Por Hugo Luque
A Copa Brasil de Paraciclismo desembarcou em Ribeirão Preto neste fim de semana para sua terceira e última etapa da temporada. Começou neste sábado e termina hoje, domingo, na Avenida Delegado Paulo Pereira de Paula (Residencial Alto do Castelo), desde às 8 horas. Três representantes da cidade prometem brigar por medalhas em um dos percursos mais desafiadores da competição. Além disso, os competidores buscam uma vitória adicional: a divulgação da modalidade em um município que já tanto pedala.
Entre os companheiros de equipe, os principais pontos em comum são o amor pelo esporte e a capacidade de colecionar vitórias. Maurício Dourado vem de uma longa jornada no esporte. Natural de São Paulo, começou no mountain bike há 30 anos, em 1994.
A paixão era tanta que nem mesmo o grave acidente sofrido em 1997, quando um caminhão o atropelou durante um treinamento, afastou Dourado da prática. Ele se adaptou, trocou a bicicleta convencional pela do paradesporto e seguiu adiante. No caminho, teve, ainda, de abrir mão de uma carreira já bem consolidada em outro ramo.
“Não é fácil, não é uma vida de luxo, muito longe disso, mas é muito pelo desejo e a realização de um sonho. Fui bancário por 14 anos, tinha uma carreira bastante sólida em um banco e abri mão de tudo. Após o acidente, fiquei um tempo fora do esporte de alto rendimento, trabalhei esse período todo e abri mão para voltar ao paraciclismo. Para mim, é um sonho mesmo”, diz o competidor, que consegue se manter exclusivamente focado no esporte com auxílio de patrocinadores e do programa Bolsa Atleta.
Em sua trajetória, o paulistano soma medalhas de ouro e prata em Jogos Panamericanos de Paraciclismo, quatro títulos paulistas, além de ter sido cinco vezes líder do ranking nacional. Com tantos anos em diferentes modalidades do ciclismo, Dourado já vivenciou de tudo, mas foi em Ribeirão Preto que ele se encontrou de vez, embora paulistano de nascimento.
“Há cinco anos, vim morar em Ribeirão Preto. A cidade me acolheu muito bem. Sou muito grato, principalmente, à Secretaria de Esportes, que me contratou como atleta. Represento a cidade com o maior orgulho e a considero como a minha cidade.”
Por já ser praticamente um ribeirão-pretano, o atual líder do ranking brasileiro na categoria H3 conhece o circuito da prova, localizado no Alto do Castelo, e espera bastante dificuldade para confirmar o hexacampeonato.
“É um circuito que vai largar de um falso plano, subindo, e vai inclinando, ficando uma subida bastante dura por 3 km seguidos. Sem dúvida, é o circuito mais desafiador da Copa Brasil.”
Liberdade regrada
Uma das representantes femininas da cidade é Mariana Garcia. Diferente de Maurício Dourado, ela nasceu e foi criada em Ribeirão. Aos 15 anos, Mariana sofreu um acidente de moto e ficou paraplégica. No esporte, ela se redescobriu.
“Conheci vários esportes adaptados, como basquete em cadeira de rodas e natação. Em 2015, conheci o paraciclismo e me apaixonei pela sensação de liberdade”, conta.
Esse sentimento foi levado tão à risca que a ribeirão-pretana se sentiu livre para acumular triunfos. Na categoria WH3, ela lidera o ranking nacional e foi campeã brasileira neste ano. Agora, planeja usar o “fator casa” a seu favor para sair vitoriosa mais uma vez.
“Já conheço o percurso. Existem várias vantagens de competir em casa, como não precisar gastar dinheiro com viagem e alimentação, não se desgastar fisicamente com a viagem e estar acostumada ao clima. É um dos circuitos nacionais mais pesados e será preciso muita força física e mental”, relata a atleta, que também detalha os sacrifícios e sua rotina puxada.
“Treinos específicos pelo menos seis dias da semana, ter um nutricionista, cuidar da recuperação com fisioterapia, musculação etc. As preparações são diferentes para os dois tipos de prova (contrarrelógio e resistência), por isso é importante ter um treinador”, completa.
O indivíduo e o grupo
É na preparação que entra Cristiane Pereira da Silva, treinadora do trio. Todos são atletas de alto rendimento e treinam juntos, cada um com suas peculiaridades.
“O treinamento de um homem é diferente do de uma mulher por sistema fisiológico e dinâmica de corrida”, explica Cristiane.
Também há diferenças entre as mulheres. Assim como Mariana Garcia, Jéssica Messali esteve nos Jogos Paralímpicos de Paris, neste ano. Contudo, a competidora natural de Jaboticabal vem do paratriatlo.
“Não especificamos os treinos da Jéssica para o paraciclismo, mas para o paratriatlo. Como ela é uma referência mundial na condição física e na especialidade dela, e a principal modalidade dela no paratriatlo é a bike, ela é muito forte no paraciclismo. Por isso, usamos as corridas no Brasil como treino e para engrossar o caldo no pelotão nacional para ter suas conquistas.”
De acordo com a treinadora, a experiência maior de Jéssica também pesa. Com duas Paralimpíadas no currículo, ela vem de um momento de adversidade em Paris. Quando estava em posição de pódio, a triatleta abandonou a prova após ter problemas em sua cadeira de rodas de corrida. Agora, a atleta busca a redenção em uma prova diferente.
“Passei um ano um pouco difícil com o ocorrido em Paris. Para me manter ativa e bem, resolvi continuar treinando a modalidade que mais gosto, que é o ciclismo, pelo menos neste final de ano. Veio a calhar com o meu calendário estar em Ribeirão bem quando acontece a prova.”
Ribeirão no radar
Jéssica ressalta, ainda, a forma com que o evento é organizado anualmente em Ribeirão. Para quem não conhece a modalidade, é uma excelente forma de acompanhar uma competição de alto nível.
“É a terceira edição da prova em Ribeirão Preto, então fica claro que a cidade sabe receber muito bem todos os atletas do Brasil inteiro.”
Secretário de Esportes do município, Erik Ávila celebra mais uma etapa da Copa Brasil em solo ribeirão-pretano. O evento, que teve a prova de contrarrelógio no sábado e terá a de resistência neste domingo, pode trazer ainda mais atrações para a cidade no futuro.
“Demonstra o potencial esportivo nacional que Ribeirão Preto exerce, ainda mais no paradesporto, onde já tivemos representantes da cidade participando destas mesmas provas nos últimos Jogos Paralímpicos de Paris 2024. (…) Esses eventos colocam Ribeirão Preto nas vistas dos circuitos esportivos, não só no paradesporto, mas em outras modalidades também.”