A inalação do vapor da gasolina automotiva pode causar câncer de bexiga e leucemia mieloide aguda em adultos, segundo estudo recente divulgado pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC). A pesquisa também foi publicada na revista britânica The Lancet Oncology, uma das mais importantes da área da saúde no mundo, fundada em 1823.
O estudo aponta que a exposição ao vapor da gasolina afeta principalmente trabalhadores que lidam diretamente com o combustível — seja na produção, transporte ou no abastecimento de veículos. Entre os profissionais mais vulneráveis estão os frentistas dos postos de combustíveis.
A pesquisa também identificou evidências — ainda que limitadas — de associação entre essa exposição e o desenvolvimento de outras doenças, como linfoma não-Hodgkin (incluindo leucemia linfocítica crônica), mieloma múltiplo, síndromes mielodisplásicas (grupo de doenças que afetam a produção de células sanguíneas na medula óssea), além de cânceres de estômago e rim.
A gasolina é composta por uma complexa mistura de hidrocarbonetos, podendo conter aditivos químicos usados para melhorar o desempenho, reduzir a emissão de poluentes e aumentar a octanagem (resistência à detonação). Cinco desses aditivos foram identificados como tóxicos e cancerígenos: benzeno, cumeno, xileno, tolueno e etilbenzeno.
Realidade em Ribeirão Preto
Segundo o Sindicato dos Frentistas, Ribeirão Preto possui hoje 1.800 profissionais atuando nos 175 postos de combustíveis da cidade. O piso salarial da categoria é de R$ 1.750,00, com adicional de 30% de insalubridade devido ao contato com substâncias perigosas.
A entidade afirma promover campanhas educativas com os trabalhadores, distribuindo cartilhas sobre os riscos do benzeno e instruções de proteção. O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) também realiza blitzes nos postos com o objetivo de fiscalizar o cumprimento das normas de saúde e segurança.
Entre os itens de proteção reivindicados pelo Sindicato estão calçados de segurança, óculos, luvas, máscaras com filtro para vapores orgânicos, uniformes com tecidos antichamas e bonés.
No plano nacional, a Federação Nacional dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo (Fenepospetro) cobra a adoção urgente de medidas eficazes para proteger a saúde desses trabalhadores.
O secretário de Saúde da Fenepospetro, Eduardo Silva, ressalta que os profissionais têm se mobilizado para que os postos adotem sistemas de recuperação de vapores nas bombas, reduzindo a inalação de substâncias tóxicas.
“É urgente que sejam reforçadas políticas públicas e normas de segurança ocupacional para minimizar os riscos à saúde dos frentistas e da população em geral. A divulgação dessa nova classificação pela IARC deve servir como um alerta para a necessidade de medidas mais rígidas de prevenção e fiscalização”, afirma.
A reportagem entrou em contato com o Núcleo de Postos de Ribeirão Preto, que reúne 100 postos da cidade, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Cuidados que a categoria deve ter
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) listou algumas medidas para minimizar a exposição dos frentistas e demais trabalhadores ao vapor da gasolina:
Para frentistas
– O abastecimento deve ser interrompido automaticamente pelo sistema da bomba. Não se deve continuar após o “clique”.
– Nunca cheire a tampa do tanque antes de abastecer; a inalação de vapores é prejudicial.
– Uniformes molhados com combustível aumentam a absorção de compostos tóxicos. O empregador deve providenciar a troca imediata.
– A saúde do trabalhador deve ser monitorada com exames periódicos (clínicos e laboratoriais) que detectem alterações precoces.
– Equipamentos de proteção devem ser usados corretamente: luvas impermeáveis e máscaras com filtro são essenciais durante o manuseio de combustíveis, inclusive na medição manual dos tanques subterrâneos.
Para postos de combustíveis
– Instalar sistemas de recuperação de vapores nos bicos das bombas.
– Cumprir as normas da NR-20 e NR-09 sobre segurança e saúde ocupacional.
– Realizar manutenção periódica nas bombas e nas peças protetoras contra respingos — panos ou flanelas são proibidos por lei.
– Adotar sistemas eletrônicos de medição nos tanques, eliminando o uso de réguas.
– Garantir EPIs adequados para todos os funcionários e a higienização semanal dos uniformes.
– Oferecer treinamentos regulares sobre os riscos da atividade e medidas de proteção.

