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Vitiligo afeta mais de 1 milhão de pessoas no Brasil

Ainda cercada por muito preconceito, doença que afetou famosos como Michael Jackson precisa, sobretudo, de conscientização

Mais de 1 milhão de pessoas convivem com o vitiligo, que não é contagioso e não causa problemas físicos além das manchas na pele (Foto: Freepik)

Por: Adalberto Luque

A funcionária pública Jesus de Andrade convive bem com vitiligo. Contudo, nem sempre foi assim. “No começo fiquei assustada, mas depois descobri que Vitiligo não transmitiria a outros. E com tratamento teve uma diminuição das manchas”, lembra.

A funcionária pública Jesus de Andrade mantém sua mancha controlada e fez tratamento com fototerapia, além de medicamentos tópicos (Foto: Arquivo Pessoal)

Hoje ela mantém a situação controlada, com a mancha em um só local. Para chegar ao atual estágio, fez tratamento com fototerapia e usa medicamentos tópicos.

Apesar de nunca ter sentido preconceito, Jesus entende que faltam informações e as pessoas possam entender que não há contágio ou riscos de conviver com alguém que tem vitiligo.

Muitos portadores já deixaram que a doença influencie suas vidas. Jesus, ao contrário, impediu que o vitiligo atrapalhasse sua vida social ou profissional.

Trabalhando há vários anos na área de saúde, é um exemplo de que o problema que afeta mais de 1 milhão de brasileiros não oferece riscos de contágio e a convivência pode ser normal e respeitosa.

Pesquisa

A Sociedade Brasileira de Dermatologia fez, há alguns anos, uma pesquisa inédita sobre a prevalência do vitiligo no Brasil, coordenada pelos dermatologistas Caio Castro e Hélio Miot, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

A enquete constatou que a região Centro-Oeste teve casos detectados em 0,69% da população, enquanto no Sudeste a enfermidade atingiu 0,66%. Em seguida vieram as regiões Norte (0,65%), Sul (0,40%) e Nordeste (0,39%).

Pela média regional verificada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, Ribeirão Preto pode ter quase 5 mil portadores de vitiligo (Foto: Freepik)

Em Ribeirão Preto não há estimativas oficiais, mas como em grande parte do Sudeste, estima-se que cerca de 0,66 % da população conviva com o vitiligo — uma taxa ligeiramente acima da média nacional (0,5 %). Com 720 mil habitantes, a cidade poderia abrigar aproximadamente 4.750 casos, considerando essa prevalência regional.

O vitiligo é uma condição autoimune crônica marcada pela perda de melanócitos, resultando em manchas esbranquiçadas na pele – não é contagiosa, mas pode trazer impacto emocional significativo. O aparecimento da doença está associado a fatores genéticos em cerca de 30 % dos pacientes relatando histórico familiar ou ambientais, incluindo estresse, traumas e infecções.

Nas unidades de saúde da cidade, pacientes geralmente recebem abordagem multidisciplinar: uso de protetor solar, terapias tópicas (corticosteroides, imunomoduladores), fototerapia e apoio psicológico – visando estabilização e repigmentação.

A busca por informações e apoio emocional tem aumentado localmente, embora o estigma persista. A conscientização e o acesso a tratamento precoce e suporte mental são essenciais para reduzir o impacto na autoestima e qualidade de vida dos portadores.

Importância do diagnóstico precoce

O Dia Mundial do Vitiligo foi celebrado em 25 de junho e a médica especialista em Dermatologia Flávia Villela aproveitou para reforçar a importância do diagnóstico precoce e do acompanhamento contínuo para a doença, uma condição que, embora não cause dor ou coceira, pode impactar profundamente a autoestima e o bem-estar psicológico dos portadores.

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, mais de 1 milhão de brasileiros convivem essa doença crônica autoimune da pele. Esse fenômeno ocorre quando os melanócitos, células responsáveis pela produção de melanina, são destruídos.

Famosos, como Michael Jackson, lidaram abertamente com a condição. “O vitiligo não é uma doença infecciosa e não traz riscos à saúde física, mas seu impacto psicológico pode ser significativo. As manchas podem gerar insegurança e afetar a forma como o paciente se relaciona com os outros e consigo mesmo”, afirma Flávia Villela.

Para a médica dermatologista Flávia Vilela, é fundamental o diagnóstico precoce (Foto: Juliana Rangel Comunicação)

Fatores como predisposição genética, estresse e exposição excessiva ao sol podem agravar o quadro de vitiligo. “O diagnóstico precoce é essencial para um tratamento mais eficaz. Quando a condição é identificada nos estágios iniciais, o tratamento tende a ser mais bem-sucedido, ajudando a minimizar a progressão e os efeitos estéticos”, explica a médica.

A escolha do tratamento deve ser individualizada, levando em consideração o tipo e a extensão das lesões. Nos primeiros sinais, o combinado de terapias, como fototerapia, medicações tópicas e orais, pode oferecer resultados significativos na redução das manchas e até mesmo na repigmentação da pele.

A prevenção contra a exposição solar excessiva também é um ponto crucial destacado pela médica. “As áreas sem pigmentação têm maior sensibilidade à radiação ultravioleta, o que pode acelerar o envelhecimento da pele e aumentar o risco de danos. Por isso, é fundamental que os pacientes usem protetor solar com Fator de Proteção Solar (FPS) elevado, mesmo em dias nublados, e adotem cuidados diários com a pele”, orienta Flávia Villela.

Figuras Públicas

A visibilidade do vitiligo tem aumentado ao longo dos anos, especialmente com a revelação de figuras públicas que compartilham suas experiências com a condição. Michael Jackson, um dos artistas mais icônicos do século 20, viu sua imagem ser transformada diante do público mundial por conta de uma condição de pele ainda cercada de tabus e preconceitos.

Michael Jackson foi um dos famosos que lidou com o vitiligo e foi vítima de preconceito, acusado de querer clarear a pele (Foto: Domínio Público/Reprodução)

Diagnosticado com a doença nos anos 1980, o Rei do Pop enfrentou uma avalanche de especulações sobre sua aparência, frequentemente acusado de tentar “embranquecer” sua pele. Só após sua morte, em 2009, o laudo da autópsia confirmou a presença da doença – algo que ele já declarava publicamente desde 1993, em uma rara entrevista concedida a Oprah Winfrey. Ainda assim, muitos seguiram desacreditando sua versão.

Estudos indicam que a enfermidade afeta entre 0,5% e 1% da população mundial, sem distinção de etnia ou classe social. Embora não cause dor física, o impacto emocional pode ser devastador – especialmente para pessoas constantemente expostas ao olhar do público.

Além de Michael, outros artistas também passaram a falar abertamente sobre a condição, contribuindo para quebrar o estigma em torno do vitiligo. A modelo canadense Winnie Harlow talvez seja o exemplo mais conhecido dessa nova geração. Ela transformou o vitiligo em marca registrada e redefiniu os padrões da moda ao desfilar por grifes renomadas e estampar capas de revista.

Em vez de esconder, ela tornou as manchas parte de sua identidade. Sua trajetória passou a inspirar jovens do mundo todo, reforçando a mensagem de que a beleza está na diversidade.

No Brasil, nomes como a atriz e apresentadora Luiza Brunet também já comentaram sobre sua experiência com o vitiligo, revelando ter manchas espalhadas pelo corpo. Em entrevistas, ela relatou ter passado por períodos de vergonha e busca por tratamentos, até encontrar uma maneira de conviver com a condição de forma equilibrada.

Winnie Harlow tornou a condição sua marca registrada (Foto: Instagram/Reprodução)

Em comum, esses famosos dividem não apenas a notoriedade, mas também o desafio de enfrentar julgamentos e padrões estéticos muitas vezes cruéis.

Na era das redes sociais, o debate em torno do vitiligo ganhou novas dimensões. Pessoas anônimas e influenciadores passaram a compartilhar suas histórias, tratamentos e, sobretudo, a maneira como enfrentam o preconceito.

O mundo digital ampliou o alcance de campanhas de conscientização e permitiu o surgimento de comunidades de apoio. A visibilidade, nesse contexto, tornou-se um instrumento de transformação.

Voltando a Michael Jackson, sua trajetória revela o peso que o preconceito pode ter até mesmo sobre os mais poderosos. Ele chegou a utilizar maquiagem e despigmentação completa da pele como forma de uniformizar o tom do corpo, depois que as manchas se tornaram extensas e irregulares.

Seu guarda-roupa passou a incluir luvas, óculos escuros e roupas que cobriam boa parte do corpo. O público, no entanto, pouco se interessava em compreender a condição clínica. Preferia alimentar mitos e escândalos, ignorando o sofrimento silencioso de um artista com uma condição que lhe escapava completamente de controle.

Empatia

Falar de vitiligo, portanto, é também falar sobre empatia, informação e combate à desinformação. Quando figuras públicas assumem sua condição, ainda que com dor e resistência, abrem caminho para que milhões de pessoas anônimas encontrem acolhimento e força para seguir.

Vitiligo também é empatia, informação e combate à desinformação (Foto: Freepik)

O que antes era escondido sob camadas de roupas ou maquiagem, agora ganha luz. A visibilidade do vitiligo tem aumentado ao longo dos anos, especialmente com a revelação de figuras públicas que compartilham suas experiências com a condição – e voz.

Justamente por isso, é importante ampliar medidas de conscientização. “A aceitação social do vitiligo é fundamental para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Além do tratamento médico, é necessário um movimento social que promova o respeito e a inclusão, criando um ambiente mais acolhedor para todos”, conclui a dermatologista Flávia Villela.

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