O debate sobre a natureza e a criação vem desde a metade do século XIX. A posição a favor da natureza originou-se do trabalho de Charles Darwin, então aperfeiçoada por seu primo, Sir Francis Galton, que afirmou que os princípios da seleção natural também se aplicavam ao comportamento, tão bem quanto para as características físicas. Os membros de uma espécie variam na expressão de certos comportamentos devido às variações em seus genes, e esses comportamentos têm valor de sobrevivência em alguns ambientes.
Baseada em modelos de pesquisa usados em genética comportamental, essa visão entende que uma parte substancial (cerca de 50%) das diferenças individuais no QI é genética. Portanto, mesmo quando todos os indivíduos são tratados da forma mais similar possível, as diferenças entre eles não desaparecem, embora possam diminuir. Galton argumentou que não havia como fugir da conclusão de que a natureza prevalece enormemente sobre a criação.
A posição ambientalista, ao contrário, não postula qualquer fator genético para explicar essa diferenciação, porque sustenta a noção de que, quando os ambientes são construídos de forma o mais similar possível para todos os indivíduos, as diferenças individuais observadas no QI tenderão a desaparecer, ainda que isto possa ser difícil de alcançar. Essa concepção tornou-se predominante nas ciências sociais desde o início da década de 1930.
Isso ocorreu, de um lado, como consequência do aparecimento do behaviorismo, que surgiu como forma de protesto contra as abordagens introspectivas da psicologia, relacionadas a estados mentais como consciência e desejo. De outro lado, em especial após os horrores das políticas disgênicas dos nazistas se tornarem conhecidos pelo mundo, houve forte rejeição às ideias galtonianas. Esse fato contribuiu para estigmatizar a pesquisa sobre inteligência baseada nessas ideias de uma maneira raramente vista na literatura científica, exceto, talvez, em relação à evolução, tal como percebida pelos fundamentalistas bíblicos.
Durante as décadas de 1940 e 1950, o behaviorismo e a teoria da aprendizagem (de Watson a Skinner) dominaram a psicologia americana. Já no início dos anos 1980, as ciências do comportamento começaram a aceitar mais comumente a influência genética no comportamento. Isso se refletiu no crescente número de artigos sobre genética do comportamento publicados em periódicos de psicologia.
Um marco dessa mudança ocorreu no centenário da reunião anual (1992) da American Psychological Association, quando foram escolhidos dois temas para representar o passado, o presente e o futuro da Psicologia: a genética comportamental — entendida como o estudo genético do comportamento, incluindo genética quantitativa (estudos com gêmeos e adotivos) e genética molecular (estudos de DNA) — aplicada ao comportamento humano e animal, desde respostas mensuradas no cérebro, como o neuroimageamento funcional, até questionários de autoavaliação.
Assim, o século XX viu o pêndulo entre natureza (genética) e criação (ambiente) oscilar inúmeras vezes ao longo dos anos. Esse movimento ocorreu mesmo em relação à inteligência — uma das áreas mais controversas da psicologia e da genética comportamental. Um levantamento com mais de mil cientistas sociais, especialistas em comportamento e educadores indicou que a maioria aceitava, sem restrições, o papel significativo da hereditariedade sobre o QI e, inclusive, a existência de uma inteligência geral (g).
Apesar disso, a suposição de que fatores genéticos influenciam traços comportamentais — especialmente a inteligência (ou QI) — continua altamente controversa, e inúmeros argumentos contrários são frequentemente expostos na literatura profissional.
Nos últimos 30 a 40 anos, estudos sobre genética do comportamento, interação entre genética e ambiente e, mais recentemente, sobre o chamado genoma social, multiplicaram-se intensamente. Grande parte desses trabalhos foi inspirada pelos insights de Galton. Apesar das controvérsias ainda existentes, a literatura científica atual indica uma concepção na qual o pêndulo, ao longo dos anos, vai perdendo sua inércia e busca repousar, de forma mais harmônica, entre natureza e criação.

