Estado vai fechar estabelecimentos suspeitos de vender bebidas contaminadas e descartou envolvimento do PCC nas adulterações
O Estado de São Paulo investiga cinco mortes e 15 casos de contaminação com suspeita de intoxicação por metanol. O governo paulista também vai fechar estabelecimentos suspeitos de vender bebidas contaminadas e descartou envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) nas adulterações.
A hipótese de elo com a facção foi levantada pela Associação Brasileira de Combate à Falsificação. No domingo, 28 de setembro, a entidade havia apontado que a substância usada para adulterar as bebidas poderia ser a mesma importada ilegalmente pela facção para ser misturada nos combustíveis.. Na segunda-feira ()29), mais de 100 garrafas foram apreendidas na Mooca e nos Jardins. Um dos alvos da ação foi o bar Ministro, na alameda Lorena, nos Jardins, onde uma das vítimas disse ter consumido bebida alcoólica antes de passar mal e perder a visão. Ela continua hospitalizada.

Na segunda-feira (29), mais de 100 garrafas foram apreendidas na Mooca e nos Jardins: um dos alvos da ação foi o bar Ministro, na alameda Lorena
O endereço é citado no boletim de ocorrência registrado por familiares da vítima. As autoridades não divulgaram a lista de estabelecimentos suspeitos – são três e ao menos dois terão o bloqueio temporários pelas autoridades.
Os primeiros sintomas da intoxicação por metanol aparecem logo após a ingestão da substância, geralmente usada ilegalmente para adulterar bebidas alcoólicas como gim, uísque e vodca. Essas manifestações iniciais são parecidas com os sinais de embriaguez, como fala pastosa e reflexos diminuídos.
Mas a contaminação pode levar a efeitos mais graves, como alterações no sistema nervoso central que podem variar da sonolência à cegueira. PF abre investigação – Mais cedo, o governo federal anunciou que a Polícia Federal abriu inquérito para investigar a contaminação de bebidas alcoólicas com metanol.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que pediu a abertura do inquérito após indícios de que haja distribuição de bebidas contaminadas para outros Estados. ”No momento, (as ocorrências) estão concentradas em São Paulo, mas tudo indica que há distribuição para além do Estado de São Paulo e, portanto, por ser ocorrência que transcende o limite de um Estado atrai a competência da Polícia Federal”, disse o ministro.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse em coletiva no Palácio dos Bandeirantes, que o problema das contaminações por metanol em bebidas alcoólicas é “estrutural”, não tendo relação com o crime organizado como tem sido especulado.
Ressaltou que foi instalado um gabinete de crise, que vai se reunir periodicamente para acompanhar a evolução dos fatos: “Vamos fazer a interdição cautelar de todos os estabelecimentos onde houve o consumo dessas bebidas. A partir dessa interdição cautelar, vamos aprofundar as investigações com a Polícia Civil e a Secretaria da Fazenda”.
“Muito tem se especulado sobre participação do crime organizado nessa adulteração de bebidas. Só para deixar claro, não há evidência nenhuma de que haja participação do PCC. Os inquéritos têm apontado pessoas que atuam de forma isolada em destilarias clandestinas, sem relação entre si e sem vínculo com crime organizado”, afirmou o governador.
Para ele, trata-se de um problema estrutural, sendo que as fiscalizações são feitas com frequência. O governador lembrou que no estado de São Paulo nesse mês de setembro foram feitas 43 mil fiscalizações realizadas em estabelecimentos comerciais.
Na coletiva, Tarcísio disse também que serão criados canais de denúncia: o 181, da Secretaria de Segurança Pública, e um canal específico do Procon só para bebida adulterada, já disponível no portal do órgão. Ele ressaltou que uma operação em Americana descobriu uma destilaria clandestina, com a realização de duas prisões de pessoas que estavam adulterando bebida.
Chácara – Uma chácara na zona rural da cidade de Americana, no interior de São Paulo, era usada para falsificar e envasar bebidas alcoólicas. Segundo o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), os falsificadores produziam uísque, gim e vodca.
Mais de 17,7 mil produtos foram recolhidos no local. A substância metanol não apareceu entre o material apreendido. O endereço foi um dos três alvos de uma operação realizada pela Polícia Civil na manhã desta terça-feira, 30 de setembro. O
utros dois mandados de busca e apreensão foram cumpridos no município. Um força-tarefa das secretarias estaduais da Saúde (SES) e da Segurança Pública (SSP) apreendeu na segunda-feira 117 garrafas de bebidas sem rótulo e sem comprovação de procedência, em três estabelecimentos nos bairros Jardim Paulista e Mooca, na capital.
. Emergência médica – A intoxicação por metanol é uma emergência médica de extrema gravidade. A substância, quando ingerida, é metabolizada no organismo em produtos tóxicos (como formaldeído e ácido fórmico), que podem levar à morte. Os principais sintomas da intoxicação são: visão turva ou perda de visão (podendo chegar à cegueira) e mal-estar generalizado (náuseas, vômitos, dores abdominais, sudorese).
Em caso de identificação dos sintomas, buscar imediatamente os serviços de emergência médica e contatar a pelo menos a uma das instituições a seguir: Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001 CIATox da sua cidade para orientação especializada Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733 – de qualquer lugar do país.
É importante identificar e orientar possíveis contatos que tenham consumido a mesma bebida, recomendando que procurem imediatamente um serviço de saúde para avaliação e tratamento adequado.
A demora no atendimento e na identificação da intoxicação aumenta a probabilidade do desfecho mais grave, com o óbito do paciente. Padrão – Os casos de contaminação por metanol registrados no Estado de São Paulo nos últimos dias apresentam um padrão inédito, segundo o Ministério da Saúde.
“As ocorrências de intoxicação por metanol estavam, majoritariamente, associadas a pessoas em extrema vulnerabilidade ou população em situação de rua, ambos a partir de ingestão de álcool em postos de gasolina adulterados com a substância”, diz a pasta, em nota. Em 2023, o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) de Campinas emitiu um alerta sobre casos de intoxicação Na época, o órgão reportou o acompanhamento de 14 casos, sendo 10 apenas em 2022 e 2023, e todos estavam associados ao consumo de álcool obtido de bombas de abastecimento de postos de combustíveis. Dos 14 pacientes, 11 morreram.
Agora, porém, o perfil é diferente e “os pacientes intoxicados apresentaram histórico de ingestão recente de bebidas alcoólicas destiladas em cenas sociais de consumo alcoólico, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida, como gin, uísque, vodca, entre outros”, diz o ministério.
Diante dos novos casos, a pasta anunciou que vai elaborar um protocolo para orientar os profissionais de saúde em casos suspeitos. A proposta é que todas as unidades, em especial aquelas de urgência e emergência, adotem as orientações.

