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Nossa identidade reflete o significado da vida

Foto: Arquivo

José Eugenio Kaça *
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No Brasil o alinhamento entre o setor público e privado, criou uma máxima usada quando os interesses de ambos convergem: “criar dificuldades, para vender facilidades”. Depreciar a gestão pública, escancarando suas mazelas, para depois como bons samaritanos oferecem suas capacidades administrativas para resolver os problemas que o setor público, segundo eles não têm capacidade para resolver seus problemas, e estão dispostos a ajudar desde que seja por um preço módico – esse é o mantra do capital privado para abocanhar as riquezas que seriam do povo brasileiro.

A verba carimbada da educação básica pública, sempre despertou a cobiça de grupos econômicos, que transformaram a educação básica num grande negócio. Não é à toa que estes grupos trabalham diuturnamente junto às secretarias de educação vendendo ideias e projetos, que vão melhorar o aprendizado dos educandos pobres, que segundo essa gente “qualificada” têm mais dificuldade para aprender, e por isso custam mais caro.

A máxima capitalista, que vê sempre nas tragédias uma oportunidade de negócio enxergou na pandemia a grande oportunidade de abocanhar mais uma fatia da educação básica pública. As redes públicas, mesmo antes da pandemia já enfrentavam dificuldades, que eram mascaradas com pequenos avanços pontuais, mas a pandemia escancarou tudo. O ensino remoto nas redes públicas básicas, não conseguiu entregar aquilo que prometeu, e o aprendizado que já era precário no ensino presencial – naufragou de vez.

E é nestes momentos de dificuldades que aquele velho alinhamento público-privado entra em ação. O artigo 206° da Constituição brasileira garante a liberdade para aprender, a gratuidade em estabelecimentos oficiais, garantindo padrão de qualidade, no entanto, a tecnologia não desembarcou nas escolas básicas públicas, e com isso o abismo educacional entre as redes públicas e privadas que já era enorme – sumiu no horizonte. Como a oportunidade de negócios não perde tempo, incapacitar os educados das escolas públicas colocando-os numa situação aviltante vai gerar lucro.

Propagandearam, que a pandemia prejudicou de forma catastrófica o aprendizado nas redes públicas, e que vão ser preciso onze anos para recuperar o aprendizado pré-pandemia – é do arco da velha. Que não havia um planejamento de curto, médio e longo prazo para educação básica pública era público e notório, mas querer voltar ao patamar pré-pandemia é falta de conhecimento ou crueldade mesmo – achar que o educando pobre não tem capacidade para aprender é coisa de gente hipócrita e sem qualidade de ser humano, querem usar o educando pobre para enriquecer ainda mais.

As novas tecnologias criaram as redes sociais, que  aceleraram de maneira exponencial as informações, só que as relações humanas,primordial para uma vida saudável se perderam no horizonte. A solidariedade, fundamental nas relações humanas foi substituída pelo individualismo, e pelas curtidas nas redes sociais, com isso o significado da vida fica sem sentido. O afeto, o cuidado e a solidariedade estão sendo esquecidos, e o significado da vida fica comprometido. O aprendizado só acontece no plural, e a sedimentação do individualismo torna o ser humano menos humano.

A incoerência é ver que temos os maiores pensadores mundiais da educação básica, portanto, não precisamos importar conhecimentos. Já existem no Brasil modelos de escolas inovadoras, que não são tão inovadoras assim, pois se alicerçaram nos conhecimentos destes mesmos pensadores. A transformação do professor tradicional em educador/mediador, a extinção do isolamento dos educados, e a transformação do aprendizado individual em aprendizado coletivo e harmônico são imprescindíveis, pois o aprendizado só acontece no plural.

A mortandade na educação básica pública brasileira é incomensurável, pois não há doença ou pandemia que mate tanto, o momento agora é de reflexão e de se abrir para o novo, que não é tão novo, pois as leis para a educação básica, que se iniciaram em 1961, e se completaram com a Constituição cidadã de 1988 estão aí. Temos as leis – é só cumprir-las.

* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação

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