Valdir Avelino *
O anúncio feito pelo Governo Municipal sobre o envio de um projeto de cestas natalinas para os servidores reacende um debate importante. Segundo matéria publicada por este Tribuna, a proposta prevê cestas de Natal aos servidores da ativa que não tiverem faltas injustificadas. A medida foi apresentada pelo governo como forma de “valorizar” quem não faltou durante o ano.
Mas esse formato não corresponde ao que os trabalhadores pediram na campanha salarial deste ano. Na data-base de 2025, a categoria aprovou a reivindicação de um abono natalino, em dinheiro, simples e direto. O benefício seria para todos: ativos, aposentados e pensionistas.
Sem filtros. Sem restrições. Sem licitações concentradas em um único fornecedor. Uma solução mais justa, mais transparente e mais útil para a cidade inteira. É evidente que o Sindicato não é contra a existência de um benefício natalino para os servidores.
O que nos preocupa é como a proposta foi desenhada e quem o governo está deixando para trás. A própria matéria da Tribuna mostra que milhares de aposentados e pensionistas estão totalmente excluídos. E isso dói. Fere o senso de justiça. Um governo que foi eleito afirmando respeitar e valorizar o aposentado, agora esquece justamente dessas pessoas no período do Natal.
Excluir aposentados e pensionistas — que deram décadas de trabalho para o serviço público — é mais que um erro. É injusto, é duro, chega a ser cruel. São vidas que continuam fazendo parte da categoria, mesmo longe da ativa, e que merecem o mínimo: respeito, reconhecimento e um gesto de gratidão.
Além disso, atrelar a cesta à ausência de faltas injustificadas é uma solução incomum para definir quem receberá o benefício. Isso poderá gerar desconforto, porque muitos servidores poderão se sentir prejudicados e considerar esse critério injusto, pois uma medida criada para valorizar não pode, ainda que indiretamente, dar a sensação de punição para uma parte da categoria.
Ao adotar um caminho diferente daquele aprovado na data-base de 2025, o governo acabou se afastando do espírito da reivindicação original e deixou de construir uma solução mais simples, mais ampla e mais acolhedora para todos. O abono em dinheiro seria muito mais vantajoso para toda a cidade.
Quando o servidor recebe o valor diretamente na conta, ele escolhe onde gastar, e isso fortalece o comércio local, movimenta pequenos negócios e ajuda a gerar empregos. É dinheiro circulando nos bairros, nas padarias, nas lojas e nos serviços. Diferente de uma cesta física, o abono não cria problemas de logística, não exige armazenamento, transporte ou distribuição e, principalmente, não concentra a compra em um único fornecedor ou em poucos grupos.
É uma solução simples, eficiente e que espalha benefícios por toda a economia do município, ao invés de restringi-los. Depois do anúncio do Executivo, o Sindicato agiu imediatamente. Enviamos ofício ao Governo pedindo que o projeto contemple toda a categoria, com isonomia e sem restrições injustas.
Também oficiamos o Presidente da Câmara, solicitando que o Parlamento garanta nossa participação no debate e exerça seu papel fiscalizador. Valorização de servidor exige diálogo e escuta. Não se constrói política pública sólida sem ouvir quem representa milhares de trabalhadores.
Nosso objetivo segue o mesmo: um benefício justo, amplo e coerente com o que a própria categoria aprovou. Não estamos disputando protagonismo. Estamos defendendo um modelo que funciona melhor para o servidor, para a administração e para a cidade.
* Presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis

