Ele passou como um meteoro pelo futebol – e também pela vida. Em pouco mais de dois anos, Zé Mário deixou de ser um simples garoto que corria pelos gramados da cidade para se transformar no maior ponta-direita da história de Ribeirão Preto. Se não fosse a morte prematura – com apenas 21 anos -, não é exagero afirmar que o atacante seria presença certa nas Copas do Mundo de 1982 e 86, assim como foi seu colega de time, Sócrates.
Em 2002, com mais de 62% dos votos, Zé Mario foi o atacante mais votado na Seleção ComeFogo de Todos os Tempos, ‘eleição’ realizada pelo Tribuna com mais de 200 pessoas, entre jornalistas, dirigentes e torcedores. Assim como os demais integrantes do ‘Time dos Sonhos’, ele ganhou uma página contando sua vida.
José Mário Donizeti Barone nasceu em Ribeirão Preto em uma data festiva, 1º de maio de 1957, Dia do Trabalho. Terceiro filho de Geraldo Barone e Alice Franceschini Barone, Zé Mário, garante a mãe, sempre foi apaixonado pelo futebol. “O pessoal vinha aqui em casa atrás dele e eu dizia que ele não estava. Quando eu virava as costas, ele saía escondido e ia jogar futebol”, lembrou ela, que naquela época (2002) ainda mantinha intacto o quarto do filho, como se o atacante fosse chegar de um treino ou viagem dali poucos minutos.
Destaque nas peladas disputadas nos campinhos do Santa Cruz do José Jacques, bairro onde sempre viveu, Zé Mário foi levado por diretores sertanezinos para defender o São Paulo daquela cidade no campeonato Dente de Leite. Ao seu lado jogava o meio-campista Vander, ex-Comercial e Botafogo.
Em 1972, graças a João Fernandes, seu treinador nos juvenis do Comercial, fez testes no Fluminense junto com o amigo Vander. Mesmo aprovado, Zé Mário voltou para Ribeirão. “O Zé Mário e o Vander foram fazer testes no Fluminense, do Rio de Janeiro. O Zé foi aprovado, mas como o Vander não foi, ele resolveu abandonar tudo e voltou para Ribeirão”, revelou ‘seu’ Geraldo.
De volta à Ribeirão, Zé Mário ficou pouco tempo no Comercial. Como a diretoria do Alvinegro se negou a dar-lhe uma ajuda de custo de 300 cruzeiros por mês (valor irrisório para a época), o craque preferiu parar com a bola.
Desiludido com o futebol, foi ajudar o pai trabalhando com o caminhão da família. Mesmo sem possuir carteira de habilitação (e nem idade suficiente para tal), Zé Mário orgulhava-se de nunca ter sido parado
pela Polícia
Pais de Zé Mário, sentados, ao lado da famíliaRodoviária. “Ele tinha uns 14, 15 anos e já dirigia o caminhão comigo. Ele ficava na direção até passar por algum Posto Policial, quando então eu assumia o volante”, orgulhou-se o pai, recordando os dotes automobilísticos do filho.
Mesmo desgostoso com o futebol, Zé não conseguia se ver longe da bola. Nos finais de semana, ia de vez em quando até Sertãozinho disputar peladas com os colegas. E foi graças a esses jogos que o craque chegou ao Pantera.
“Um dia me disseram que tinha um moleque bom jogando em Sertãozinho, quando cheguei lá vi que era o Zé Mário”, revelou Milton Bueno, o Tiri, responsável por trazer o atleta para o Botafogo.
Atuando como meia-direita nos juvenis do Botafogo, Zé Mário foi deslocado para a ponta-direita por Tiri, então treinador do time, em um amistoso contra o Patrocínio E.C., da cidade mineira homônima.
Lançado no Torneio José Ermírio de Morais de 1976, Zé Mário conquistou a confiança de todos com seu futebol de dribles curtos e atrevidos, a ponto de garantir a vaga de titular no time para o Campeonato Paulista daquele ano. Na mesma temporada, o Botafogo disputou pela primeira vez o Campeonato Brasileiro. Empolgado com a participação, o Tricolor não economizou nas contratações, trazendo reforços para quase todas as posições. Menos para a ponta-direita. “O lugar já é dele”, garantiu, em entrevista à época, Milton Bueno.
Garoto humilde, Zé sofreu com o medo e as gozações dos colegas em suas primeiras viagens de avião para defender o Botafogo no Brasileirão. Por causa do volante Mário, que lhe disse que a comida servida no avião era “caríssima”, o atacante ficou sem comer durante todo seu primeiro voo.
Com vinte anos de idade, Zé Mário ajudou o Botafogo a conquistar a Taça Cidade de São Paulo em 1977. Suas boas atuações no torneio lhe valeram uma convocação do treinador Cláudio Coutinho para a Seleção
Brasileira, onde chegou a disputar dois amistosos, um deles contra a Inglaterra.

Durante os exames médicos da Seleção descobriram algo de errado com a saúde do jovem atleta, comunicando imediatamente ao departamento médico do Botafogo. Depois de algum tempo, a triste notícia: Zé Mário apresentava sintomas de leucemia. Mas, talvez não aceitando a triste realidade, os médicos trataram do garoto por algum tempo como se ele sofresse, segundo Wilson Roveri, “de debilidade geral por causa de uma hepatite mal curada”.
Fragilizado pela doença, o atacante foi internado na Beneficência Portuguesa, vindo a falecer semanas depois, no dia 7 de junho de 1978, enquanto o Botafogo perdia para o Flamengo no estádio Maracanã.
Até hoje um dos maiores ídolos da torcida botafoguense, Zé Mário deixou três irmãos – Antônio Luís, Maria Aparecida e Ana Helena – e seis sobrinhos – Édson Luís e Daniela (filhos de Antônio), Vanessa e Evandro (filhos de Maria), Jerusa Helena e José Mário (filhos de Ana Helena).
Na época da entrevista, Evandro Barone buscava seguir os passos do tio. Com 18 anos, o lateral-direito treinava desde os oito anos de idade, ingressando em 2002 no Comercial. Não seguiu, porém, carreira. Deixou o futebol pouco depois, sem chegar ao profissionalismo.
Nota: Geraldo e Alice, pais de Zé Mário, faleceram há poucos anos. Milton Bueno, o Tiri, supervisor e treinador responsável por lançar o atacante no Botafogo, faleceu em 2009, aos 73 anos.
Primo jogou na dupla ComeFogo
O atacante Kadu Barone, atualmente com 31 anos, é o único familiar de Zé Mário a seguir carreira no futebol. Seu avô, Jovino, é irmão de Geraldo Barone, pai do craque tricolor.
Também revelado pelo Botafogo, Kadu já defendeu 23 clubes. É considerado ‘rei do acesso’. Em 2021, conquistou a Série C com o Ituano. No ano seguinte, subiu com o Pantera. Já em 2023, com o Ferroviário do Ceará, foi campeão brasileiro da Série D.

“Comecei no Botafogo com sete anos. Nunca coloquei na cabeça o fato de ser primo do Zé Mário. Ele foi único, igual não tem ninguém”, compara Kadu Barone, que se prepara para defender a Internacional de Bebedouro no próximo campeonato paulista da Série A4 e é o guardião de uma das camisas deixadas por Zé Mário para a família. “Ganhei a branca, com o número sete, e guardo com muito orgulho”.

