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Abelhas do Mato Grosso, presente!

Nos pequenos cultivos caseiros priorizo as abelhas e demais insetos polinizadores. Toda planta com flor permanece nos canteiros. Tenha o nome que for, serventia ou não, seja bela ou feia aos meus olhos, exale ou não odores agradáveis, plantada ou nascida espontaneamente: plantas com flores ficam e se desen­volvem. Elas possuem espaço garantido no quintal de casa. Penso que assim, contribuo um pouco com a saúde do ecossistema do bairro onde moro.

Moro na assim chamada “capital brasileira do agronegócio”. Mas o caso que lhes conto agora aconteceu em junho passado na assim chamada “cidade mais rica do agronegócio”: Sorriso, no estado do Mato Grosso (MT). Em uma lavora de algodão foi aplicado por via aérea com avião monomotor um agrotóxico con­tendo o princípio ativo fipronil que levou à morte 100.000.000 de abelhas da espécie Apis mellifera. Não foram contabilizadas as mortes nas populações de abelhas nativas e silvestres. O extermí­nio foi imenso!

O fipronil é uma substância tóxica que provoca uma hiperex­citação neuronal nas abelhas, pois produz descargas elétricas que levam à paralisia e exaustão celular desses e de outros insetos. As abelhas de Sorriso tiveram morte súbita em suas colmeias. O laudo do Laboratório de Ecologia de Agroquímicos do Instituto Biológico de São Paulo comprovou a presença de moléculas do fi­pronil em todas as abelhas e colmeias mortas. As amostras foram recolhidas pelo Instituto de Defesa Agropecuária do MT em 22 fazendas num raio de 30 km da lavoura de algodão.

Em 2008 numa lavoura de cana-de-açúcar em Altinópo­lis (SP), a partir da aplicação de agrotóxicos contendo como princípios ativos os neonicotinóides e o fipronil, registrou-se o primeiro colapso de colônias de abelhas – em inglês Colony Collapse Disorder (CCD). Nestes casos, o sistema de navegação das abelhas entra em desordem após o contato com o veneno; as operárias se perdem, deixando colônia e rainha com muitas crias famintas. Todos da colmeia falecem.

Logo após comprovados os efeitos maléficos de tais substân­cias, governos do Uruguai, Vietnã, África do Sul, Estados Unidos e grande parte da Europa, proibiram o uso dessas substâncias.
As abelhas respondem por grande parte da polinização das plantas com flores. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), 75% dos cultivos des­tinados à alimentação humana dependem das abelhas. Em uma província chinesa, após o desaparecimento total de abelhas pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, é necessário que homens­-abelha sejam contratados para fazer o serviço de polinização com penas de pássaros em plantações comerciais.

Ao lermos a bula de diferentes agrotóxicos que tenham fipronil em sua fórmula, nos deparamos com as seguintes in­formações, entre muitas outras: produto extremamente tóxico, potencial de alta periculosidade ao meio ambiente, efeitos sinér­gicos não conhecidos e modo de aplicação com pulverizadores acoplados a trator. Não está previsto e permitido o uso com aviões monomotores!

Segundo a Associação de Apicultores e Meliponicultores do Vale do Rio Teles Pires de Sorriso, o número de jovens com câncer tem aumentado na cidade. Quais os custos em adiarmos o banimento de tal substância em nosso país? Estamos aguardando o que para tomar decisão sensata, corajosa e prudente?

“Quero me opor/ Bater de frente/ Tête-à-tête/ Interferir/ Perpassar/ Rasgar o verbo em campos de soja/ Sobre uma lata de 60 litros de agrotóxico/ E discursar a favor de todas as abelhas ausentes/ E discursar a favor de todas as abelhas ausentes!”.

Abelhas de Sorriso, presente! Abelhas do Mato Grosso, presente!

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