Rui Flávio Chúfalo Guião *
O biólogo Eduardo Gonçalves participa frequentemente das páginas da revista Natureza, que assino e nos traz sempre enfoques diferentes sobre a natureza, seus mistérios, suas belezas. No último número da revista, informa-nos sobre como as plantas, que não têm mobilidade, fazem para se reproduzir, garantindo a preservação das espécies.
Durante o longo processo de evolução, as plantas terceirizaram o sexo, ou seja, desenvolveram mecanismos de atração de insetos, pássaros e outros seres que as visitam e, com isto, levam o pólen para os ovários de outras da mesma espécie.
Para que isto aconteça, as plantas desenvolvem técnicas de marketing, produzindo flores atrativas, cheias de água e mel. Para se destacarem entre as várias espécies, desenvolveram os perfumes. E para garantir o retorno do polinizador, oferecem o pólen em quantidades restritas. A primavera é a estação onde as flores desenvolvem suas atrações, longamente planejadas no período mais frio do ano. Tomo a liberdade de transcrever trecho do artigo original: “
A polinização das plantas é um fenômeno magnífico. Incapazes de se mover por aí, as plantas desenvolveram um modelo de entrega em que contratam organismos ( quase sempre insetos )para levar o grão de pólen- ou seja, a estrutura que contém o gameta masculino – de uma planta para outra, pagando o serviço em açúcar ou outro recurso bem baratinho.
” Para que a polinização dê certo, é preciso que o organismo escolhido leve o pólen para outra planta da mesma espécie, senão este transporte é perdido. Para isto, as plantas desenvolvem verdadeiras peças de propaganda para atrair os polinizadores, estratégias que podem ser generalistas ou específicas. Assim, as margaridas com suas abundantes florações se preocupam menos, pois a possibilidade de o polinizador visitar as várias flores por perto garante a entrega dos gametas masculinos.
Outras plantas, como algumas espécies de orquídeas raras, desenvolveram sistema de atração dos polinizadores, como perfumes que atraem somente os machos, garantindo a espécie. Algumas plantas têm cores que atraem somente abelhas, outras que atraem somente beija-flores e assim por diante. Já escrevi nesta coluna sobre as plantas cujas flores mudam de cor após ser fecundadas, dando assim um recado ao polinizador e evitando que ele a visite inutilmente e direcionando os gametas masculinos para outro ovário ainda virgem.
Na mesma revista, outro artigo sobre a prímula-da-praia, aquela flor amarela que aparece na região entre a terra e a areia, muito comum nas nossas praias, planta que não pode se dar ao luxo de produzir continuamente pólen e que, ao “escutar” a presença do polinizador, aumenta exponencialmente esta produção.
Outro exemplo de como as flores são habilidosas nas estratégias de preservar a espécie. Termino com outra citação do autor: “A vantagem é que muita gente vai continuar apreciando a primavera sem tomar a menor consciência do que está realmente acontecendo ali.
Pessoalmente, acho ainda mais bonito sabendo que toda a beleza que se vê resultou de uma verdadeira guerra por recursos, e que toda a diversidade de formas e cores é a cristalização de todos os segmentos formados nesse incrível mercado, no qual a principal moeda é … água com açúcar “
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras

