Por: Adalberto Luque
O delegado Gustavo André Alves concluiu o inquérito que apurou o acidente de trânsito envolvendo o vereador Roger Ronan da Silva, o Bigodini (MDB), e sua namorada Isabela de Cássia Andrade Faria, ocorrido na madrugada de domingo, 28 de outubro. A Polícia Civil afirma que era Bigodini quem dirigia o carro.
Segundo Alves, as investigações reuniram diversas imagens de câmeras de segurança coletadas em diversos pontos por onde o vereador e sua namorada haviam passado naquela noite e madrugada que antecederam o acidente. Inicialmente, o casal estava com duas amigas, mas depois Bigodini e a namorada seguiram passando por vários locais.
O delegado disse que, através das imagens, é possível afirmar que era sempre Bigodini quem conduzia o carro. Eles foram a diversos bares e a Polícia Civil conseguiu levantar o que ele consumiu.

Pouco antes da meia-noite do sábado, 27 de setembro, ele consumiu duas caipirinhas, uma de vodca e uma de aguardente, em um bar da cidade. Depois, já na madrugada do domingo, ele estava em uma casa de shows, onde consumiu duas bebidas com uísque, e imagens já registraram o vereador cambaleante, segundo Alves.
Por volta de 1h30, ele para em um posto de combustíveis e vai até a loja de conveniência, onde compra três latas de cerveja. As imagens sempre mostram Bigodini no volante do veículo.
Alta velocidade
O carro teria sido flagrado a mais de 180 km/h na Rodovia Anhanguera (SP-330), em Ribeirão Preto. Ele também circulou acima de 130 km/h pelas avenidas Brasil, Saudade e Maurílio Biagi, em velocidades totalmente incompatíveis com o local.
Ele também foi visto na direção do veículo passando pela avenida Antônio da Costa Lima, no Quintino Facci I, zona Norte. Perdeu o controle e quase bateu com o carro em um poste. Pouco antes do acidente, o vereador passou pela rua Florêncio de Abreu, no Centro, a mais de 70 km/h.
A Polícia Civil relatou alguns registros em que o veículo circulou em alta velocidade, com hora e local:
01h32 – av. Presidente Vargas, próximo ao n.º 3069 – velocidade 113 km/h;
01h52 – av. Maurílio Biagi, próximo ao n.º 4424 – velocidade 131 km/h;
02h06 – av. Brasil, próximo ao n.º 3073 – velocidade 131 km/h;
02h08 – Rodovia Anhanguera – velocidade 165 km/h;
03h19 – Rodovia Anhanguera – velocidade 183 km/h;
03h57 – av. Brasil, próximo ao n.º 1033 – velocidade 133 km/h;
04h29 – rua Florêncio de Abreu, próximo ao n.º 780 – velocidade 72 km/h;
04h30 – av. do Café, n.º 94 – velocidade 66 km/h (possível momento do acidente).
“Já muito próximo ao local do acidente, poucos segundos antes de acontecer o acidente, cerca de cento e poucos metros do local do acidente, obtivemos duas câmeras de segurança que trazem imagens do motorista, uma delas evidenciando que ele tinha vestimentas de cor clara, compatíveis com a vestimenta utilizada pelo vereador Roger, e a segunda câmera capta imagens do passageiro do veículo poucos segundos antes do acidente. E fica muito claro, nessa imagem, que o passageiro do veículo fazia uso de uma vestimenta preta que encobria o braço e as mãos estavam expostas. Além disso, a parte de baixo da perna, do joelho para baixo, também estava exposta, sem cobertura de roupa. E o restante da roupa, de cor escura, compatível com os trajes de Isabela e não compatível, totalmente diferente, dos trajes do Roger. Já nesse local, exclui qualquer possibilidade de que fosse o Roger o passageiro e a Isabela a motorista do veículo”, aponta Alves.
As imagens foram encaminhadas para exame pericial, que comprovam ser Bigodini o condutor e Isabela a passageira do veículo. Diante dos fatos, tanto Bigodini quanto Isabela serão indiciados por crimes.
“O Roger responderá pelo crime de embriaguez ao volante, falsidade ideológica e fraude processual. A Isabela está sendo indiciada pelos crimes de falsidade ideológica, fraude processual e autoacusação. Os dois vão responder em liberdade”, explicou o delegado. Somadas, as penas de Bigodini podem chegar a 10 anos de prisão.

Policiais Militares deram novo depoimento, onde enfatizaram, segundo Alves, que o vereador estava visivelmente embriagado e refizeram a divergência inicial. O delegado também encaminhou para a Polícia Militar para apurar se a conduta dos PMs foi correta e submeter se podem ou não ser punidos pelo regimento, uma vez que teriam mudado o depoimento.
A reportagem tentou contato com a defesa de Bigodini e Isabela, com o gabinete do vereador e com a assessoria do MDB, partido de Bigodini, mas não recebeu retorno.
Em nota, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Municipal de Ribeirão Preto informou que aguarda o recebimento oficial do inquérito policial referente ao vereador Bigodini, conforme previamente comunicado pela Polícia Civil durante a tramitação das investigações.
“Assim que o material for encaminhado, o Conselho fará a análise técnica e jurídica dos autos. Caso o inquérito não seja formalmente remetido até a próxima reunião do Conselho, será deliberado o encaminhamento de ofício à Polícia Civil, solicitando acesso integral aos documentos para conhecimento e eventual deliberação”, informa a nota.
Entenda o caso
O acidente envolvendo o Chevrolet Tracker cinza alugado por Bigodini ocorreu na madrugada de domingo, 28 de setembro. O carro, de acordo com o boletim de ocorrência (BO), era conduzido pela assistente social Isabela de Cássia Andrade Faria, de 29 anos, namorada do vereador Bigodini.
De acordo com o BO, o barbeiro e influenciador digital estaria como passageiro do veículo que ele próprio havia alugado. O acidente ocorreu por volta de 4h35 na avenida do Café, na altura do número 120. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), os dois se recusaram a fazer o teste do bafômetro.

No BO, consta que a Polícia Militar foi acionada e encontrou Bigodini e Isabela de Cássia ao lado do carro, cerca de 200 metros à frente do local do acidente, próximo ao número 300 da avenida, depois de derrubar uma árvore e bater em um poste de iluminação.
A namorada de Bigodini, que não tem Carteira Nacional de Habilitação (CNH), afirmou que ela estava dirigindo o veículo. No BO, consta que ela não apresentava sinais de embriaguez. Os dois foram levados para a Central de Polícia Judiciária (CPJ), onde a ocorrência foi registrada.
A condutora deve responder pelo crime de dirigir sem habilitação ou permissão e ainda será investigada em inquérito por autoacusação falsa. Já o vereador vai responder por entregar a direção do veículo automotor a pessoa não habilitada. Há uma contradição nos boletins de ocorrência elaborados pela Polícia Militar, que atendeu à ocorrência, e da Polícia Civil, responsável pela investigação.
A PM diz que Bigodini apresentava sinais de embriaguez – troca de palavras, odor etílico, fala pastosa, falta de equilíbrio –, e o outro não faz menção ao consumo de bebida alcoólica. O inquérito vai apurar embriaguez ao volante e se o parlamentar alterou a cena do crime, além das irregularidades já citadas. O casal se recusou a fazer o teste do bafômetro.

No BO, não consta nada sobre o estado de embriaguez do casal. Já no relatório da PM, consta que Bigodini apresentava sinais de embriaguez, mas sua namorada não. E reforça que ambos se recusaram a fazer o teste do bafômetro.
Vídeos
Ainda no domingo, dia do acidente, vários vídeos começaram a circular nas redes sociais. Num deles, no momento da colisão, aparece uma pessoa com camiseta branca no volante da Tracker. A namorada de Bigodini vestia blusa preta. Já o vereador usava uma camisa branca.
Em outro, mostra a namorada de Bigodini entregando uma garrafa de uísque para um homem. Ele sai com a garrafa do local, enquanto os PMs registram o acidente.
Em nota postada nas redes sociais, Bigodini diz: “Não vamos transformar um acidente de trânsito em um tribunal de exceção. Eu sigo firme. Não por orgulho, mas por respeito às 5.077 pessoas que acreditaram e ainda acreditam no meu trabalho por Ribeirão Preto. Essa tempestade vai passar”.
(Matéria atualizada às 12h01)

