A inteligência geral (g), dita explicar a maioria das diferenças entre indivíduos no desempenho em testes mentais, independe de qual habilidade específica um teste avalia, de seu conteúdo manifesto (se palavras, letras, números, formas, blocos ou figuras), como, se o teste é administrado oral ou de forma escrita, individual ou em grupo. Neste contexto, o fator ‘g’ pode ser extraído dos escores de qualquer teste que compõe tal bateria de testes, caracterizando todos os grupos demográficos estudados. Também, idênticos fatores ‘g’ têm sido extraídos das mais variadas baterias de testes mentais e independentemente de quais análises estatísticas têm sido usadas, e a despeito da idade, sexo ou grupo étnico dos examinandos. Ou seja, o mesmo ‘g’ é revelado por testes que requerem muito conhecimento cultural, bem como, por aqueles que não exigem conhecimento algum. Este fenômeno é denominado indiferença do indicador.
Geralmente, os testes mentais medem aptidões específicas além de ‘g’ (digamos, habilidade verbal ou espacial), mas ‘g’ é a espinha dorsal de todos os testes mentais. Tentativas para criarem testes mentais úteis, mas que não medem ‘g’ (por exemplo, testes de aptidão verbal que não reflitam ‘g’), não têm sido bem-sucedidas. O princípio da indiferença do indicador está indubitavelmente correto, pois todos os testes cognitivos são veículos de ‘g’, quaisquer que sejam as outras fontes de variância que estes possam ter; e tem sido provado impossível construir um teste de habilidade mental que não esteja, em certo grau, saturado de ‘g’.
A robustez, a replicabilidade e a generalidade de ‘g’ tornam-no um dos fenômenos mais marcantes da psicologia moderna. Nas últimas décadas, incontáveis análises estatísticas efetuadas com mais de 120 diferentes testes de inteligência e de aptidão escolástica têm, sem exceção, revelado que um e sempre o mesmo fator ‘g’ é o componente fundamental em todas as medidas de habilidades cognitivas complexas, das quais várias, quando agrupadas, constituem os testes que são rotulados como inteligência (QI), aptidão geral, aptidão escolástica, aptidão vocacional, potencial para aprendizagem, aptidões diferenciais, habilidades cognitivas e bateria de avaliação. Os escores totais em todos esses testes dificilmente diferem muito em sua saturação de ‘g’ e, certamente, por essa razão todos tipicamente ordenam as pessoas do mesmo modo, apesar de eles serem extremamente diferentes na forma com que carregam a informação como no conteúdo e no tipo de resposta requerido.
Como cada teste mental é “contaminado” pelos efeitos da habilidade mental específica que ele próprio mensura, nenhum simples teste mede apenas ‘g’. Mesmo os escores de testes de QI, os quais, usualmente, combinam os escores de quase uma dúzia de testes de habilidades cognitivas específicas, contêm algumas “impurezas” que refletem habilidades mais estritas. Essas impurezas não fazem qualquer diferença prática, e ‘g’ e QI podem ser usados indistintamente. Os pesquisadores da inteligência podem estatisticamente separar o componente ‘g’ do QI., e isolar ‘g’ tem revolucionado a pesquisa em inteligência geral, permitindo revelar que o valor preditivo dos testes se deve inteiramente a este fator global, mas do que às aptidões específicas, mensuradas pelos testes de inteligência, refletidas nos escores compostos de QI.
A generalidade da inteligência torna-se menos clara quando os pesquisadores se baseiam no QI como a definição funcional de inteligência. A razão é exatamente porque todos os testes de QI são medidas imperfeitas de ‘g’ e cada um deles frequentemente captura uma fragrância de alguma habilidade especializada ou mesmo de conhecimento, em adição a ‘g’. Tentativas para entender inteligência partindo dos escores de QI têm sido similares àquelas dos químicos decompondo as propriedades de um elemento químico qualquer, nas quais amostras impuras em diferentes graus e com diferentes aditivos são analisadas. Contrastando, o fator ‘g’ é um fenômeno estável, replicável e ao estudarem ‘g’, os pesquisadores estão confidentes que estão capturando a mesma coisa, mesmo quando os “g(s)” foram extraídos de diferentes conjuntos de testes. O aspecto mais importante, é que ‘g’ tem uma vantagem em relação ao QI por não se confundir com os atributos ou conteúdos de qualquer teste particular, pois é extraído a partir de algum, variado e misto, conjunto deles. Portanto, devemos olhar mais abaixo da superfície das características dos testes de QI, ou seja, ao ‘g’, para explicar o âmago dos fenômenos que os testes medem.
A existência de ‘g’ pode ser camuflada pela testagem inapropriada (por exemplo, quando alguns examinandos não conhecem bem a linguagem) e por uma amostra restrita (quando todos os examinandos são similares em inteligência). Quando se manifesta, o fator ‘g’ mostra-se transcender cultura e conteúdo particulares. Isto não implica que a cultura não possa afetar o desenvolvimento de ‘g’, ou sua significância social, mas apenas que a cultura não determina sua natureza fundamental. Na realidade, a natureza de ‘g’ parece ser surpreendentemente independente da cultura. Você decide.




