Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Um mapa mundi de 1325, elaborado pelo genovês AngellinusDalorto, o mais antigo que se conhece, mostra no nordeste da costa irlandesa uma ilha chamada Brasil. Esta indicação sobrevive em vários outros portulanos, notadamente no Atlas Catalão de autoria de Abraham Cresques, de 1375, sua obra prima, considerado o mais próximo da realidade, na Idade Média. E permanece até 1850, quando desaparece dos mapas.
A localização da ilha chamada Brasil variava nos vários documentos cartográficos que se seguiram, mas ela estava sempre presente.
Mas, a existência desta ilha já constava das lendas e narrativas do povo irlandês, muito antes do pioneiro mapa de 1325.
Teria a ilha existido? Seria um prenúncio de que os antigos já sabiam da existência de terra a oeste do Mar Tenebroso, como se chamava então o Oceano Atlântico? Teria ela sido engolida pelo mar, depois da Era Glacial, que aumentou em trinta metros o nível dos oceanos? O nome Brasil dado a nosso país teria alguma coisa a ver com este ilha?
Para responder a estas e outras perguntas, o jornalista fluminense Geraldo Cantarino, formado em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense e com cursos de pós graduação em universidades europeias, escreveu o livro “ Uma Ilha chamada Brasil – O Paraíso Irlandês no Passado Brasileiro “, que fascina pela grande quantidade de informações e pela maneira clara com que escreve.
O autor, que é casado com uma irlandesa, pesquisou longamente o assunto na Irlanda, Inglaterra e na Internet, daí nascendo um inventário de lendas antigas que tomam a primeira parte do livro.
Nela, vemos que os antigos, desconhecendo o que havia no enorme mar que se estendia a partir da Europa, criaram vários acidentes geográficos, denominados Ilhas da Bem Aventurança, a maior delas a Atlântida, com território coberto de árvores e vegetação exuberante, onde vivia um povo sem doenças, feliz e imortal. A I Brasil ou Hy Brasil era uma delas (I e Y do nome têm a pronúncia da letra I de nosso alfabeto).
Como ela se localizava próximo da Irlanda, gestou uma quantidade enorme de lendas e narrativas, talvez maximizada pela natureza fria e inóspita do país. Era uma ilha que só se via de longe, pois a medida que os navegantes se aproximavam, movia-se para longe. Era vista ao entardecer, coberta de espessa neblina e somente a cada sete anos se deixava ver por inteiro.
O autor se pergunta se esta ilha existia somente na imaginação dos irlandeses ou se viajantes, especialmente fenícios, não teriam chegado ao nosso país muito antes das Grandes Navegações, o que teria levado os primeiros cartógrafos a localizar a nova terra no imenso mar desconhecido.
Pesquisas arqueológicas recentes não encontraram provas ou indícios da existência da I Brasil ou Hy Brasil, sendo sua sobrevida mantida pelas lendas belas e fantásticas do ideário europeu, notadamente o irlandês.
Porém, será que esta lenda teria influenciado no nome Brasil de nosso território?
Sabemos que, embora outros navegantes já aqui aportassem em missão oficial do Reino de Portugal, coube a Pedro Álvares Cabral a glória de nos ter descoberto. Ilha de Vera Cruz foi nosso primeiro toponímico, substituído oficialmente por Terra de Santa Cruz e, depois Brasil, devido à enorme quantidade do pau-brasil aqui nativo.
Será que, entre os piratas e corsários que vieram aqui buscar essa riqueza nos trinta anos seguintes à descoberta, quando a terra ficou abandonada, e que foram os criadores de nosso nome, não haveria um que pensou na ilha fantástica para denominar a nova terra?
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras