Valdir Avelino, presidente do Sindicato dos Servidores Municipais critica a falta de concursos, a terceirização e o desmonte silencioso da máquina pública
No episódio #9, o Podcast Tribuna Ribeirão recebeu Valdir Avelino, presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Pradópolis e Guatapará (SSMRP). GCM da primeira turma da corporação e há 32 anos no serviço público, Valdir conta como entrou “sem saber direito o que era ser sindicalista” e acabou passando por quase todos os cargos até assumir a presidência após a morte de Laerte Carlos Augusto, em 2021.
Ele fala da transformação da Guarda Civil Municipal — hoje armada e com formação exigida pela Polícia Federal —, responde às críticas ao funcionalismo, denuncia o déficit de servidores e o avanço da terceirização, explica por que greve é sempre “último recurso” e aponta os principais desafios da categoria, da ação judicial do ‘5.15’ às cobranças por concursos, abono e melhores condições de trabalho.

Confira os principais trechos da entrevista:
Da GCM ao comando do sindicato
“Quando eu recebi o convite, lá atrás, eu nem sabia direito como funcionava a questão sindical. Entrei para representar a GCM, passei por quase todos os cargos e fui adquirindo experiência até chegar à presidência.”
“A Guarda nunca vai sair de dentro de mim. São 32 anos de GCM. Amanhã ou depois, quando eu voltar para a Guarda, vou tentar fazer o meu melhor, como sempre.”
O novo papel da GCM
“Lá em 94 a Guarda era desarmada, tinha duas, três viaturas. Hoje existe uma lei federal, a 13.022, que arma a Guarda 24 horas e exige uma grade curricular. O guarda está muito mais bem preparado.”
“Na rua, o cidadão não quer saber se é PM, Polícia Civil ou GCM. Ele quer o problema resolvido. Somos concursados e temos obrigação de servir a população.”
Cargos de comando
“Sempre defendemos que o comando da Guarda, o IPM e o Sassom sejam ocupados por servidores. Quem está dentro entende a máquina, tem visão operacional e estratégica.”
“Hoje nem se o governo quiser pode colocar alguém de fora para comandar a Guarda. A própria lei 13.022 prevê que o cargo máximo seja exercido por GCM.”
A imagem do servidor e a crítica fácil
“Em qualquer lugar você tem quem é mais dedicado e quem é menos. Mas muitas vezes o problema não é o trabalhador, é o gestor que engessa, que não dá ferramenta.”
“A sociedade cobra na ponta: falta remédio, falta material, falta servidor. Quem apanha é o funcionário do balcão, mas ele não tem autonomia para comprar nada. Quem tem que se explicar é o gestor.”
Terceirização e sucateamento do serviço público
“A terceirização, do jeito que é feita, beneficia muito mais o empresário do que a população. Para o município, sai mais caro do que abrir concurso público.”
“Pode ser a melhor empresa, mas se não tiver ferramenta, estrutura e trabalhador suficiente, o serviço não funciona. No setor público é a mesma coisa.”
Greve como último recurso — e o governo mais difícil
“Sindicato de verdade não vive para fazer greve. Greve é último recurso. É ruim para quem é atendido, para o trabalhador, para o governo e para o sindicato.”
“Na minha gestão, a primeira greve durou cinco dias. A gente conversou com a sociedade, mais de 1.200 famílias assinaram em apoio. Quando chega nesse ponto é porque esgotou o diálogo.”
“O governo mais difícil? O do [Duarte] Nogueira. Tivemos uma greve histórica de 24 dias. Faltou disposição para dialogar. O gestor não pode levar para o lado pessoal.”
Déficit de servidores e envelhecimento do quadro
“Hoje não temos nem 8 mil servidores na ativa. Para uma cidade do porte de Ribeirão, é muito pouco. Se comparar com cidades menores, a proporção de servidores por habitante é bem pior aqui.”
“Quem entrou na década de 90 está se aposentando. Todo mês tem servidor partindo. É uma massa envelhecida e muitos gestores não se preparam, preferem empurrar o problema com a barriga.”
A ação do 5.15 e a judicialização dos direitos
“O 5.15 é o ‘filhote’ dos 28%. Quem entrou depois de março de 1990 ficou nessa diferença. O processo é antigo, a prefeitura foi pondo vírgula para adiar, mas já estamos escrevendo em precatório.”
“Muitas vezes o gestor fala: ‘pode entrar na Justiça, quem vai pagar é o próximo’. Ele sabe que vamos ganhar, mas protela. No fim, a conta volta para a sociedade, com juros.”
Recados ao governo atual e à categoria
“Está faltando servidor em toda parte e já estamos abaixo do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. Não é falta de margem, é falta de vontade política de abrir concurso.”
“Pedimos abono de fim de ano para toda a categoria, inclusive aposentados e pensionistas. É muito duro o servidor chegar em casa e dizer para o filho: ‘o papai não ganhou cesta porque já é aposentado’.”
“O papel do sindicato é diluir conflito. Nosso desafio é fortalecer a consciência de classe e mostrar que, sem servidor valorizado e serviço público forte, quem perde é toda a cidade”.
Assista
Veja o episódio 9 pelo YouTube. Conduzido pelos jornalistas Eduardo Ferrari e Fabiano Ribeiro, o Podcast vai ao ar todas as terças, às 18h, no YouTube do jornal. A produção técnica é de Hugo Luque e Otávio Gentil. Redes sociais de Thaís Portella.

