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‘Ai, que saudades da Amélia’

Realizando o sonho de viver na cidade grande, Ataulfo Alves aceitou o convite do médico Afrânio Moreira e foi para o Rio de Janeiro, trabalhar como auxiliar de enfermagem durante o dia e empregado doméstico na casa do doutor, após o fechamento do consultório.

Em 1933, Bide o levou à gravadora Victor para mostrar seus sambas ao diretor artístico, o norte-americano Mister Evans. Através dele, Ataulfo conseguiu gravar os seus primei­ros sambas, dando início a sua profissionalização.

A vitória de Ataulfo em um concurso de carnaval acon­teceu em 1940, com o samba “Oh!, seu Oscar”, em parceria com Wilson Batista, gravado por Cyro Monteiro e defendido pelo próprio Ataulfo, visto que Cyro não pôde comparecer ao estádio do América na Noite da Música Popular. Esse samba coloca a mulher como culpada pela separação do casal, pois enquanto seu Oscar ia para o trabalho, ela ia para a orgia. “Seu Oscar” era sinônimo de otário, bobalhão, segundo o compositor Roberto Martins.

A grande curiosidade em relação à vitória de Ataulfo foi que ele venceu nada mais, nada menos que “Aquarela do Bra­sil” de Ary Barroso, música classificada pelo jurado Villa-Lo­bos como manifestação patriótica e de civismo, e não como música popular, o que irritou o compositor e o fez romper relações com o jurado por quinze anos.

Dentre as mais variadas composições de Ataulfo, as duas que mais se destacam são “Meus tempos de criança” e “Ai, que saudades da Amélia”. A primeira composição é uma das músicas mais conhecidas e populares do nosso país. Quem nunca ouviu essa frase: “que saudades da professorinha, que me ensinou o bê-á-bá, onde andará Mariazinha, meu primei­ro amor, onde andará?”

A história de Amélia tem o seu início com Almeidinha, baterista e irmão de Aracy de Almeida, que em qualquer lugar que estivesse com os amigos, interrompia a conversa e dizia: “ah!

Amélia! Aquilo sim é que era a mulher! Lavava, passava, engomava, apanhava e não reclamava”. Essa ideia foi oferecida por Almeidinha ao compositor Wilson Batista, mas Mário Lago se apossou da ideia, construiu a letra e a entregou para Ataulfo musicar.

Ao fazer a música, Ataulfo mudou em grande parte a letra que Mário Lago fizera para poder encaixar a melodia e a harmonia pensada por ele. Ao entregar a música pronta para o parceiro, Mário Lago disse: “esse samba não é meu, pode ficar para você”.

Além do desentendimento com Mário Lago, que só foi re­solvido após o adiantamento de 500 mil réis de Emílio Vitale, dono da gravadora ao compositor, ninguém queria gravar a música.

Moreira da Silva disse que “Amélia” era uma marcha fúnebre, Cyro Monteiro, Carlos Galhardo e Orlando Silva não se interessaram por ela, restando a Ataulfo cantar a música com acompanhamento de Jacob do Bandolim na gravação.

A música foi um grande sucesso em 1942, se tornando uma das mais tocadas e lembradas na história da música popular brasileira.

Salve Amélia, que era a mulher de verdade.

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