“As Aves da Noite”, drama escrito por Hilda Hilst (1930-2004) há 57 anos e vencedor do Prêmio APCA 2022, terá duas apresentações gratuitas em Ribeirão Preto
O espetáculo “As Aves da Noite”, drama teatral escrito por Hilda Hilst (1930-2004) há 57 anos, vencedor do Prêmio APCA 2022 de Melhor Espetáculo Virtual, terá duas apresentações gratuitas em Ribeirão Preto neste fim de semana, encerrando a circulação que contemplou cinco cidades paulistas.
As apresentações acontecem no Teatro Municipal, às 20 horas deste sábado, 1º de novembro, e às 18 horas de domingo (2), feriado do Dia de Finados. Os ingressos devem ser retirados na bilheteria uma hora antes das sessões. As reservas antecipadas estão sendo feitas no link https://megabilheteria.com.
A encenação, que se passa em um campo de concentração nazista de Auschwitz, tem direção de Hugo Coelho e elenco formado por Marco Antônio Pâmio, Marat Descartes, Regina Maria Remencius, Rafael Losso, Walter Breda, Fernando Vítor, Marcos Suchara, Wesley Guindani e Heloisa Rocha.

Espetáculo “As Aves da Noite” de Hilda Hilst tem grande elenco
O enredo de “As Aves da Noite” parte da história real do padre franciscano Maximilian Kolbe, que apresentou-se voluntariamente para ocupar o lugar de um judeu sorteado para morrer no chamado “porão da fome” em represália à fuga de um prisioneiro. Segundo o diretor Hugo Coelho, “esta é uma versão contemporânea do texto de Hilda.
Não é uma reconstituição de Auschwitz, partimos de Auschwitz. O espetáculo é um grito contra a barbárie, contra o fascismo que usa a violência como instrumento de ação política”. No porão da fome, a autora coloca em conflito os prisioneiros condenados a morrer na cela: o Padre, o Carcereiro, o Poeta, o Estudante e o Joalheiro, que são visitados pelo Oficial da SS, pela Mulher que limpa os fornos e por Hans, o ajudante da SS.

Na montagem, eles aparecem isolados, confinados em gaiolas como um signo, uma alusão à prisão onde a história se passa. “A primeira coisa que os governos totalitários e ditatoriais fazem ao prender alguém é destituí-lo de sua dignidade e submetê-lo ao sofrimento extremado, e isso os nazistas fizeram com requintes inimagináveis de crueldade”, comenta o diretor.
Segundo ele, a proposta de concepção de Hilda Hilst é muito clara, colocando as personagens em estado de reflexão sobre suas próprias condições no confinamento. A leitura que a autora faz dos aspectos éticos e humanos passa por questionamentos sobre Deus, sobre o mal e sobre a crueldade. Nos diálogos estão o embate entre a vida e o que lhes resta, os devaneios entre o desespero e o delírio.
O Poeta declama como se morto estivesse, o Estudante sonha com outro tempo, o Joalheiro ainda lembra-se da magnitude das pedras, enquanto a Mulher é humilhada em sua condição inferior. O Carcereiro, mesmo sendo um condenado, ironiza a condição dos demais e os trata com escárnio; o SS os chama de porcos e os agride e menospreza, enquanto o estado de debilidade emerge da vida e da já não existência desses humanos subjugados.
A montagem de “As Aves da Noite” busca elucidar a humanidade e densidade contida no texto, mergulhando nas possibilidades inesgotáveis do drama para emergir na poética da tragédia. “O discurso racional não dá conta da realidade. A arte tem o papel de traduzir esse discurso como uma segunda realidade que passa pela razão, mas também pelo sensorial e pela emoção”, reflete Hugo Coelho. “E temos a sorte de reunir um elenco de extrema grandeza.

O talento desses atores é um pilar fortíssimo no resultado final do trabalho”. Sobre o texto, Hilda Hilst falou: “Com As aves da noite, pretendi ouvir o que foi dito na cela da fome, em Auschwitz. Foi muito difícil. Se os meus personagens parecerem demasiadamente poéticos é porque acredito que só em situações extremas é que a poesia pode eclodir viva, em verdade.
Só em situações extremas é que interrogamos esse grande obscuro que é Deus, com voracidade, desespero e poesia”. O cenário, que traduz o cárcere com gaiolas humanas, foi concebido pelo diretor.
O figurino (de Rosângela Ribeiro) faz alusão aos uniformes de presidiários, reforçando a imagem do encarceramento. A iluminação (de Fran Barros) dá foco a cada personagem, reforça o clima denso e claustrofóbico do ambiente.
A trilha sonora, assinada por Ricardo Severo, traz uma canção original do texto que remete à tradição judaica, cantada pelas personagens, e segue a mesma orientação da iluminação: “não faria sentido apenas reproduzirmos o que fizemos no vídeo, pois agora estamos no palco, que tem a sua dinâmica e necessidades próprias.
Quem viu a peça online e for assistir no teatro vai encontrar cenas e tratamentos diferentes, inclusive com introdução de novos elementos”, explica o diretor. Hugo Coelho afirma que o propósito do espetáculo é trazer à cena o discurso poderoso e contundente de Hilda Hilst.
“’As Aves da Noite’ nos faz encarar toda a barbárie do poder, do domínio, do autoritarismo, das torturas nos porões das ditaduras. Auschwitz é uma ferida aberta na humanidade para a qual é difícil encontrar palavras que a qualifique”, diz. “’As Aves da Noite’ mostra o reverso, o outro rosto da humanidade, perverso, doente e profundamente violento. Não podemos permitir que a violência e a barbárie continuem sendo normatizadas ao longo da história. Por isso essa obra, de extrema qualidade literária, é tão importante para o momento em que vivemos”, finaliza o encenador.
“As Aves da Noite”, idealizado pelo produtor Fábio Hilst, teve sua primeira temporada apresentada virtualmente, devido à pandemia da covid-19. Foi gravado em vídeo, 80 anos após a morte de Maximilian Kolbe (1894-1941), exatamente no momento em que o mundo vivia uma experiência de confinamento. Kolbe morreu em Auschwitz, em 1941, e foi canonizado em 1982, pelo papa João Paulo II.
São Maximiliano é considerado padroeiro dos jornalistas e radialistas e protetor da liberdade de expressão. Este projeto tem o apoio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo e do Ministério da Cultura.
O Teatro Municipal fica na praça Alto do São Bento s/nº, Jardim Mosteiro. Para compra online há taxa de serviço. O local tem capacidade para receber 515 pessoas – o estacionamento tem 40 vagas. Mais informações pelo telefone (16) 3625-6841. O espetáculo não é recomendado para menores de 14 anos. O uso de máscara é opcional
Serviço
Espetáculo: “As Aves da Noite”
Texto: Hilda Hilst (1930-2004)
Direção: Hugo Coelho
Elenco: Marco Antônio Pâmio, Marat Descartes, Regina Maria Remencius, Rafael Losso, Walter Breda, Fernando Vítor, Marcos Suchara, Wesley Guindani e Heloisa Rocha
Quando: Sábado, 1º de novembro
Horário: 20 horas
Quando: Domingo, 2 de novembro
Horário: 18 horas
Ingressos: gratuitos
Retirada: uma hora antes da sessão
Reservas: https://megabilheteria.com.
Local: Teatro Municipal Onde: praça Alto do São Bento s/nº, Jardim Mosteiro Telefone: {(16) 3625-6481 Capacidade: 515 pessoas Estacionamento: 40 vagas Censura: 16 anos

