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20 de abril de 2024 | 0:19
Jornal Tribuna Ribeirão
FOTOS: MUSEU DE PALEONTOLOGIA PEDRO CANDOLO/DIVULGAÇÃO
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Identificado primeiro dino predador de SP

Paleontólogos acabam de identificar a primeira espécie de dinossauro carnívoro que viveu no período Cretáceo, na região Sudeste do Brasil. Bati­zado com o nome de Thanos simonattoi, o dinossauro pre­dador foi identificado a partir de fósseis da coluna vertebral encontrados na região de Ibi­rá, interior de São Paulo. De acordo com o paleontólogo Fabiano Vidoi Iori, era um abelissaurídeo que tinha cer­ca de cinco metros de com­primento e disputava com os megaraptores o topo da cadeia alimentar na região, há 80 mi­lhões de anos.

O conjunto de vértebras que permitiu a identificação do espécime foi encontrado por Iori em buscas que dura­ram 18 anos, com apoio do sitiante Sérgio Luis Simonatto. Este ano, Iori apresentou o fós­sil completo ao especialista em dinossauros carnívoros, Rafael Delcourt, pesquisador da Uni­versidade de Campinas (Uni­camp). Após analisar o fóssil, ele observou um conjunto de caracteres não presentes em nenhum outro dinossauro, o que tornava aquela vértebra única, permitindo atribuí-la a uma nova espécie e batizá-la.

A parceria de Iori e Del­court resultou em um estudo publicado no mês passado na revista Historical Biology, onde o terópode Thanos simo­nattoi é apresentado à comu­nidade científica. Thanatos é um termo grego que significa morte e que também dá nome a um vilão da Marvel Comics, das histórias em quadrinhos. Já simonattoi homenageia o sitiante que ajudou na loca­lização e retirada dos fósseis. “A ajuda desse colaborador foi imprescindível para a localiza­ção dos fósseis”, disse Iori.

Predadores
A existência de fósseis da época dos dinossauros na região de Ibirá (SP) é sabida desde a dé­cada de 1960, segundo o paleon­tólogo. “Até então, os principais achados eram de titanossauros, aqueles dinossauros herbívo­ros, de pescoço longo. O Tha­nos caminhava sobre as patas traseiras e tinha braços curtos, algo próximo da imagem de um Titanossauro rex.” Ele conta que entusiastas da cidade de Uchoa coletaram materiais por déca­das, assim como professores de várias universidades.

Em 1994, a equipe do Museu de Paleontologia de Monte Alto começou a busca por fósseis na região e contou com o apoio do sitiante Sérgio Luis Simonatto. Morador do local, Simonatto conhecia muitas localidades com fósseis e quando criança brincava com dentes de dinos­sauros. Em 1995, com a ajuda dele, Iori e a equipe de Monte Alto encontraram um fóssil em uma parede rochosa, porém a vegetação impediu a retirada total e apenas uma parte da vér­tebra foi coletada.

Iori conta que, em 2006, o paleontólogo argentino Fernan­do Novas viu a peça exposta no Museu de Monte Alto e disse se tratar da segunda vértebra cervi­cal de um dinossauro carnívoro. “Foi quando passamos a buscar pelo restante da peça, até porque era um osso que ficava mui­to próximo do crânio e havia a possibilidade de o crânio estar por ali”, disse.

Em 2014, um artigo publicado na Revista Brasileira de Paleonto­logia descreveu aquele pedaço de vértebra, entre outros fósseis, atri­buindo a um predador. Iori conta que a descoberta do conjunto da vértebra aconteceu com a ajuda do acaso. Ainda em 2014, uma forte ventania derrubou algumas árvores no sítio paleontológico. Uma delas ficava próxima à pare­de de origem do fóssil, e sua queda permitiu que os raios do sol iluminassem o local. “Dezoito anos de­pois, encontramos o restante da vértebra”, disse.

Os achados contribuíram para a fundação, em 2016, do Museu de Paleontologia Pedro Candolo em Uchoa, com a mis­são de coletar, preparar, expor e estudar os fósseis da região de Ibirá, Uchoa e Cedral. A des­coberta consiste na primeira espécie descrita para a região de Ibirá. Os fósseis do Thanos si­monattoi serão apresentados ao público nesta quarta-feira, 5 de dezembro, no Museu de Uchoa, onde ficarão expostos durante uma semana.

Em seguida, serão levados de volta para o Museu de Monte Alto. Conforme Iori, a desco­berta de uma espécie até então desconhecida no interior de São Paulo abre as portas para novas pesquisas. “Fica cada vez mais evidente que o interior paulista foi um território densamente habitado por dinossauros em épocas remotas”, disse.

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