José Aparecido Da Silva
O fato de os trabalhadores mais brilhantes obterem melhores empregos não significa necessariamente que os melhores empregos requerem mais cérebro. Muitos empregadores podem simplesmente preferir, mas, não realmente necessitam trabalhadores mais brilhantes e podem selecioná-los, dentre outras razões, simplesmente pelo maior status que uma elite deles confere ao empregador. Mas, vejamos a questão: Um nível de trabalho mais elevado realmente requer maior poder cerebral para realizá-lo? Ora, é fácil imaginar e constatar que os empregos, analogamente aos testes mentais, são coleções dirigidas de tarefas individuais que exigem desempenhos habilitados. Tais como os testes mentais, os variados empregos com suas diferentes origens e demandas de tarefas, requerem diferentes dimensões, diferentes características, diferentes atributos, ou mesmo, diferentes aptidões para serem efetuados. Contudo, uma análise profunda e criteriosa das demandas dos empregos parece revelar que o fator (ou dimensão) complexidade da tarefa, que coincide com a hierarquia do prestígio ocupacional, constitui o fator mais preponderante.
Há uma estreita relação entre o fator complexidade que está subjacente à estrutura hierárquica das ocupações e aquele nomeado inteligência geral (QI), principal fator que emerge da estrutura das habilidades mentais humanas. Categoricamente, a dimensão dominante das demandas dos diferentes empregos é a complexidade total de cada um deles. O atributo que está por trás dessa dimensão é a capacidade para usar muitas fontes de informação, para processar essas informações, para tomar decisões e comunicar esses julgamentos. Embora outras dimensões possam ser reveladas, tais como as habilidades especiais (por exemplo: habilidades espaciais, verbais) e os interesses manifestados (por exemplo: pessoas versus objetos), as ocupações parecem ser distinguidas primariamente pela complexidade em processar informação, isto é, um fator que usualmente satura os testes de QI. Dito de outra forma, as demandas de processamento de informação que estão mais altamente correlacionadas com o fator complexidade envolvem compilar, combinar e analisar informação e, consequentemente, raciocínio.
Certamente, as demandas de processamento de informação diferem no grau em que elas se correlacionam com o fator complexidade do emprego, mas essa variação é uma função da complexidade dos processos que elas representam: os processos de informação mais complexos (por exemplo: compilar, combinar e analisar informação) correlacionam-se mais fortemente com a complexidade total do emprego do que aqueles mais simples (por exemplo: transcrever informação e mantê-la na memória em curto-prazo). Assim, não é gratuito afirmar que inteligência é mais bem descrita em termos de solução de problemas, e que a maioria dos atributos dos diferentes empregos associados com o fator complexidade da tarefa é, na realidade, formas variadas de solução de problemas. Por exemplo, exigências requerendo orientação, planejamento, tomada de decisão, persuasão e instrução, correlacionam-se altamente com o fator complexidade da tarefa. Portanto, a inteligência geral (ou ‘g’) nos capacita a lidar melhor e mais eficientemente com estas complexidades da vida.
Finalmente, talvez, nunca é demais repetir que alta inteligência geral, nem sempre é garantia de sucesso e baixa inteligência geral não é garantia de insucessos ou de amargos fracassos. Inteligência geral alta é uma vantagem. Ou, melhor dizendo, inteligência geral alta é uma moeda que pode ser usada não apenas na escola, mas também em nossa sociedade, em nosso cotidiano, em nossa vida real; e tal como dinheiro, é melhor ter mais do que menos.
Professor Titular Sênior da USP-RP*


