Rui Flávio Chúfalo Guião *
10/12/2025. Hoje, como faz todas as quartas-feiras, nosso bisneto de dois anos e quatro meses veio passar a manhã conosco. Chega sentado em sua cadeirinha, no banco de trás do carro. Abre seu sorriso cativante quando estendo os braços para pegá-lo.
Logo pede para ser colocado no chão e busca a bola de plástico na prateleira ao lado da entrada. Usa o batente da porta como gol, chuta e rebate a bola. Quando o chute a leva a tocar o teto, é uma risada só. Algumas vezes, na queda, a bola bate em sua cabeça, é uma alegria!
Depois de muito movimento, parou e olhando o vaso de renda portuguesa, que exibe várias folhas novinhas, depois da poda, diz: “Cresceu. Como cresceu ?“ Minha esposa, que é bióloga, explica que a planta precisa da terra, bastante água e sol. Com isso, ela cresce e fica bonita.
“E o gavião ?”, pergunta o bisneto. ”Ele nasce dos ovos que a fêmea coloca no ninho, senta em cima deles, o calor choca os ovos e deles nascem os gaviõezinhos. Eles são alimentados pelos pais, até aprenderem a voar, aí começam a procurar comida sozinhos”.
E emenda : “você nasceu da barriga de sua mãe, como seu irmãozinho que acaba de chegar. Você precisa comer bastante, beber bastante leite, comer bastante frutas e beber muita água para ficar grandão”. Ele permanece olhando fixamente, como a internar os novos conhecimentos. E parte para a cozinha, onde diz à cozinheira: “Aumente a comida, que vou almoçar aqui hoje !” Pega sua vassourinha, varre o chão, depois pega a parte das fibras e diz “ Azul, amarelo e azul”.
Larga a vassoura, diz : “Massinha” e corre para uma das mesas da varanda, onde a bisavó disse ser o lugar para mexer com elas. Senta, pede os vários potinhos, que tenta abrir, mas, não consegue. Pede ajuda, a bisavó, que chama de bisa, vai abrindo um a um.
Ele mistura as massas de várias cores, tenta fazer um cavalo, um cachorro. A bisa acode, faz várias peças, um pássaro, um cavalo, um avião, todos rapidamente desmanchados. Usa as formas do brinquedo para fazer círculos, quadrados, pirâmides. Fica muito concentrado.
A tia avó que vem todos os dias de sua visita, fala em inglês com ele. Ele repete as palavras, até que ouve “Blue”, que fala várias vezes, blue,blue,blue, rindo. Cansado das massinhas, vai para a minha escrivaninha e pede para desenhar. Faço um enorme pato, que é cheio por ele de pontinhos vermelhos. Risca e rabisca, se diverte. Está quase na hora de ir embora.
Mas, ainda há tempo para sentar na chaiselongue e me pedir para ler alguns livrinhos. Dá preferência aos que têm botões e produzem sons. Sons de animais da fazenda, de trator, que aperta várias vezes e se diverte. Eis que chega a mãe, ele corre para seus braços, dirige-se ao carro e é , instalado na cadeirinha.
Ele fica sério enquanto fixo os cintos de proteção. Dá uma olhada e diz obrigado. E parte e nós ficamos torcendo para que a próxima quarta chegue logo.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras

