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Johnny Alf e Vinícius de Moraes: São Paulo é o túmulo do samba

Johnny Alf era uma pessoa meiga, suave, carinhosa e admirada por todos que o conheciam. Músico de primeira li­nha, um dos precursores da bossa nova com sua pegada única no piano e aquele gingado irresistível, que só ele sabia fazer.

Em 1952, através de Dick Farney e Nora Ney, foi contra­tado como pianista da Cantina do César, de propriedade do radialista César de Alencar, dando início à sua carreira profis­sional. Ali, a atriz Mary Gonçalves ia lançar-se como cantora e escolheu três composições suas:

“Estamos sós”, “O que é amar” e “Escuta”, para incluir no disco “Convite ao romance”. Em seguida, foi convidado para integrar, como pianista, o conjunto que o violonista Fafá Lemos formou para tocar na boate Monte Carlo. Nessa época, a convite do produtor Ramalho Neto, gra­vou na Sinter seu primeiro disco, um 78 rpm, contendo duas músicas instrumentais (piano, violão e contrabaixo): “Falsete”, de sua autoria, e “De cigarro em cigarro” (Luiz Bonfá). Por essa época, revezando com Newton Mendonça, tocou na boate Mandarim, depois no Clube da Chave e nas boates Drink e Plaza. Duas de suas composições começaram a se destacar: “Céu e mar” e “Rapaz de bem”, compostas em 1953 e conside­radas precursoras da bossa nova.

Em 1955, foi para São Paulo, onde tocou na boate Baiúca e no bar Michel. Fez alguns trabalhos no Rio de Janeiro, como o disco 78 rpm, pela gravadora Copacabana, com as músicas “Rapaz de bem” e “O tempo e o vento”, esta última também de sua autoria.
Em 1962, retornou ao Rio de Janeiro, e começou a tocar no Bottle’s Bar, na mesma época em que ali atuavam o Tamba Trio, Sérgio Mendes, Luis Carlos Vinhas e Silvia Telles. For­mou um conjunto com o contrabaixista Tião Neto e o bateris­ta Edison Machado, apresentando-se no Little Club e no Top.

A partir dos anos 1970, fixou residência em São Paulo, onde atuou em shows e gravações até o seu falecimento em 2010, na cidade de Santo André.

Um dos episódios mais famosos presenciados por Johnny, foi quando numa de suas apresentações noturnas, Vinícius de Moraes proferiu a famosa frase “São Paulo é o túmulo do samba”.

A frase “São Paulo é o túmulo do samba” é atribuída a Vinícius de Moraes, em protesto contra o público da antiga boate Cave, na rua da Consolação, no Centro de São Paulo, durante apresentação do pianista e compositor Johnny Alf, um dos pioneiros da bossa nova, em 1960. No bar havia um jornalista que gravou e soltou essa frase na sua revista de forma descontextualizada, levando então a polêmica desnecessária com os sambistas paulistas. O que realmente ocorreu foi que após Viní cius ficar muito bravo com a falta de respeito do público com o artista, pois não paravam de falar alto e atrapalhar, disse sem pensar e em altos brados: “São Paulo é o túmulo do samba”. Parceiro de Adoniran Barbosa, o poeta carioca logo se arrependeu do que disse, pois a cidade sempre foi um grande e acolhedor mercado para os sambistas cariocas. Hoje, os desfiles de escolas de samba e a explosão do carnaval de rua mostram que sam­bistas paulistas, pioneiros como Germano Mathias, Geraldo Filme, Dona Inah, Oswaldinho da Cuíca e Seu Nenê da Vila Matilde não semearam em vão.

Salve Johnny Alf, excelente músico, de alma nobre e um dos precursores da Bossa Nova. Salve o grande poetinha Vi­nícius de Moraes, nosso samba paulista e seus compositores e cantores. Salve a música brasileira!

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