Antonio Carlos A. Gama *
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Oscar Wilde, além de um grande escritor era um frasista extraordinário, e, contrariando o dito popular do título acima, dizia que “só os tolos não julgam pela aparência”. Logo ele que teve a vida destruída pela audácia de não esconder sua homossexualidade numa Inglaterra vitoriana.
Nestes nossos tempos em que parecer politicamente correto é mais importante do que o ser de fato, a frase jocosa de Wilde seria fulminada pelos raios furibundos dos patrulheiros de plantão.
Em meados do século XIX, na onda da Escola Positivista, pretendeu-se dar foros de cientificidade a uma antropologia criminal baseada nas características anatômicas do indivíduo, como o formato do crânio e da cabeleira; fisiológicas, como tolerância à dor, ambidestreza; e psicológicas, como gosto por tatuagens, uso de gírias, frieza; para assim estabelecer o padrão do criminoso nato. O vulto mais conhecido dessa corrente ― felizmente varrida para o lixo da história ― é o italiano Cesare Lombroso, autor da célebre obra O homem delinquente.
Muitos dos nossos jovens de hoje, com suas tatuagens e piercings, seu linguajar próprio, seu modo de vestir, estariam enquadrados inapelavelmente no tipo lombrosiano.
É óbvio que julgar apenas pela aparência é uma forma de preconceito, que deve ser evitada, como todos os preconceitos devem ser evitados. Todavia, não se pode negar que nosso juízo inicial sobre pessoas e coisas é sempre pela aparência, favorável ou desfavorável, de acordo com nossa índole.
Como nos sentimos atraídos por uma pessoa com que cruzamos na rua e poderá, ou não, se tornar um grande amor? Como nos aproximamos de alguém que virá a ser, ou não, um bom amigo? Como nos interessamos por uma roupa, um quadro, um livro, um objeto qualquer que vemos pela primeira vez?
Trata-se, é claro, de um juízo provisório, ao qual não devemos ficar limitados, tampouco dar o caráter de definitivo ou científico, mas que, de outra parte, muitas vezes se confirma.
Digo isso a pensar na aparência absolutamente ridícula de grandes déspotas, que causaram um mal imenso ao seu povo e à humanidade, e me indago como os seus contemporâneos, em especial aqueles que os alçaram ao poder, não vislumbraram isso?
Hitler, com seu inefável bigodinho e seu gestual chapliniano, tão bem retratos no filme do próprio Charles Chaplin, “O Grande Ditador”; Mussolini, com suas caras e bocas patéticas; Stalin, com seu bigodão e postura hierática(quem diria que o nosso doce Jorge Amado chegou a escrever poema para o bigode de Stálin?); o Comandante Fidel, não aquele jovem sonhador e barbudo que desceu de Sierra Maestra, mas o ditador carcomido, com a mesma barba e a mesma farda, que se tornou; os fanfarrões Chaves e seu sucessor Maduro com seu bolivarismo de fancaria, que se eterniza no comando supremo do seu país; o nosso Jânio Quadros, também chapliniano, Fernando Collor com seus rompantes de “caçador de marajás, atualmente preso por corrupção e enriquecimento ilícito e, “last but not least”, o laranjão Trump, que se acha imperador do mundo e não de um decadente império americano e muitos outros mais.
* Promotor de Justiça aposentado, advogado, professor de Direito e escritor