Tribuna Ribeirão
DestaquePolícia

Segurança: Comandante da PM quer ampliar parceria com população

No comando do CPI-3, o coronel Rodrigo Quintino aposta na tecnologia e na proximidade com a população para aprimorar serviços

Por: Adalberto Luque – Fotos: Alfredo Risk

O ribeirão-pretano Rodrigo Quintino está à frente do Comando de Policiamento do Interior (CPI-3) desde 22 de agosto. Aos 52 anos, o coronel Quintino chega ao comando que coordena as atividades da PM em 93 cidades da região com o objetivo de manter a tendência de queda nos índices de criminalidade. “Ainda há espaço para baixarmos mais os indicadores”, garante.

Ele vai coordenar um efetivo superior a 3,5 mil policiais militares. Estão distribuídos em oito batalhões, cinco deles com sedes em cidades da região: Araraquara, Franca, Barretos, São Carlos e Sertãozinho. Dos outros três restantes, um atende todas as cidades da região em ações intensivas. Trata-se do 11º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep). Os outros dois têm sede em Ribeirão Preto e atendem cidades da região: 3º Batalhão de Caçadores e 51º BPM/I.

Com 33 anos de Polícia Militar, passou pelo policiamento no Centro da Capital, Corpo de Bombeiros, Casa Militar e teve passagens na região, como comandante do 3º Batalhão de Caçadores e do 9º Grupamento de Bombeiros, ambos com sede em Ribeirão Preto.

Seu último posto foi chefiar o Escritório de Representação Institucional da PM em Brasília (DF). Em entrevista ao Tribuna Ribeirão, Coronel Quintino fez sua avaliação do CPI-3 e revelou seus planos e forma de trabalho. Confira a entrevista, feita por tópicos.

 Letalidade policial

Coronel Rodrigo Quintino: A letalidade policial é muito preocupante, não só aqui na região, mas para toda a Polícia Militar. Hoje, a letalidade policial é um dos indicadores que resvalam até na imagem institucional. A Polícia Militar, historicamente e constitucionalmente, tem como missão a preservação da ordem pública por meio do policiamento ostensivo, preventivo e fardado.

A missão precípua é ter a viatura nas ruas, sinalizada, com sinais sonoros e luminosos ligados, para prevenir o crime de forma geral. Em situações pontuais, entretanto, é necessário agir.

No caso de flagrante delito ou no cumprimento de algum mandado judicial, em apoio a outros órgãos – a Polícia Civil, ao Ministério Público [pode ocorrer]. Mas, sem dúvida, a letalidade policial é preocupante. Hoje, no Estado de São Paulo, os indicadores de letalidade policial são os melhores do país.

Acredito que nunca, em nossa história, tivemos números tão positivos, especialmente na nossa região. E isso, para mim que estou chegando, aumenta a responsabilidade de manter e até melhorar esses indicadores.

Obviamente que o policial em serviço se expõe ao risco e, muitas vezes, no trabalho preventivo, surgem situações conflitantes que exigem intervenção. Às vezes, o resultado não é o desejado, mas são circunstâncias que fazem parte do dia a dia.

O importante é ressaltar que o policial está preparado para esse tipo de situação. Em geral, estão muito bem treinados, especialmente as tropas especializadas. A formação é bem completa e bem rica.

Todo início de serviço inclui um período de preleção, em que esses assuntos são, por diversas vezes, discutidos. A preservação da vida vem antes de qualquer outra questão quando se fala em segurança pública.

Refém em Monte Alto

Coronel Quintino: Participei ativamente dessa ocorrência. Obviamente não no local, mas acompanhei desde o início, e, durante todo o tempo, a preocupação foi preservar a vida da pessoa e a vida dos policiais, principalmente. Então, comecei falando com as equipes que estavam no local. Conversei com a tenente e disse: “Não tome nenhuma atitude precipitada, mantenha o cerco, mantenha a negociação.”

Essa foi uma ocorrência que exigiu resiliência, tanto por parte das pessoas envolvidas nessa circunstância, que foi terrível – o pai com bebê de colo, ameaçando tirar a vida da criança e a dele próprio. Mas nós escalonamos a ação policial estritamente dentro do protocolo.

Não abrimos mão disso em meu comando. Atuamos, como mencionado, com as equipes do local. Em seguida, chegaram as equipes especializadas disponíveis em nossa região.

Dentro do protocolo estabelecido pela polícia, acionamos o Grupamento de Ações Táticas Especiais [GATE] de São Paulo. O Estado reforçou esse apoio, mobilizando rapidamente a equipe, que chegou ao local e obteve pleno êxito na resolução positiva dessa ocorrência. Esse é um exemplo clássico da atuação esperada da Polícia Militar em nossa região.

Índices de criminalidade

Coronel Quintino: A nossa região, de uma forma geral, apresenta indicadores muito positivos em comparação com outras regiões do Estado. Ainda assim, há espaço para melhorar e vamos melhorar.

Os crimes que hoje mais nos incomodam, e sobre os quais temos gerência direta, são, por exemplo, o tráfico de drogas, furtos e roubos em geral – como furto de veículos e roubo de veículos. E um tipo de crime que tem apresentado crescimento. Não temos, ainda, uma avaliação precisa, mas os casos de estupro e a violência contra a mulher são prioridades do nosso comando.

São crimes que, muitas vezes, acontecem dentro das casas das pessoas. A polícia nem sempre tem gerência direta na prevenção, mas existe um trabalho social que possibilita que as vítimas denunciem, dando visibilidade a esse tipo de situação. E isso não se restringe apenas à violência física, mas psicológica e econômica – quando a mulher se dedica ao cuidado da casa e dos filhos e, ainda assim, é tratada de forma brutal pelo marido. Isso não pode ser admitido.

Na nossa região, temos recebido todo o amparo e apoio do governador Tarcísio [de Freiras], que tem um olhar diferenciado para cá. O secretário de Segurança, Guilherme Derrite, tem realizado um trabalho excepcional à frente da Secretaria de Segurança Pública. E nós, como comandantes regionais, contamos com segurança e respaldo para continuar desempenhando esse trabalho da melhor forma possível.

Violência de gênero

Coronel Quintino: Uma das primeiras definições que nós, aqui no comando, estabelecemos, exigiu alguns ajustes. Reforçamos as equipes do Núcleo de Mediação Comunitária existente no comando regional, no CPI-3.

Um dos objetivos desse Núcleo de Mediação Comunitária é dar suporte à Justiça, mediando pequenos conflitos que podem chegar à Polícia Militar, como, por exemplo, perturbação do sossego e brigas entre vizinhos. Entre os problemas recorrentes está a violência contra a mulher.

Por isso, fizemos questão de reforçar a equipe, para que tenha disponibilidade de realizar um trabalho preventivo, especialmente nos casos mais graves, quando há, por exemplo, medidas protetivas implementadas pela Justiça. Nesses casos, passamos a realizar visitas periódicas.

Conversando com o comandante Edson [Ferreira da Silva], da Guarda Civil Metropolitana [de Ribeirão Preto], e com o prefeito Ricardo [Silva de Ribeirão Preto], durante o evento de 7 de Setembro, destaquei a necessidade premente de atuarmos de forma integrada, visando à proteção das pessoas mais vulneráveis: mulheres, crianças e idosos. De imediato, o prefeito sinalizou a disposição de cooperar, não apenas para trabalharmos em conjunto, mas também para utilizarmos a tecnologia como ferramenta de apoio. Hoje, temos recursos tecnológicos capazes de monitorar medidas protetivas.

Um grande exemplo que temos, nascido no Batalhão de Sertãozinho e atualmente expandido para quase todo o Estado, é o Projeto Vida. Nele, são cadastradas as medidas protetivas, que passam a ser acompanhadas e fiscalizadas pelos policiais em patrulhamento ordinário, em apoio à Justiça. Trata-se de um trabalho preventivo de grande importância, realizado para evitar que as situações resultem em consequências mais graves.

Essas medidas são cadastradas e, se porventura aquela medida protetiva é descumprida ou se a pessoa se sente ameaçada, ela aperta o botão do pânico e já aciona automaticamente nosso Copom, nossa Central de Operações. O botão funciona no celular da vítima. E o resultado tem sido muito positivo, muito positivo.

O que precisamos agora é amadurecer ainda mais estes aplicativos. Hoje já existem aplicativos disponíveis onde, após decretada, implementada a medida protetiva, a gente cadastra o celular do agressor e cadastra o celular da vítima.

Se a medida não permite se aproximar, vamos supor, um raio de 200 metros da pessoa, por proximidade o próprio celular já notifica a nossa Central de Operações. São ferramentas essenciais para que melhoremos a qualidade e a assertividade do nosso policiamento preventivo.

Novas tecnologias

Coronel Quintino: O Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Segurança Pública, implementou um programa que tem colhido resultados extraordinários. O programa se chama Muralha Paulista.

Ainda não chegou a todos os municípios do Estado, mas caminharemos para que, em nossa região, todos os 93 municípios sejam signatários do convênio para a implementação do Muralha Paulista.

O município, em parceria com a Secretaria de Segurança Pública, investe na melhoria do sistema de câmeras da cidade. Essas câmeras realizam leitura de placas e de faces. Esse banco de dados se conecta com a base criminal existente no Estado e no país, pois o Muralha Paulista está integrado a outras bases além das estaduais, como o Conselho Nacional de Justiça, a Polícia Rodoviária Federal e o próprio Ministério da Justiça.

Esse sistema aprimora a produção de conhecimento sobre como o crime atua e se organiza nos municípios. Essa será uma das prioridades do nosso comando. Tive reunião com promotores do Gaeco [Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado], reforçando essa parceria no combate, especialmente, ao crime organizado.

Determinarei às agências de inteligência dos batalhões que atuem de forma mais produtiva. Entendo que é isso que a população espera da Polícia Militar, e é isso que faremos. Por mais que nossos números sejam favoráveis, penso que, como comandante, nunca posso estar satisfeito.

Devemos sempre buscar a melhoria. Integração é uma palavra-chave. Tecnologia é outra. As operações são sempre conjuntas. A Polícia Militar precisa atuar em parceria com a Polícia Civil, com o Ministério Público, com o Instituto de Criminalística, eventualmente com a Polícia Federal e com as guardas municipais.

Sensação de segurança

Coronel Quintino: Conversamos com as pessoas. Por ser ribeirão-pretano, com a família toda aqui, mantenho contato com amigos e familiares. A sensação que tenho é de que a segurança na nossa região melhorou muito nos últimos anos. Penso que o meu grande desafio é continuar melhorando.

Não é uma tarefa fácil, mas acredito fortemente que esse trabalho integrado é fundamental para o sucesso do processo como um todo. Muitas vezes, a população olha para o poder público esperando que ele resolva todos os problemas.

Costumo dizer que, na segurança pública, é necessária a participação da população, especialmente da sociedade civil organizada, para que possamos estar mais próximos da comunidade.

Há muito tempo, a Polícia Militar, como instituição, trabalhava de forma isolada. Hoje – já há vários anos – a corporação incorporou a filosofia do policiamento comunitário, da proteção aos direitos humanos e da preservação da vida. São pilares institucionais cada vez mais arraigados no policial.

Relação com a Polícia Civil

Coronel Quintino: Aqui, na Polícia Civil, eu tenho grandes amigos de longa data. O dr. Jorge [Amaro Cury Neto, diretor do Deinter-3], assim que saiu a publicação da minha nomeação, já me ligou. Tivemos uma conversa extensa e estou em dívida com ele, pois prometi uma visita. O Dr. Jorge é uma pessoa incrível, um profissional exemplar, que tem feito um trabalho notável na região.

Quando comandei o 3º Batalhão, em Ribeirão, já havia uma relação muito próxima com a Polícia Civil, com o dr. [Sebastião Vicente] Picinato, que também é uma pessoa admirável e continua como delegado Seccional. Penso que as oportunidades são ainda melhores para estreitarmos essa relação, que sempre foi muito positiva.

Nossa região sempre foi exemplo dessa integração. Existem, sem dúvida, pontos de melhoria. Em conversa com o dr. Jorge, ele destacou os avanços da Polícia Civil, entre eles a Delegacia da Mulher, que passou a funcionar de forma permanente, com plantão 24 horas, um baita gol de placa.

Ele também manifestou a intenção de implementar as audiências remotas, o que facilitaria bastante o processo, especialmente nas ocorrências em flagrante, reduzindo o tempo de permanência do policial militar na apresentação de ocorrências nos distritos policiais.

Efetivo

Coronel Quintino: O CPI-3 é uma região extremamente privilegiada, pois apresenta uma das menores defasagens percentuais de efetivo da Polícia Militar. Apesar de o efetivo fixado ser de cerca de 4.000 policiais, o efetivo existente é de mais de 3.500.

O efetivo atual atende às demandas, mas, de forma geral, o governo do Estado tem realizado um trabalho significativo no sentido de repor e ampliar a disponibilidade de policiais, não apenas por meio da contratação direta de novos servidores, mas também com programas que desoneram os policiais que atuam em funções administrativas, possibilitando que sejam direcionados para o policiamento nas ruas.

O primeiro desses programas é o reaproveitamento de veteranos. O edital foi aberto, houve processo seletivo e os primeiros veteranos já se apresentaram em quartéis, especialmente no próprio CPI e em outras unidades, onde passaram a colaborar. Trata-se de uma oportunidade de aproveitar profissionais experientes que se dispuseram a apoiar a administração, liberando outros policiais para o policiamento ordinário.

Essa medida deve resultar em aumento do policiamento nas ruas. Os números ainda são tímidos, mas isso se deve ao fato de ter sido o primeiro edital, o que caracteriza uma fase de aprendizado. Exemplo semelhante já é adotado há anos pelas Forças Armadas. O programa aceita qualquer patente, de soldado a coronel.

Viaturas nas ruas

Coronel Quintino: A população, em geral, gostaria de ter uma viatura parada na porta de casa. Isso é impossível. Penso que qualquer serviço público, por melhor que seja — e considero que a Polícia Militar realiza um trabalho de excelência —, não pode ser onipresente. A estratégia que utilizamos hoje baseia-se na avaliação diária e semanal da aplicação do policiamento territorial.

Imaginem assim: temos o comando regional, o CPI-3, que compreende oito batalhões, localizados em Franca, Sertãozinho, Barretos, São Carlos e Araraquara, entre outros. E o que fazemos? Dentro dos batalhões, na menor unidade de comando territorial — as companhias — os capitães e comandantes realizam, semanalmente, reuniões de análise dos indicadores.

O policiamento é disponibilizado à sociedade nos locais de maior incidência e concentração de crimes. Esse foi o gol de placa do nosso secretário de Segurança Pública ao reforçar essa atuação. Isso fez com que o Estado de São Paulo alcance números impressionantes, quando comparado a outros estados e até a outros países, especialmente na redução de indicadores criminais.

Atualmente conseguimos, com essas avaliações, aplicar o policiamento de forma pontual, nos locais onde ocorrem os maiores problemas. Isso reduz a criminalidade e, principalmente, permite atacar a chamada reincidência criminal.

Infelizmente, há hoje um grande percentual de reincidência criminal. O criminoso que foi preso, cumpriu a dívida dele com a Justiça e, por algum motivo, foi liberado, muitas vezes retorna à prática de delitos. Prendemos novamente, ele é solto, e o ciclo se repete, pois geralmente se trata dos mesmos atores. No Brasil, a reincidência criminal é da ordem de 70%, um número muito preocupante.

Portanto, quando a Polícia Militar direciona o policiamento de forma estratégica e planejada, atacando a reincidência criminal, começamos a obter resultados positivos. Assim, a população realmente se sente segura. Essa será a nossa tarefa e nosso desafio diário na região.

Mensagem

Coronel Quintino: Primeiro, é uma mensagem de agradecimento, no sentido de que estou muito realizado e muito feliz por ter tido a oportunidade de comandar o policiamento em nossa região.

Eu, que sou ribeirão-pretano, nascido e criado aqui, penso que nada melhor do que uma pessoa da terra estar próxima de quem também é da terra e poder prestar um serviço à população da nossa região. A mensagem que deixo para a população é: sejam parceiros da Polícia Militar.

A Polícia Militar é uma instituição de Estado, uma instituição perene, que caminha para seus 200 anos de existência. Isso não é pouco. Com todos os desafios históricos que superamos, os momentos bons e os momentos não tão bons, tenham certeza de que a instituição tem feito e continuará fazendo o melhor para a população de bem. Esse é o meu compromisso, e essa é a mensagem que deixo à nossa população.

Postagens relacionadas

Trânsito mata mais entre motociclistas e jovens do sexo masculino 

Redação 2

Em nome de Deus

Redação 1

Operação da Polícia Civil desmantela laboratório clandestino que refinava cocaína

Redação 1

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com