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15 MINUTOS DE RIBEIRÃO – Vinho, gastronomia, história e verde

Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão

Quem conhece Cravinhos, a cerca de 20 km de distância de Ribeirão Preto, sabe que o clima da cidade é mais ameno. Altitude, riquezas históricas e população reduzida conferem à localidade o ambiente ideal para experiências que incluem vinho! Em breve o município começa a receber visitantes na primeira vi­nícola com produção 100% local.

A Vinícola Biagi nasce com a assinatura da família que é tradi­cional no agronegócio regional. A inauguração oficial foi neste sábado, dia 4, para convidados. As visitas, individuais ou cor­porativas, podem ser agenda­das a partir do próximo sábado, dia 11. O projeto teve início em 2019, após o proprietário da fa­zenda, o empresário Luiz Biagi, visitar outras vinícolas no inte­rior de São Paulo e se convencer de que essa região é propícia para a produção de uvas viníferas.

Luiz Biagi: quando o projeto estiver 100% concluído a expectativa é chegar a 20 hectares, o que resultará na produção de aproximadamente 100 mil garrafas de vinho por ano

Amplitude térmica
Dias mais quentes e noites mais frias, chegando a até 20 graus em alguns períodos – são alguns pontos fortes da cidade para o sucesso da produção. “Minha inspiração para esta iniciativa veio do amigo Pau­lo Brito, da vinícola Guaspari. Ao visitar o local saí encantado com o projeto, mas ao mesmo tempo com a sensação de ser inatingível na nossa região. Dois anos depois, visitei a Vinícola Marquese di Ivrea, do também amigo Beto Lorenzato, que me incentivou a investir nessa ati­vidade, mostrando a sua viabi­lidade ao me oferecer as mudas das uvas, orientação técnica, acompanhamento e mostrar a vantagem da amplitude térmica da região”, explica Biagi.

O proprietário passou a estudar mais sobre o assun­to e decidiu tirar o projeto do papel. Outra motivação que o levou a isso foi a questão his­tórica de sua família. “Meu avô Pedro Biagi chegou ao Brasil, vindo da região de Veneto na Itália em janeiro de 1888. Nos­sa família desde essa época tra­balhava com vinhedos, sendo que até hoje alguns descenden­tes ainda trabalham na ativida­de. Foi uma forma de prestar homenagem a essas pessoas que vieram para cá com tanto sofrimento e se desenvolveram aqui nesse Brasil tão acolhedor. Por esse motivo também que escolhi adquirir material gené­tico de uvas italianas”, afirma.

Inicialmente foram plantados 12 hectares das uvas Moscato Giallo, Nebbiolo e Sangiovese, cuja primeira safra foi em mea­dos de 2022. São uvas consagra­das há centenas de anos na Itália, das quais são feitos os famosos vi­nhos Brunello, Chianti e Barolo.

Inicialmente foram plantados 12 hectares das uvas Moscato Giallo, Nebbiolo e Sangiovese (foto), cuja primeira safra foi em meados de 2022

Quando o projeto estiver 100% concluído, a expectativa é chegar a 20 hectares, o que re­sultará na produção de aproxi­madamente 100 mil garrafas de vinho por ano.

A princípio, a vinícola está trabalhando com um rótulo, de vinho tinto seco, o Pietro (home­nagem ao avô Pedro). A produ­ção é comandada pela enóloga Isabela Peregrino e o envasamen­to está sendo terceirizado para a Vitacea, localizada em Caldas (MG), até que a fábrica da Fazen­da Cravinhos, que está em início de construção, seja concluída.

O primeiro lote comercial, com 1.300 garrafas, será lança­do em março e, por enquanto, o produto será vendido somente na vinícola. Outro rótulo que já foi testado de forma experimen­tal é o Carina Biagi (homena­gem à esposa de Luiz), um bran­co seco feito à base da Moscato Giallo, que ainda não tem previ­são de comercialização.

De acordo com Anísio Ro­drigues, gerente geral da Viníco­la, além da amplitude térmica, a técnica de dupla poda ou poda invertida (colheita de inverno) mostrou excelentes resultados na região, com dados embasa­dos em pesquisa realizada pela Empresa de Pesquisa Agropecu­ária de Minas Gerais (Epamig).

“Pensando pelo lado do agronegócio, esse empreendi­mento contribui com novas tecnologias para a diversificação das culturas na região. Vem so­mar-se ao que já temos de exce­lência nas atividades sucroener­géticas, cafeeira, na citricultura, na área de laticínios. A tecnolo­gia e o conhecimento são a base para o desenvolvimento de tudo no mundo. Isso transforma nos­sa região em referência e tecno­logicamente evoluída. Do ponto de vista do enoturismo, fortalece o interior de São Paulo que cada vez mais vem se tornando refe­rência nessa área”, analisa Anísio.
Em relação à geração de renda, somente nos vinhedos, o projeto gerou 24 empregos. Quando estiver consolidado chegará a 50 empregos diretos.

Sustentabilidade
Todo o projeto da vinícola foi construído pensando na sustentabilidade, buscando aproveitar, sempre que possível, materiais da própria fazenda. Todas as cerquinhas no entorno dos caminhos, foram feitas de madeira reaproveitada de antigas cercas, os tijolos são de demoli­ção, algumas peças do mobiliário foram feitas com madeira cultiva­da na fazenda ou de árvores que caíram de forma natural.

O sistema de irrigação utilizado é por gotejamento, o que permi­te utilizar a menor quantidade de água possível, de forma muito eficiente, sem desperdício, lançando as gotas diretamente no pé das plantas e só na quan­tidade necessária. É também o sistema que consome a menor quantidade de energia elétrica. Toda a energia consumida, é ge­rada dentro da própria Fazenda Cravinhos, através de painéis solares em uma pequena usina solar. “Nosso objetivo com tudo isso é sermos ecologicamente o mais sustentáveis possível, bus­cando sempre produzir e preser­var, gerando emprego e renda”, ressalta Anísio Rodrigues.

Todo o projeto da vinícola foi construído pensando na sustentabilidade, buscando aproveitar, sempre que possível, materiais da própria fazenda

Sobre a Fazenda Cravinhos – Fundada em 1820 pelo Capi­tão Mateus José dos Reis e adquirida em 1976 pela família Pereira Barreto, foi o berço do café Bourbon em São Paulo, tendo fornecido sementes inclu­sive para o governo do estado. Distante 2,5 km da cidade, na década de 50, foi potência na cafeicultura e na criação de gado da raça Gir, além do cultivo de arroz, tomate, milho e feijão. Possuía excelente estrutura de máquinas e construções. Ad­quirida por Luiz Biagi em 1983, com aproximadamente 700ha, a Fazenda Cravinhos vem se modernizando, ampliando suas instalações e aperfeiçoando os processos produtivos.

Além dos vinhedos, da vinícola e da osteria, também mantém atividades como: cana-de­-açúcar e gado de leite da raça holandesa. Por meio de uma parceria, mantém torrefação que produz o café dentro da fazenda. Ainda mantém atividades como: pecuária extensiva com gado de corte, mantido em pastagens nas áreas mais íngremes; Haras Cravinhos, há mais de 30 anos criando cavalos da raça Man­galarga Paulista, em sistema de pastos e cocheiras; ovinos (que serão utilizados na culinária da osteria) e granja com galinhas poedeiras de ovos galados.

Experiências junto à natureza
Além da visita aos vinhedos, o passeio pela Fazenda Cravinhos inclui experiências únicas em meio à natureza, nos vários caminhos que foram detalha­damente pensados para que os visitantes possam contemplar, vivenciar, tirar fotos e interagir com a paisagem local.

O Caminho das Flores, localizado no alto de um vale e entre vinhas das variedades Sangiovese e Moscato Gialo, é ideal para uma curta caminhada contemplativa e que possibilita a parada para belas fotografias. As flores nele cultivadas são perenes, na sua maioria comestíveis e usadas na culinária da osteria. São espécies que atraem borboletas boas para o vinhedo e geram aromas florais agradáveis ao ambiente e em uma pequena proporção, acabam por influenciar no terroir dos vinhos.

Uma das variedades de flores cultivadas é a Cravina, essa flor em particular, tem uma grande importância histórica, pois ela deu origem ao nome da cidade de Cravinhos e da própria fa­zenda. O plantio é também para fazer esse resgate histórico.

O Caminho das Ervas, proporcio­na a interação com diversas varie­dades de plantas, possibilitando o conhecimento de suas origens e funções, bem como a oportu­nidade de sentir os agradáveis perfumes deixados no ar ao seu redor. São ervas utilizadas na gastronomia da osteria.

O Caminho das Águas possibilita o contato com um bem precio­síssimo, talvez um dos mais importantes para a vida na terra. Nele, é possível contemplar a água que brota do solo nas nas­centes, que são protegidas, com uso consciente das águas para a sua preservação. Toda a água utilizada na Fazenda Cravinhos é proveniente de nascentes e distribuída pela propriedade pela força da gravidade, sem o uso de bombas elétricas. Como este espaço está muito próximo das nascentes, não era possível o bombeamento da água por gravidade. A roda d’água, que também faz parte desse cami­nho, foi uma excelente opção ecologicamente sustentável e adequada para resolver essa questão. A roda d’água gera um som agradável, perfeito para quem deseja sentar um pouco, ouvir e contemplar a natureza.

As visitas, individuais ou corporativas, podem ser agendadas a partir
do próximo sábado, dia 11

Visitas e osteria
Depois da implantação dos vinhedos, veio a ideia de investir em uma osteria (na Itália a pa­lavra determina lugar que servia vinho e comida simples, além de oferecer hospedagem) para possibilitar uma experiência completa aos enoturistas.

O local foi projetado pela arqui­teta Sissi Verri e a cozinha está a cargo da chef Beatriz Nomelini, gastrônoma, com pós-graduação em docência do ensino superior, MBA em Marketing com ênfase em negócios gastronômicos e especialização Master Chef pelo Culinary Intitute of America da Califórnia e adepta aos conceitos de “comida de verdade” e incenti­vadora do “Farm to table”.

“Trabalhei em diversos res­taurantes gastronômicos com influência francesa e italiana, sem perder a “brasilidade”. Nos últimos anos, fui docente em faculdades e escolas de gastro­nomia da região e me dediquei à meliponicultura. Também sou apaixonada por vinhos, o que me motivou a aceitar esse desafio de chefiar a osteria da Vinícola Biagi. Entrei de corpo e alma no projeto e estou morando na Fazenda Cra­vinhos com minha família para poder me dedicar ainda mais a ele”, explica Beatriz.

A osteria tem uma “Cozinha de Inspiração Italiana com Alma Brasileira”, como define Beatriz. O cardápio quinzenal é elabora­do com produtos sempre frescos e selecionados pela chef usando tudo que pode ser produzido na própria fazenda, respeitando sa­zonalidade e tipo. “Valorizamos e agregamos produtos feitos na região e orgânicos sempre que possível”, conclui.

Além de servir os almoços nas visitas, o espaço será aberto para eventos fechados, tanto corporativos como sociais, e também para cursos de gas­tronomia e enologia. A osteria conta com consultoria do enó­logo Pedro de Guide, na parte de harmonização de vinhos.

Serviço
Localização: Fazenda Cravinhos, na Rod. Angelo Cavalheiro, km 1,3 – saída de Cravinhos para Serrana. Ao chegar na entrada da fazenda, seguir as placas sentido OSTERIA.
Horário de funcionamento: Aos domingos, das 9h30 às 15h, mediante agendamento.
Agendamento de visitas: 16 98843-4976 – WhatsApp (Paulo) ou 16 3951-2220 – escritório ou ainda pelo e-mail: osteria@ vinicolabiagi.com.br
Instagram: @vinicolabiagi
Opções de visita:
Só almoço (sem degustação, harmonização e passeio)
Almoço com degustação de vinhos (sem passeio)
Tour guiado com harmonização de vinhos (sem almoço)
Completo – almoço com degustação de vinhos, tour pelos vinhedos e caminhos
Também aberto para eventos corporativos e sociais

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