Tribuna Ribeirão
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Psicologia da vida cotidiana (1): Futebol e felicidade

José Aparecido Da Silva*

 

Futebol, esporte que a muitos fascina, é, ao lado dos Jogos Olímpicos, um dos maiores eventos esportivos do mundo. Tal característica já seria suficiente para despertar interesse de economistas e psicólogos por estes jogos, mas, cientificamente, outras são as causas mais importantes. A intervenção governamental no esporte é substancial porque governantes entendem que ele traz amplos benefícios político-sociais. Argumenta-se que, promovendo atividades físicas, promovem, também, benefícios à saúde. Nos últimos anos, a ocorrência de debates, entre economistas e empreendedores, tem promovido a discussão de alegados benefícios econômicos por eles gerados em grandes eventos. Um balanço destas evidências aponta para a conclusão de que tais benefícios são negligenciáveis ou não existentes.

Estudos analisando tanto o impacto econômico, quanto o aumento dos registros de felicidade, ou bem-estar subjetivo, entre os cidadãos da nação que sedia grandes eventos esportivos, afirmam que investimentos públicos produzirão benefícios econômicos líquidos, do tipo Keynesiano e, também, efeitos multiplicadores. Neste contexto, quatro fatores têm sido considerados: (a) Emprego e salários, (b) Estádios esportivos e seus legados, (c) Turismo e (d) Investimentos em infraestrutura e reurbanização. Análises geradas de diferentes modelos econométricos dão suporte limitado à ideia de que sediar grandes eventos esportivos produz aumentos significativos nas atividades econômicas. Mesmo que alguns benefícios possam ser reconhecidos, poder-se-ia ainda considerar que os limitados recursos públicos deveriam ser usados para financiar hospitais e escolas, gerando empregos, enriquecendo o bem-estar e o capital humano, e, potencialmente, aumentando a produtividade.

Quando considerando dados sobre os indicadores de felicidade, nos países europeus nos últimos 30 anos e, especificamente, o sucesso dos times nacionais, nas olimpíadas de verão e nos grandes campeonatos de futebol, tem-se que: Copa do Mundo (FIFA) e Campeonatos Europeus (UEFA), em variadas análises, revelaram que o sucesso dos atletas nacionais tem pouco efeito sobre o bem estar dos cidadãos; mas, o fato de sediar significativos eventos esportivos, em particular grandes campeonatos de futebol, é associado com um aumento na satisfação com a vida registrada no período após estes eventos. Não é ganhar um evento, mas sediá-lo, que cria o fator de “sentir-se bem”. Logo, uma melhor justificativa para despender recursos públicos nestes eventos seria afirmar que, embora estes não nos façam mais ricos, tornam-nos, é certo, mais felizes.

 

Professor Titular Sênior USP-Ribeirão Preto*

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