Por Adalberto Luque
O número de acidentes de trânsito em Ribeirão Preto, nos oito primeiros meses de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior, teve queda de 32,7%. O número de mortos no trânsito, nas ruas ou rodovias que cruzam a cidade, também teve retração de 13,9%. Ainda assim, a situação segue preocupante para motoristas, passageiros, pedestres, ciclistas e, sobretudo, para aqueles que andam em motocicletas.
Os dados foram divulgados no portal do Sistema de Informações Gerenciais de Sinistros de Trânsito (Infosiga-SP), uma ferramenta do Departamente Estadual de Trânsito (Detran-SP) que integra informações sobre acidentes de trânsito no estado de São Paulo para subsidiar a criação de políticas públicas mais eficazes de segurança viária e informar a população.
De janeiro a agosto deste ano, 62 pessoas perderam a vida em acidentes de trânsito. No ano passado, neste mesmo período, foram 72 mortes. Em 2925, a média é de um morto por acidente de trânsito a cada 94 horas. Quase uma vítima fatal a cada quatro dias.

O Infosiga-SP apurou que ocorreram 1.508 acidentes de trânsito nas ruas, avenidas, vicinais e rodovias, na área territorial de Ribeirão Preto, entre os meses de janeiro a agosto deste ano. São seis acidentes por dia com vítimas. Apesar da grandeza dos números, o total é menor que os 2.240 acidentes registrados pelo Infosiga-SP no mesmo período de apuração.
Colisão seguida de atropelamento
Pedro Henrique Raposo, de 23 anos, seguia com sua moto pela Rodovia Anhanguera, na manhã de 28 de agosto, quando perdeu a vida após se envolver em um acidente com um VW Gol e uma carreta bitrem Scania carregada com 60 mil litros de etanol.
O rapaz seguia pela pista Sul quando, na altura do km 311, na zona Leste da cidade, ocorreu o acidente. De acordo com relatório da Agência de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp), a moto conduzida por Raposo seguia em um corredor.
Um Gol vinha pela faixa da esquerda e freou bruscamente para, segundo a Artesp, evitar uma colisão. A moto bateu contra a lateral do Gol e, com o impacto, caiu na pista.

A carreta que seguia na pista da direita não conseguiu frear. Raposo foi atropelado e teve morte imediata. O acidente é investigado pela Polícia Civil.
O risco sobre duas rodas
A morte de Raposo contribuiu para aumentar a triste estatística de mortos relatada pelo Infosiga-SP. Das 62 vítimas fatais nos acidentes registrados na cidade, 55% eram motociclistas ou garupas. Foram 34 mortes no total, 29 homens e cinco mulheres.
O mês mais sangrento para os motociclistas foi maio de 2025, quando o Infosiga-SP constatou 10 mortes. uma a cada três dias. Em 2024, no mesmo período do tabulado pela plataforma do Detran-SP, foram 38 mortes, com 31 homens e sete mulheres.
Se por um lado o número total foi menor entre janeiro e agosto deste ano, percentualmente houve um crescimento. É que em 2024, os 38 motociclistas mortos representaram 53% do total de óbitos, enquanto, em 2025, esse índice foi de 55%.

Isso ocorreu porque o número de vítimas fatais registrados em acidentes com motos praticamente se manteve, enquanto os demais tipos de acidentes tiveram uma queda mais significativa.
Bicicleta
Depois das motos, os acidentes envolvendo bicicletas são os que mais mortos registraram em 2025. Foram 9 vítimas do sexo masculino e uma do sexo feminino, o que corresponde a 17% dos óbitos registrados no período.
Em seguida, aparecem as vítimas de atropelamento. Os pedestres são 15% do total de pessoas que perderam a vida. Neste caso, outra constatação: os atropelamentos mataram mais mulheres que homens: foram seis vítimas fatais do sexo feminino contra três do sexo oposto.
Os automóveis, em maior número na frota de veículos tanto da cidade, quanto do País, só têm o quarto maior número de vítimas. Foram três homens e quatro mulheres, o que equivale a 11% do total. Por último, uma única vítima de acidente de caminhão, que responde por 2% do número de 64 pessoas mortas no trânsito ribeirão-pretano.
Duas mortes em poucas horas
É bem verdade que, na totalização do Infosiga-SP de 2025 em Ribeirão Preto, entre janeiro e agosto, os números felizmente recuaram em relação ao ano anterior. Mas os números pouco significam quando, numa mesma manhã, com intervalo de pouco mais de uma hora, duas pessoas perderam suas vidas no trânsito de Ribeirão Preto. Os dois acidentes ocorreram a menos de três quilômetros de distância.

Um deles ocorreu no cruzamento da rua Florêncio de Abreu com avenida Jerônimo Gonçalves, Centro da cidade. Uma idosa, de 84 anos, atravessava a via, aparentemente em direção ao terminal de ônibus em frente ao Centro Popular de Compras, quando foi atropelada por um ônibus urbano. A mulher morreu antes que pudesse ser atendida.
Pouco depois, outro atropelamento ocorreu na avenida Independência, ao lado da Praça Salvador Spadoni, quase na junção com a avenida Presidente Vargas, cruzamento com avenida 9 de Julho, no Jardim Sumaré, zona Sul de Ribeirão Preto.
Um ciclista de 53 anos foi atropelado por um ônibus intermunicipal. O ciclista bateu na lateral do ônibus e caiu, sendo atropelado em seguida. O homem morreu antes que pudesse ser socorrido.
Perfil das vítimas fatais
A Infosiga-SP traçou um perfil entre as vítimas dos acidentes fatais. A ocorrência é maior nas faixas etárias de 20 a 24 anos e de 45 a 49 anos, com nove casos cada. São seguidos pelas faixas etárias de 35 a 39 anos e de 60 a 64 anos, com seis óbitos cada.
Entre motociclistas, a colisão foi o tipo de acidente que mais matou (18), seguido do choque, que é quando a moto bate em algo fixo, como um poste, por exemplo (7 casos). Para ciclistas, as colisões também são a causa mais letal (5 mortes), seguida por atropelamento (3). Já as vítimas de automóvel morreram, em sua maioria, num choque do veículo (6) e apenas uma em colisão.
Assim, é possível afirmar que o perfil dos mortos no trânsito ribeirão-pretano em 2025 é: homem, entre20 e 24 anos ou entre 45 e 49 anos, envolvido em em colisão, onde, em 66,1% dos casos, a vítima fatal foi o próprio condutor.
Acidentes
Ribeirão Preto registrou, de acordo com o Infosiga-SP, 1.508 acidentes nos primeiros oito meses do ano. Um número 32,7% menor que em 2024, quando ocorreram 2.240 sinistros de trânsito.
Nestes acidentes, 79,7% das vítimas (1.463) sofreram ferimentos leves. Outras 8,6% das pessoas (157) sofreram ferimentos moderados. Já os feridos graves representam 8,4% do total (154) e as vítimas fatais foram 3,4% (62).
Um total de 1.836 vítimas. O trânsito deixou oito feridos por dia neste ano. Um morto a cada 94 horas. Números que ainda estão longe de garantir alegria pela redução, tanto no número de acidentes em geral, quanto no número de mortos.
Muito ainda há para ser feito, sobretudo porque as mortes, até porque estima-se que mais de 90% dos acidentes são registrados por falha humana, enquanto outros 7% por falha mecânica – o que não deixa de ser uma falha humana na manutenção. Apenas 3% ocorrem por fatores alheios aos motoristas envolvidos.
Medidas deram resultado
Para o engenheiro Fernando Velázquez, mestre em Engenharia de Transporte e membro do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), os dados mostram uma boa notícia. “De janeiro a agosto de 2025 tivemos menos mortes no trânsito em geral, uma queda de quase 14% em relação a 2024, e também menos acidentes como um todo, com redução de mais de 30%. Isso sinaliza que algumas medidas de fiscalização, melhorias viárias e até mudanças de comportamento estão dando resultado”, explica.

Segundo Velázquez, se houver um recorte apenas para as mortes de motociclistas, o número absoluto também caiu (foram 38 vítimas no ano passado, contra 34 neste ano). Mas como os outros tipos de vítimas (pedestres, ciclistas, motoristas) caíram ainda mais, a participação dos motociclistas no total ficou proporcionalmente maior, passando de 53% para 55%.
“Ou seja, não é que morreram mais motociclistas, mas sim que eles continuam representando a maior parcela das vítimas fatais no trânsito. A moto é o modal mais vulnerável: o condutor está mais exposto, a gravidade do acidente tende a ser maior e, em cidades como Ribeirão, o uso da moto para trabalho e deslocamentos rápidos cresce muito”, destaca.
Para o especialista em trânsito, ainda é preciso investir em educação e treinamento contínuo para motociclistas, principalmente jovens e trabalhadores de entrega. “Também é preciso fiscalização focada em excesso de velocidade e uso de celular – fatores recorrentes nos acidentes fatais; infraestrutura viária mais segura, como faixas exclusivas ou áreas de espera para motos em cruzamentos e campanhas de conscientização para todos os condutores, reforçando a importância de respeitar o motociclista, que é sempre o elo mais frágil no trânsito”, ressalta Velázquez.
Ele acrescenta: “avançamos na redução geral de mortes, mas o desafio agora é reduzir a letalidade especificamente entre os motociclistas, que seguem sendo as maiores vítimas.”

