançaram ao mar e atingiram o riquíssimo mosteiro cristão de Lindsfane, na Inglaterra, que profanaram, saquearam, destruíram, mataram e capturaram os frades, tornando-os escravos. Esta incursão marca o início da Era Viking.
Os guerreiros do norte iniciaram então um período de viagens marítimas, de saques violentos, mas acabaram estabelecendo assentamentos, com próspero comércio com outras nações. Para o oeste, chegaram a Islândia, Ilhas Faroe, Groelândia e mesmo ao hoje Canadá, sendo os primeiros europeus a pisarem em terras americanas. A Inglaterra, Gales e a Irlanda também foram visitadas pelos vikings, que ali fundaram cidades, como Dublin, na Irlanda e York, na Inglaterra. Na Europa continental, fundaram reino na Normandia, que dominaram por longos anos. E continuaram avançando pelos rios, chegando, através do Sena, até Paris.
Mas, não pararam por aí: navegaram para o leste, pelos rios das estepes russas, fundaram Kiev, hoje sofrendo uma guerra insana, chegando até Constantinopla. Mantiveram contato e fizeram comércio também com os árabes.
Com o estabelecimento dos três reinos que duram até hoje, Dinamarca, Noruega e Suécia, e o crescimento do cristianismo na região,os vikings abandonaram de vez seu viés de pirataria e tornaram-se excelentes comerciantes.
A cultura viking influenciou muito a cultura europeia. Para defesa dos seus ataques, os europeus desenvolveram novas tecnologias. As técnicas vikings de construção de navios e suas formas de navegação influenciaram o desenvolvimento da indústria naval do continente. Sua fina arte, sua escrita em runas, sua arquitetura deixaram marca profunda na sociedade medieval europeia.
Merece destaque o papel da mulher na sociedade viking: tinham direito de voto, lutavam ao lado de seus companheiros, influenciavam na administração comunitária e várias delas tornaram-se chefes dos assentamentos.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras