Tribuna Ribeirão
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A Colômbia e sua Literatura (19): Julio Arboleda 

Rosemary Conceição dos Santos* 

De acordo com o volume de biografias da Grande Enciclopédia da Colômbia do Círculo de Leitores, Julio Arboleda Pombo foi um escritor de educação rica e cuidadosa, que adquiriu os rudimentos do conhecimento em Popayán, dos lábios de sua avó materna, Beatriz O’Donnell, e de seu preceptor Manuel María Luna. Aos onze anos, foi levado pelo pai para Londres, onde continuou seus estudos sob os cuidados de um professor de espanhol. Retornou a Popayán em 1836, via Cartagena e Chocó, estudou direito na Universidade e trabalhou na imprensa, escrevendo “El Independiente”. Participando ativamente da guerra civil de 1840, em defesa do governo, chegou ao posto de tenente-coronel e foi enviado em missão especial ao Equador e aos revolucionários no Panamá. Restaurada a paz, Arboleda publicou “El Patriota”, em 1842, e “El Payanés” em 1843. Em 1844, foi para a Câmara dos Representantes, pela província de Buenaventura, que incluía a região de seu nascimento, e se destacou por sua educação, seus dons oratórios e sua maneira de se expressar, distinguindo, como os espanhóis, entre c, s e z. Retornou à Câmara em 45 e 46, sempre por Buenaventura, e em 1848 o fez por Barbacoas, uma nova província, que incluía boa parte do baixo Chocó. Em 1846, o general Tomás Cipriano de Mosquera ofereceu-lhe a pasta do Tesouro, que ele recusou. Participou do debate presidencial de 1948, a favor do Dr. Florentino González, a quem acompanhou, junto com Lino de Pombo, na redação de El Siglo. Quatro anos antes, ele se destacou na defesa da candidatura presidencial do general Borrero, escrevendo um panfleto muito aclamado, “Los tres candidatos”, que ainda hoje chama a atenção pela precisão de seu conceito e pela elegância de seu estilo. Em 1948, foi-lhe oferecido o cargo de Secretário no Ministério das Relações Exteriores, que também não aceitou, e retornou ao Cauca para atender seus interesses, para os quais costumava passar um tempo na jurisdição de Caloto. Por esta razão foi conselheiro e líder político (1843) do referido cantão. Frequentou diversas vezes a Câmara Provincial de Popayán e foi membro do Conselho de Instrução Pública, ou seja, auxiliar da subdiretoria da filial, como era chamada então. Liderou a oposição ao presidente José Hilario López, na imprensa, com “El Misóforo”, e nas arquibancadas, especialmente em reuniões populares. 

De Julio Arboleda foram preservados notáveis escritos políticos, discursos e numerosos poemas, entre os quais se destaca o poema épico “Gonzalo de Oyón”. Sobre esta atividade literária do autor, Gustavo Otero Muñoz, em Semblanzas colombianas, afirma: “Suas viagens pelos povos mais notáveis da Europa complementaram sua educação”. A criação do famoso poema Gonzalo de Oyón foi um pensamento constante durante a vida de Arboleda. Ele produziu muitas composições fugitivas muito bonitas que lhe renderam renome no mundo literário. Entretanto, durante o saque de sua casa em Caloto, em 1851, esta obra foi despedaçada e arrasada, roubando da literatura nacional uma de suas joias mais ricas. Resiliente, entretanto, o autor reconstruiu a introdução e as primeiras e quintas canções, graças à sua memória privilegiada e a vários fragmentos copiados em Popayán. Foram publicadas em 1858, durante a Semana Literária de El Porvenir, por Dom Lázaro María Pérez. No mesmo ano, Arboleda reescreveu algumas outras canções. Depois de se mudar com sua família para Paris, em 1859 ele confiou a um amigo o transporte do novo manuscrito para Bogotá, e foi interceptado por uma guerrilha de revolucionários. Tais são os contratempos que impediram a posteridade de conhecer em sua totalidade aquela criação que contém “belezas exaltadas de toda espécie”. Os fragmentos publicados por Pérez e os papéis que ficaram em poder da família do poeta serviram a Dom Miguel Antonio Caro para fazer uma reconstrução da obra, que foi incluída na edição definitiva dos versos de Arboleda feita em Nova York em 1884.  

Alguns fragmentos de “Gonzalo de Oyón”? “Voy recorriendo pensativo y mudo,  Con paso lento, la esmaltada falda Por do el Cauca, entre ribas de esmeralda,  Palpita su rápido caudal. De lo pasado en el abierto libro  Mis ojos por las páginas errantes  Leyendo van de los que fueron antes  La virtud; el delito, el bien, el mal; Y los siglos, que ruedan envolviendo  Hechos y nombres en común ruina, Cuya planta pesada peregrina Dejando en pos olvido y destrucción;  Los siglos se presentan apiñados, Leve punto en el tiempo do se hundieron,  Y donde, en su naufragio, confundieron  Nombres, timbres, historia, y gloria y tradición. ¿Dónde están ¡ay! los ínclitos varones  Que cansaron la fama, á cuyos hechos  Los limites de un siglo eran estrechos,  Que, abrumado, á su peso se rindió? El más feliz al tiempo lanzó un nombre, ¡Un nombre! ¡una palabra sin sentido,  Esparto leve al huracán cedido! ¡Ligero corcho que á la mar cayó!” Tradução: “Caminho pensativo e mudo, com passo lento, a saia esmaltada do Cauca, entre margens esmeraldas, seu fluxo rápido pulsa. Do passado no livro aberto. Meus olhos pelas páginas errantes A leitura vai daqueles que foram antes da Virtude; crime, bem, mal; E os séculos, que rolam, envolvendo Fatos e nomes em ruína comum, Cuja planta pesada peregrina, Deixando para trás o esquecimento e a destruição;  Os séculos aparecem amontoados, Pequeno ponto no tempo onde afundaram, E onde, no seu naufrágio, confundiram Nomes, timbres, história, e glória e tradição. Onde eles estão, ah! os homens famosos Que cansaram a fama, a cujos feitos Os limites de um século foram estreitos, Que, oprimidos, renderam-se ao seu peso? Os mais felizes ao mesmo tempo lançaram um nome, Um nome! palavra sem sentido, Esparto brando ao furacão cedeu! Cortiça leve que caiu no mar! 

Professora Universitária* 

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