Juros altos vão frear ímpeto dos consumidores, apesar de conjuntura apontar caminhos para compras, diante de inflação desacelerando e renda em elevação
Com o mercado de trabalho aquecido, a renda média em elevação e uma maior injeção de recursos do décimo terceiro salário em curso, o varejo paulista vai faturar 4% a mais em dezembro deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024.
Se as projeções se confirmarem, o setor terá um faturamento de R$ 149,7 bilhões no período – a maior receita para um único mês dentro da série da histórica, iniciada em janeiro de 2008. De maneira intrigante, esse desempenho representará uma desaceleração em relação a dezembro passado, quando as receitas subiram 7,3% em relação a 2023, apontam os cálculos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Na capital, a projeção também é de um crescimento de 4% em dezembro, ritmo menor do que o de 2024, quando as vendas avançaram 6,8% em relação ao ano anterior. A taxa de crescimento prevista para o mês do Natal está muito próxima do que deve ser o resultado do varejo paulista no ano: a projeção da federação é de alta de 5% nas vendas do setor em 2025.
Além da forte base de comparação, a desaceleração é resultado da conjuntura complexa do país, marcada tanto por elementos positivos como por impasses significativos. De um lado, há um mercado de trabalho aquecido (o desemprego foi de 5,4% no trimestre encerrado em outubro, de acordo com o IBGE), o que mantém o consumo e eleva a renda média (rendimentos do trabalho cresceram 4% no terceiro trimestre, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea).
De outro, os juros altos acabam desestimulando as compras, principalmente de bens duráveis, como veículos ou eletrodomésticos, que dependem de crédito e de parcelamento do pagamento.
Além disso, a inflação segue acima do teto da meta, embora em desaceleração. Até 20 de dezembro, o pagamento do décimo terceiro salário tem potencial de injetar cerca de R$ 369,4 bilhões na economia brasileira. Cerca de 95,3 milhões de brasileiros serão favorecidos com rendimento adicional, em média, de R$ 3.512, de acordo com as estimativas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Ceia e presentes – Os números de dezembro serão afetados, sobretudo, pela demanda pelos itens da ceia de Natal, proporcionando aos supermercados faturarem 6% a mais do que no mesmo mês do ano passado. Como esse segmento tem um peso relevante na própria composição do faturamento varejista, uma alta dessa magnitude joga o resultado para cima. Ademais, a busca por presentes vai dinamizar alguns segmentos.
Neste caso, as lojas de roupas e calçados serão as grandes beneficiadas, com a maior alta do mês (9%). Em números absolutos, será R$ 1,4 bilhão a mais de receitas.
A FecomercioSP aponta que, além da procura por produtos para presentear, o maior fluxo de pessoas nas ruas e nos shoppings – associado aos resquícios de promoções da Black Friday – tende a sensibilizar muitos consumidores.
As farmácias e perfumarias também terão um bom desempenho (6%), seguindo a tendência de expansão, praticamente ininterrupta, do segmento nos últimos anos. Para a entidade, é importante esperar que o varejo paulista tenha o melhor Natal da história em termos de faturamento, mas lembra da desaceleração no segundo semestre deste ano, o que indica que o próximo ano será desafiador.

