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28 de março de 2024 | 12:38
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Os órfãos do talvez e o MDB

A Câmara Federal e o Senado Federal terão novos Presidentes. O deputado federal Baleia Rossi e a senadora Simone Tebet, pelo MDB – Movimento Demo­crático Brasileiro disputam nessa eleição. Essa sigla foi retomada seguramente para projetar melhor a sua história, como exemplo, no dia a dia do país, através da capilaridade associativa da sociedade civil, que jamais assumiu e nem foi acionada, para divulgar a teoria e a prática da democracia.

O deputado Luiz Felipe Baleia Tenuto Rossi, mais conhecido como Baleia Rossi (9/07/1972), filho do ex-deputado Wagner Rossi, que foi secretário de estado, deputado estadual, deputado federal, logo declarou o mantra da indepen­dência do Poder Legislativo.

Os senadores candidatos, Braga e outro, tentaram o apoio do presidente Bolsonaro (vejam-se só!), oferecendo o presumido sacrifico de Baleia Rossi e de qualquer candidato na disputa da Câmara Federal, para que um deles ocupasse a cadeira de presidente do Senado Federal.

Firmada a candidatura na Câmara, em seguida no Senado aparece o nome unanime da experiente senadora Simone NassarTebet (Três Lagoas, 22/2/1970), do Mato Grosso do Sul. Ela é filha do ex-senador Ramez Tebet, falecido em 2006, e que ocupou o cargo que hoje ela disputa.

No entremeio dessa disputa, morre o ex-deputado Alencar Furtado, líder do MDB em 1977, cassado pela ditadura, por crime de opinião, em ato do presidente Ernesto Geisel. O motivo aconteceu num programa partidário de rádio, em que ele, acompanhado de Franco Montoro, Ulisses Guimarães e Alceu Colares, fez uma declaração-síntese do que representava a ditadura no Brasil. Aquela verdade feriu os donos do poder da época, em que só era permitida a existência de dois partidos, ARENA e MDB, para legitimar a desgraça da ditadura.

Este fato histórico-síntese gerado pelo MDB, que era tido como uma confe­deração de oposições, precisa ser relembrado dia e noite, já que foi nesse partido que estava imantado o espírito rebelde do país. Ele ficou como depositário desse patrimônio material e imaterial da luta pela democracia no Brasil, mesmo depois que tantos lutadores se ligaram a outras siglas partidárias, levando individualmen­te sua história digna.

Assim, é esse MDB, depositário desse patrimônio da luta coletiva, no âmbito da política partidária, que não pode simplesmente arquivá-lo, para uso ocasional. Esse patrimônio é mais do que uma simples diretriz de prática política. Ele consti­tui o conteúdo de uma pedagogia da e para construção democrática, que é sempre inacabada, como conquista histórica.

Esse partido tem a obrigação ética, política e social e moral, de contar, per­manentemente, em verso e em prosa, o que foi essa luta, o que representou para o país o exílio de seus líderes, de seus cérebros, a pressão e morte de estudantes, a destruição simbólica da UNE, a morte da secretaria do Conselho Federal da OAB, as explosões das bancas de jornais, a tentativa de lançamento de bombas no Rio de Janeiro e a perseguição do militar-aviador, herói, que se recusou a obedecer tal ordem, a bomba do Rio Centro e a impunidade, a representação sindical garrotea­da, a tortura e seus torturadores, a corrupção, a desapropriação dos predicados da Magistratura, a repressão à liberdade de imprensa.

A tortura, como mercadoria de exportação para o Chile, a matança nos países do Cone Sul, com a operação Condor. Uma exibição da barbárie nativa, em todos os tons. E, após a reabertura democrática, com a generosa Lei da Anistia, assiste-se com perplexidade o seu efeito perverso, encarnado no oráculo presidencial de Brasília e sua descompostura diária, que, ora por vez, defende essa barbárie. En­quanto, militares torturadores saíram ilesos dos porões para servirem ao tráfico de drogas no estado do Rio de Janeiro ou do Espírito Santo, quando não à milícia que já recebeu condecoração oficial do Oráculo presidencial e filho.

O MDB tem a responsabilidade histórica de responder a cada agravo do orá­culo presidencial referindo-se, imediatamente, ao seu patrimônio de lutas. E para isso conta, especialmente, com a história-síntese que custou o mandato de Alencar Furtado, e que a jornalista Carolina Freitas transcreve em seu artigo do jornal Valor, em homenagem a esse patriota. Ele foi cassado porque disse claramente:

“O programa do MDB defende a inviolabilidade dos direitos da pessoa humana para que não haja lares em pranto. Filhos de órfãos de pais vivos –quem sabe – mortos, talvez. Órfãos do talvez e do quem sabe. Para que não haja esposas que enviúvem com maridos vivos, talvez, ou mortos, quem sabe? Viúvas do quem sabe e do talvez”.

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