A crise de representação política no Brasil é profunda: mais de 60% dos brasileiros não lembram em quem votaram para deputado federal, 66% desaprovam o trabalho dos parlamentares e apenas 15% acompanham suas atividades. Um Congresso distante do eleitor e um sistema proporcional que, apesar de plural, tornou-se confuso alimentam a sensação de desconexão.
Nesse contexto, cresce a defesa do voto distrital misto, apontado por entidades como alternativa para aproximar eleitor e representante, reduzir custos de campanha e corrigir distorções históricas — como a eleição de candidatos pouco votados graças a puxadores de legenda. O modelo, já considerado constitucional pelo STF e TSE, combina representantes territoriais e listas proporcionais, como ocorre na Alemanha e na Nova Zelândia.
Mas os riscos são reais. A definição dos distritos pode gerar gerrymandering, manipulando fronteiras para favorecer grupos políticos. Há ainda o potencial de reduzir a representação de minorias, fortalecer currais eleitorais, enfraquecer ainda mais os partidos, já frágeis, e diminuir a pluralidade no Parlamento.
Mudar o sistema de votação, portanto, não basta. Pesquisas mostram que os principais entraves da política brasileira passam também por baixa educação cívica, pouca transparência legislativa e partidos frágeis, incapazes de mediar expectativas e formar lideranças.
O voto distrital misto pode contribuir para uma política mais próxima, mas não resolve sozinho a crise de representatividade. Sem reformas estruturais que qualifiquem o debate público e fortalecem instituições, o país corre o risco de trocar um problema conhecido por outro ainda mais difícil de administrar. O desafio é maior do que redesenhar mapas eleitorais: exige maturidade democrática, participação e responsabilidade de todos.

