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19 de abril de 2024 | 18:19
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El Calafate e a geleira Perito Moreno

Quem chega a El Calafate, na Patagônia argentina, tem a nítida sensação de que está entrando em Campos do Jordão. Suas casas, suas lojas, seus hotéis lembram muito nossa estância climática. Só faltam os contrafortes da Mantiqueira, pois a cida­de localiza-se numa estepe árida, de vegetação baixa e de pouca chuva. Uma planta miúda, sem destaque, encontrada em toda parte, com pequenas flores vermelhas era usada pelos primei­ros navegantes para calafetagem das madeiras dos barcos, daí o nome da cidade.

Seus restaurantes são primorosas e ostentam a especialidade da região, o cordeiro patagônico, assado em espetos verticais à beira das brasas, no puro estilo dos pampas. Depois de várias ho­ras, sua carne desprende-se com as garfadas. Acompanhado de um bom vinho Malbec é refeição a ser lembrada durante toda a vida.

Mas, a grande atração está a uns 80 quilômetros, a grande Geleira Perito Moreno. Exceto as regiões dos Polos Norte e Sul, a Patagônia é onde se encontra o maior número de geleiras. Só na Argentina, no Parque Nacional Los Glaciares, são 356 de todos os tamanhos e formas. O nome do grande glaciar, como são chamadas pelo hermanos as nossas geleiras, é uma homenagem a Francisco Paschaio Moreno. Naturalista, cientista, pesquisador, agrimensor durante toda a vida atravessou a Patagônia em vários sentidos, sendo um dos maiores conhecedores da região.

Apesar de ter visto em fotos a majestosa geleira, há um enorme impacto quando se a vê pela primeira vez. São cinco quilômetros de uma muralha azul de 50 metros de altura, que em velocidade lentíssima se movimenta num vale entre monta­nhas, avançando sobre o Lago Americano. Apesar da temperatura externa, não há degelo das águas, não se veem fios escorrendo entre suas gretas. De repente, um estrondo e um pedaço do paredão se desprende, gerando ondas e lançando no lago pequeno iceberg azul, que começa a flutuar no meio de outros semelhantes.

A grande geleira inicia-se nos Andes, onde neva pratica­mente todos os dias. Esta neve congela e forma camadas de gelo que vão se sobrepondo às já existentes. Nasce assim um mundo congelado que, vagarosamente, por gravidade, faz a geleira se mover milimetricamente em busca do lago. Mas, é um movi­mento imperceptível a olha nu. Os blocos que olhamos tem água de muitos anos.

A estrutura de apoio à visita é ótima. Passarelas de madei­ra resistente e muito bem conservadas circundam um monte fronteiriço à geleira, permitindo que, à medida que você desce, ela se mostre de vários ângulos e tamanhos, até a base de onde se descortina toda a maravilhosa e misteriosa vista. Esta mesma passarela permite que você circunde parcialmente o lago, com destino ao restaurante e base de apoio.

Passeios de barcos que saem da base de apoio levam os visitan­tes até bem perto do alto paredão, navegando entre os pequenos icebergs que flutuam no lago. Dá para perceber a intensa coloração azul destes pedaços de gelo, que refletem a cor do céu. Condores, as maiores aves de rapina da América do Sul de vez em quando apare­cem planando nas alturas, num voo majestoso e solitário.

O encontro com a geleira causa-nos o impacto da grandeza da natureza, num caminhar constante, arrastando as águas con­geladas dos Andes, que primeiro são neve, depois gelo, depois gelo compactado e por fim iceberg. Ela é majestosa, misteriosa, às vezes difícil de ser entendida e comprimida entre as monta­nhas de seu vale é um espetáculo único a ser vivido. Se você não viu alguma das geleiras do Parque Nacional los Glaciares não terá ideia de sua grandeza e de sua portentosa majestade.

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