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28 de março de 2024 | 19:10
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Cultura

‘Pandemia’ mostra a luta da ciência contra as doenças virais

Por Luiz Zanin Oricchio

“A qualquer momento, vai surgir um evento no qual um vírus emergente, como o de 1918, vai surgir e se espalhar pelo mundo.” A frase é do infectologista norte-americano Dennis Carroll e está no sexto e último episódio de Pandemia, série da Netflix que ganha óbvia atualidade com o coronavírus.

Trata, em várias frentes, da luta humana contra as doenças virais, da popular influenza ao temível Ebola, da gripe aviária ao H1N1. Aborda personagens em várias partes do globo, Estados Unidos, México, Índia, China, Vietnã, Congo.

Acompanha alguns casos em particular, como a luta de médicos na Índia para tratar pacientes graves. E também o casal de pesquisadores que tenta encontrar base científica para uma vacina universal. Para chegar aos resultados (a pesquisa continua em andamento), fizeram experimentos com porcos. Como esses animais eram mais baratos na Guatemala, mudaram o laboratório para esse país.

Há também o outro lado, o das pessoas que, por motivos religiosos ou “filosóficos”, recusam-se a tomar vacinas. É o caso de uma jovem mulher do Oregon, mãe de três filhos, que recusa vacinar a família. Pela lei, ninguém pode obrigá-la, mas, em compensação, as crianças ficam impedidas de se matricular na escola, pois representam risco de contágio para as outras. Nenhuma novidade: em 1904, houve no Rio um motim popular conhecido com Revolta da Vacina, motivado pela vacinação obrigatória contra a varíola.

Pandemia tenta contemplar vários temas que podem ser enfeixados em um único: a luta da humanidade contra esse inimigo invisível que ataca sem aviso prévio, multiplica suas vítimas em escala geométrica e produz morte e devastação de países.

A série, no entanto, não opta por uma abordagem histórica. A referência à praga de 1918, a famosa “Espanhola”, é tomada en passant, mencionada como tão devastadora que produziu mais mortes que as duas guerras mundiais somadas, isso numa época em que os recursos da medicina eram bem mais frágeis do que hoje. Talvez fosse interessante historiar com um pouco mais de vagar tanto esse quanto outros grandes surtos, como o da Peste Negra, na Idade Média, que matou 2/3 da população europeia.

Mas Pandemia optou por uma visão mais focada no presente, sem levar tanto em conta fatores históricos ou culturais relativos aos surtos do passado. Um pouco mais de didatismo teria sido interessante para mostrar as maneiras como a espécie humana, em tempos diferentes, fez frente, ou sucumbiu, diante dos surtos de doenças contagiosas. Como reagiu e que arsenal terapêutico usou.

A multiplicidade geográfica contemplada pela série é interessante, pois mostra o caráter global da moléstia. Ao mesmo tempo, produz certa confusão narrativa. O mesmo pode ser dito do grande número de personagens. Alguns ficam mais nítidos na memória do espectador à medida que vamos vendo os episódios. Outros nem tanto.

Tudo somado, Pandemia tem o mérito de sustentar um ponto de vista científico em oposição a histerias supersticiosas até hoje presentes. Mesmo quando os personagens confessam suas crenças religiosas, é na ciência, afinal, que confiam e depositam seus esforços. E suas esperanças.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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