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19 de abril de 2024 | 6:58
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A lição de um liberal – 2

“… existe prova de maior estupidez do que a adesão irracional às lideranças fanáticas” (Afonso Arinos)

Volta-se a Afonso Arinos (in Evolução da Crise Brasileira, 2ª ed. TopbooKs, 2005) que “re­pele invencivelmente toda forma de fanatismo, seja de ideias seja de pessoas. Para mim nada há de tão repugnante quanto o fanatismo e nada de tão insuportável quanto o fanático“ (p.42).

Tal afirmação pode ser assumida para o exame crítico do Brasil de hoje, cinquenta anos depois da antevéspera da ditadura, que representou, como sempre, o avanço do retrocesso. Hoje, tem-se um governo sem plano, como se teve um candidato sem programa, colado aos slogans e à repetição repetida da palavra mito, nova máscara ou sinônimo da mediocridade, que gosta de arma, que quer armar quem a ele interessa armar, beneficiário dos borbotões de noticias falsas.

É de nosso mestre liberal essa assertiva, que se lida sem indicação da fonte, poderia ser creditada a alguém da esquerda, mas é dele (p.73) – “… o fascismo foi sempre isso, e principal­mente isto: o engodo das massas pelas classes dominantes, com o fato de evitar a marcha da democracia, como governo livre e destinado ao bem das maiorias. O Brasil é, mesmo, um dos exemplos mais ilustrativos desse fato”.

E na página 56, ele focaliza a primeira condição para se resolverem os problemas nacio­nais, dizendo assim : “…uma preliminar se impõe, e essa preliminar é, em conjunto, o esforço desinteressado de compreensão. Este esforço é um dever das elites. Sua ausência, no Brasil de hoje, excede os limites da indiferença; resvala pela traição”.

A lucidez e a honestidade intelectual de Arinos não disfarçou a verdade histórica relativa à inquietação e a conspiração das elites (p.32) “…porque não se dispõem à diminuição dos privilégios, diminuição que é o resultado fatal do alargamento das oportunidades”.

Não falta nesse repositório histórico de experiência e sabedoria de Arinos, o registro da divisão da sociedade, de instituições e dos partidos políticos, da Igreja, das Forças Armadas. Tal como atualmente, sendo que a ilustração mais candente e próxima está dada pela eleição para Presidente do Senado e o da Câmara Federal, quando as benesses ou prometidas pelo Poder Executivo trincaram as siglas partidárias.

Arinos não reconhecia seu próprio partido o da União Democrática Nacional-UDN, em que uma parte era legalista e a outra entregue ao conservadorismo convocatório da interven­ção militar, com a articulação estrangeira interessada e presente.

Se naquela época existia a chamada Guerra Fria, entre o bloco ocidental liderado pelos Estados Unidos e a União Soviética, que estimulava a divisão interna dos países, atualmente o machado da divisão acontece com o avanço do comercio internacional dos chineses, que arrepia e coloca de sobreaviso permanente os Estados Unidos, que não só procuram reforçar os laços de domínio com os países sob sua órbita, como com o Brasil, reavivando o mesmo fantasma de 1964, quando se construiu a ameaça próxima de uma revolução socialista lidera­da, suposta e contraditoriamente, por um estanciero muito bem sucedido e rico desde jovem, que na verdade defendia a bandeira das chamadas reformas de base, até hoje necessárias, mas esquecidas, para construir uma política de desenvolvimento nacional autônomo.

Na época a política externa do Brasil sempre cumpriu o princípio da auto-determinação dos povos, e portanto contra qualquer intervenção nos negócios de um país. Recentemente quase guerreamos com a Venezuela, num ato de vassalagem explicita aos interesses geopolíti­cos, que não são do Brasil. Não houve guerra, mas vassalagem continua.

Um exemplo de espírito fanatizado é a vulgarização com qualificativo do vírus do Covid-19, assumida por parcela simplória da população, em face do chamado vírus chinês, vacina chinesa (“eu não tomo”), com o gravame desses políticos que saíram do arroto eleitoral de 2016, que hostilizaram a China, nosso maior mercado consumidor (agronegócio), sendo que muito antes do chegada desse vírus, esse país e a Índia já forneciam os insumos para tantos remédios fabricados aqui.

Se no período 1963/1964 só existia a imprensa tradicional, ligada aos interesses das elites, que garantiam a propaganda de sobrevivência de cada jornal ou emissora, salvo o jornal Ul­tima Hora, hoje, além deles tem a comunicação de massa das redes sociais, cujo controle não tem sido fácil de fazer. E as noticias falsas correm soltas, confundindo a opinião publica. Há existiram entidades privadas (IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática e IPES-Ins­tituto de Pesquisas e Estudos Sociais) financiadas por dinheiro nacional e estrangeiro, que se destinavam a desestabilizar o governo nacional.

É conhecido o axioma “Nada é mais perigoso do que o homem de idéias, mas quando ele tem uma só”. Esse é o fanático, geralmente ressentindo ou preconceituoso, ou mesmo desesperado por condição econômica perversa, ou defensor patológico de interesses individuais, que se torna incapaz de tolerar a tolerância, incapaz de odiar o ódio, e que não tem consciência do mal que faz, desconhecendo a convivência democrática, a riqueza do debate voltado ao conhecimento do Brasil real e do Brasil oficial, para conhecê-los como unidade de afeto coletivo e de defesa de valores que possam enaltercer a soberania do país e um sentimento de nação redivivo.

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