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Veneno na garrafa e veto no plenário: a arte de prejudicar o povo 

Foto: Arquivo

Escrever para este periódico é sempre um exercício entre o prazer e a dor: prazer em ter sua preciosa atenção, caro leitor, e a dor de ter que descolar um tema interessante toda semana. Por isso, de vez em quando, aposento o figurino formal para vestir a capa do humor. Aliás, convenhamos, para sobreviver ao Brasil de hoje, bom humor é mais do que essencial, é equipamento de proteção individual.

Mas, afinal, o que pauta a pauta? As efemérides são ótimas muletas, mas a ferramenta mais democrática (e desesperadora) é mergulhar no caldeirão dos sites de busca. Fui lá fazer minha lição de casa e o que vi? Um misto caótico de preocupação e futilidade: a contaminação por metanol, o namoro do Vini Jr., a morte da Odete Roitman, a produtiva live do Lula com o Trump e, por último, mas não menos importante, o nosso amado e eterno Congresso inimigo do povo.

Sobre o último item, zero novidade. Mais uma vez, a maioria dos excelentíssimos se empenhou em garantir que os cofres públicos emagreçam enquanto os bolsos de megamilionários, fintechs e operadores de bets engordam. Estima-se que, em dois anos serão perdidos R$ 46 bilhões em arrecadação. A população, claro, que se vire.

Quanto à novela, confesso que não acompanho, pois tinha certeza que a Leila seria novamente a assassina, mas para dar mais audiência, parece que a autora vai mudar o final. Sobre o craque do Real Madrid, que ele namore quem quiser. O que realmente me interessa é que ele jogue na Seleção, pelo menos, metade do que joga no Clube. Nos últimos dez jogos, cinco gols e quatro assistências. Já o papo entre Lula e Trump, a videoconferência restabeleceu, em parte, aquela regra básica da diplomacia entre chefes de Estado: fingir que se gosta e que tudo está ótimo.

Vamos ao que realmente está tirando o sono (e a visão): o metanol nas bebidas. A cada surto desses, a histeria coletiva é imediata. A gente se pega pensando: “Será que aquelegin que tomei ontem tinha metanol?” Centenas de casos suspeitos, mas, até o momento, cinco mortes confirmadas. Uma tragédia,sem dúvida, mas o pânico parece que sempre vem diluído em exagero.

essa contaminação não é invenção moderna. Segundo a turma do Médicos Sem Fronteiras, desde 1998, uns 40 mil cidadãos foram intoxicados, com cerca de 14,4 mil óbitos. A liderança desse ranking macabro está com Indonésia, Índia e Rússia provando que a falsificação de bebida é uma praga global e não um problema exclusivo do nosso balcão.

O choque, porém, veio da pesquisa da Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares de SP, revelando que 36% das bebidas no Brasil são forjadas, adulteradas ou contrabandeadas. No caso da Vodka, é de assustar: uma em cada cinco garrafas é falsificada! O mais curioso disso tudo é que, bastou um surto, para que polícias e vigilâncias sanitárias soubessem exatamente quem são os meliantes, onde estão as fábricas clandestinas e, somente agora, apreenderam milhares de litros. Parece que o conhecimento era geral, mas a vontade de agir só veio com a crise. A brincadeira do “álcool batizado” evita que R$ 85,2 bilhões cheguem aos cofres públicos, fora o rombo no Sistema de Saúde que terá que consertar o estrago.

O que mais me preocupa é o ciclo vicioso. Lembram-se da Bahia, em 1999? 35 mortes e logo o tema foi para debaixo do tapete. A tendência é que os consumidores voltem a beber sem perguntar a origem, as autoridades afrouxem a fiscalização e os meliantes retomem a atividade criminosa. Ninguém aprende.

No Bar do Romano, essa crônica ganhou vida. Dilson, o intelectual do boteco, explicava a ação do Fomepizol. Luciano, com sua vasta experiência etílica, gritou: “Na falta dele, a cachaça é a melhor alternativa!” Sabendo que a caninha dali é do Sítio da Leninha, de procedência garantida, resolveram pedir uma rodada de “antídoto”. O Rodrigo, nosso sommelier, quebrou o protocolo e pediu a sua com gelo, gerando uma gargalhada geral.

Tudo isso, caro leitor, aconteceu na última sexta-feira, enquanto a Seleção goleava a Coreia do Sul com assistência e gol do, adivinhem, Vini Jr. O país pode estar em crise, mas o estoque de “remédio” e de assunto para a próxima semana parece garantido. E na sua opinião, qual será o próximo tema a tirar o Brasil do sério?

 

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