Tribuna Ribeirão
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Paradoxos políticos e incongruências lógicas

Luiz Paulo Tupynambá *
Blog:
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Poetas, doidos e profetas da linha filosófica 51 com Brahma conhecem as lendas que serão contadas no futuro. Uma delas diz que a humanidade já tinha alcançado desenvolvimento tecnológico para fazer grandes viagens para planetas distantes. Como nossa espécie, diz o ditado mineirês raiz, tem curuquerê no fiofó e não sossega em lugar nenhum desse mundo de Deus, decidiu colonizar um planeta em outro sistema solar. Coisa, que apesar de demorada e financeiramente custosa, traria a felicidade geral e tanta riqueza que sobraria até para os arcanjos e querubins aposentados. E ainda pingaria uns caraminguás para uns pobres diabos desassistidos, apesar da oposição da bancada evangélica.

Com grande pompa, a maior nave já construída pela humanidade partiu, levando mais de cem pessoas escolhidas a dedo, em seus dispositivos criogênicos. Eles dormiriam por cem anos até chegar ao seu objetivo final. E assim aconteceu.

Nave pousada, criogenia desligada, o povo todo acordou, abriu-se a porta da nave e todos desembarcaram. Embasbacaram-se com a beleza natural do planeta, suas cascatas de água limpa, a temperatura agradável e o ar mais puro que jamais tinham respirado. Após uma pequena cerimônia para fincar a bandeira da Terra e um singelo brinde com água pura de um riacho ali perto, dedicaram-se aos afazeres programados. Mas, o sossego durou pouco.

Dezenas de pessoas surgiram voando em vôo rápido e rasante, usando trajes especiais que desconheciam. Elas cercaram os surpresos viajantes, encarando-os belicosamente através dos seus capacetes transparentes. Um deles, grande e forte, muito parecido com qualquer chinês grande e forte da Terra, gritou: “Quem são vocês? O que querem aqui? De onde vocês vêm?”.

O comandante só conseguiu compreender o que tinha acontecido após muito conversar com aquelas pessoas que já estavam no planeta. Eram de uma segunda missão, lançada cinquenta anos depois da sua e que chegou vinte anos antes dele no planeta. Centenas de crianças já tinham nascido ali e viviam felizes na nova colônia humana.

Nessa altura pedi uma pausa para o meu colega de mesa, um dos mestres nessas coisas de filosofice 51 com Brahma, mas da vertente whisky com gelo. Eu já não estava acompanhando a estória. Ele me olhou com a condescendência que os poetas olham para um redator de bulas farmacêuticas que quer contestar os poemas de Neruda. E com a paciência que só os doidos têm para explicar esse mundo inexplicável em que vivemos, me ensinou:

“Caboclinho, esse é um caso típico do Paradoxo de Comunicação, que existe na Teoria dos Jogos. Veja bem: o objetivo era chegar num planeta distante com uma missão de colonização, certo? – concordei com um gesto – a primeira missão, baseada na tecnologia disponível na sua época, foi lançada e levou cem anos para chegar no planeta. Por algum motivo, durante a viagem perdeu a comunicação com a Terra. Após certo tempo, na Terra, concluíram que a missão tinha falhado e a tripulação toda tinha morrido. Nesse ponto já tinham se passado quarenta e cinco anos. Cinco anos depois disso, já com uma tecnologia muito mais avançada, foi enviada uma segunda missão para substituir a primeira. A segunda levou trinta anos para chegar ao planeta. – fiz cara de pateta – Vou facilitar para você. A primeira missão é lançada em 2100, então chegaria no planeta em 2200. Em 2045, ela foi dada como perdida. Em 2050 a segunda missão foi lançada. Mas a humanidade já tinha então uma tecnologia cinquenta anos mais avançada do que na época da primeira, o que permitiu que a segunda missão chegasse ao destino em trinta anos. Assim, a segunda missão chegou lá em 2080, vinte anos antes da chegada da primeira. Simples assim.” – ele  voltou sua atenção para o garçom que lhe servia mais uma “cascavel”, que era como ele chamava o whisky on the rocks.

Não entendeu? Olhe ao seu redor para esse planeta que é uma amostra viva das incongruências lógicas de convivência civilizada provocadas pelos nossos paradoxos de comunicação.

Em homenagem aos meus amigos eternos, Vanderlei Gazón, o Canarinho e Paulo “Moreira” Camargo, artista plástico, companheiros de muitas divagações por futuras lendas e saberes que estão no porvir.

* Jornalista e fotógrafo de rua

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