Tribuna Ribeirão
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Psicologia da vida cotidiana (12): A educação que se avizinha

José Aparecido Da Silva*

 

A tecnologia amplamente entendida tem transformado a vida humana. A mecanização da agricultura transformou nosso mercado de trabalho na primeira metade do século XX, mas num ritmo bem inferior. E, enquanto ferramenta essencial, pode sofrer mudanças extremas que, em poucos anos, gerará um impacto extremamente profundo. Muitos estudiosos afirmam que as novas tecnologias, incluindo aqui a Inteligência Artificial (IA) e a SuperInteligência (SI), combinadas com as tendências demográficas, políticas e econômicas, já têm alterado nossas vidas social e profissionalmente, assim como, terão consequências significativas para nossos jovens. Vejam, por exemplo, o aumento vertiginoso dos transtornos de ansiedade e outras consequências na saúde mental. Estas tendências têm levado educadores a arguirem que o currículo tradicional já não é mais suficiente e que as escolas devem fornecer aos estudantes um conjunto mais amplo de habilidades para serem bem-sucedidos pessoal e coletivamente, para que eles possam enfrentar um mundo rapidamente envolvente e tecnologicamente saturado.

Mas quais seriam estas habilidades ou atributos? Habilidades sociais, habilidades para a vida, competências, habilidades interpessoais, habilidades no trabalho, habilidades não-cognitivas, habilidades emocionais, e mais e mais habilidades. Com o mundo mudando de modo impactante, novas demandas das habilidades para a vida e para o trabalho são necessárias num futuro próximo. Dentre essas, as mais importantes certamente são a automação, a globalização, as mudanças no ambiente de trabalho e políticas públicas aumentando a responsabilidade pessoal. Automação: entendida como o controle que computadores, e maquinário controlado por estes, poderão exercer sobre o trabalho humano. Atualmente, computadores vêm se tornando hábeis em realizar ampla variedade de trabalhos relacionados à atividade de pensar, os quais, anteriormente, eram exclusivamente desempenhados por humanos. Neste contexto, quanto mais rotineiro for o trabalho, maior será sua chance de ser automatizado. Assim, tarefas não rotineiras, que não podem ser automatizadas, como, por exemplo, a habilidade para solucionar problemas inesperados e para comunicar-se com complexidade, envolvendo interações com outras pessoas para adquirir informação, explicando-a, ou persuadindo outros de sua importância, serão habilidades que no futuro serão extremamente bem remuneradas.

Globalização: entendida como a quebra intelectual, social e econômica das barreiras entre nações, não é independente da mudança tecnológica. Os avanços na tecnologia digital e nas telecomunicações têm atuado como niveladores do campo de jogo. De modo que, nenhum trabalhador tem tido, atualmente, a vantagem de jogar no seu próprio campo, pois enfrentam trabalhadores habilitados e bem remunerados em qualquer nação do mundo. As distâncias geográficas estão se tornando progressivamente irrelevantes, pois pessoas de diferentes lugares podem colaborar com muitas outras pessoas militando em diferentes tipos de trabalho e compartilhando muitos tipos diferentes de conhecimento. Assim considerando, torna-se muito fácil criar equipes de trabalho compostas de pessoas dos quatro continentes e, analogamente, equipes de trabalho compostas de pessoas de inúmeras divisões de uma mesma empresa localizada numa mesma cidade.

Mudanças no ambiente de trabalho: instituições têm alterado, dramaticamente, nos últimos 10 anos em termos de como o trabalho pode ser organizado. No passado, muitas empresas tinham grandes hierarquias e seus estilos de liderança eram verticalizados de cima para baixo, com empregados extremamente especializados em suas funções. Hoje, porém, as grandes organizações têm se horizontalizado, muitos ambientes de trabalho têm sido virtuais e nós humanos temos sido eficientemente substituídos. Em reposta à mudança tecnológica, globalização e outras forças competitivas, as empresas, como um todo, têm, radicalmente, reestruturado como o trabalho se realiza e como os empregos são definidos e desempenhados. Como consequência disso há menos hierarquia e supervisão, mais autonomia e responsabilidade, mais colaboração, menos previsibilidade e estabilidade.

Políticas públicas aumentando a responsabilidade pessoal: atualmente, as empresas estão recrutando empregados desejosos de aprender, e de serem recompensados com melhores salários, por aprenderem novas habilidades, principalmente aprender as novas habilidades que as organizações necessitam a fim de competir efetivamente. Devido às políticas governamentais, e mudanças corporativas, indivíduos assumem um maior risco e uma maior responsabilidade por seu bem-estar pessoal, bem como, cuidam mais intensamente de seu próprio planejamento financeiro e cuidado com a saúde. Também, mudanças demográficas estão ocorrendo devido à população estar se tornando mais velha e mais diversa. O que nos leva a verificar que, nos próximos anos, pessoas mais velhas ainda estarão atuantes no mercado de trabalho, de forma que nossas escolas deverão ser hábeis em preparar nossos estudantes para que estes venham a colaborar com empregos diversificados e funcionais numa sociedade diferenciada.

Professor Titular Sênior da USP-RP*

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