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29 de março de 2024 | 2:02
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Disneylândia, offshores e a gourmetização da miséria

Para os cristãos católicos um dos milagres mais famosos ocorreu na cidade italiana de Lanciano, no mosteiro de São Legoziano onde a hóstia se converteu em Carne viva e o vinho em Sangue Vivo quando um monge incrédulo celebra­va a missa. Ser sacerdote e não acreditar na eucaristia é uma grande contradição. Seria como um vegano ser dono de chur­rascaria ou um proprietário de farmácia alopática somente se medicar com fitoterápicos. O que você diz deve estar em sintonia com o que você faz.

Vivemos em um país onde as incoerências são constantes e gritantes, como exemplo temos um ministro da Economia e um presidente do Banco Central, que mantêm dinheiro em paraísos fiscais nas famosas offshores. Os homens que comandam a economia do país não acreditam no plano eco­nômico que impõem à população. Escolhido como o melhor craque do governo Bolsonaro, Paulo Guedes se destacou mais pelas polêmicas do que pelos avanços.

Quando Emmanuel Macron criticou a condução das questões ambientais, respondeu com um discurso misógino, chamando a esposa de mulher “feia mesmo”. Para justificar a Reforma Administrativa, se referiu aos funcionários públicos como “parasitas” e o Estado como “hospedeiro”, defendeu o AI-5, depois criticou as empregadas domésticas que viajam à Disneylândia e as bolsas de estudo para pobres.

Um comentário marcante do ministro foi que a longevidade traz prejuízo aos cofres públicos. Talvez resida aí a explicação para temerária condução da pandemia pelo governo federal, que proporcionou a marca de 600 mil brasileiros mortos. Além de propor tratamentos sem comprovação científica e retardar a aquisição de vacinas, as tímidas medidas econômicas aumentaram o abismo social, fazendo com que 12,8% da população brasileira, cerca de 27 milhões de pessoas, vivam abaixo da linha da pobreza segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Muitas famílias sobrevivem com o valor de R$ 246,00 por mês.

Mas o ministro enxerga diferente e, em debate promovido pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em junho, afirmou que o brasileiro “enche o prato” e deixa “uma sobra enorme” de comida nas refeições. Agora em outubro o que observamos é o Cardápio da Miséria onde as pessoas adquirem resíduos de carne e o que antes era destinado aos cachorros, passou a ser o alimento da família. Os mais criativos estão sendo forçados a gourmetizar o miserê preparando pratos à base de ossos, carcaças de frango, pés de galinha e até mesmo pelanca.

Certamente o ministro está preparando explicações para sua offshore, da mesma forma que justificará tantos famintos em um país onde a safra de cereais, leguminosas e oleaginosas deve alcançar 250,9 milhões de toneladas em 2021. Tentar justificar o injustificável ficou comum especialmente com os exorbitantes aumentos dos combustíveis, energia elétrica e gás de cozinha.

A insensibilidade do atual governo é tamanha ao ponto de sancionar a lei que institui o Programa de Proteção e Promo­ção da Saúde Menstrual, mas vetando os principais pontos, como a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para estudantes carentes dos ensinos fundamental e médio e mu­lheres em situação de vulnerabilidade.

Enquanto isso em recente evento do Ministério do Desen­volvimento Regional o presidente Jair Bolsonaro defendeu seu ministério. “Quando um time não está indo bem, a gente pensa logo em trocar o técnico. O meu time está indo muito bem”. Mas, muito bem para quem? Para um pequeno grupo realmente tudo está uma maravilha, para a maioria o time está jogando mal, prestes a ser rebaixado e precisando trocar técnico e jogado­res. Existem os que defendem que a culpa do fracasso é dos juízes e outros continuam vivendo à espera de um milagre.

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