Feres Sabino *
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Tem amizade que a geografia não separa. Tem amizade que a proximidade não estabelece intimidade alguma. Mas é amizade. O tempo implacável flui, os cabelos embranquecem ou lá se vão, mas sempre, em qualquer época da vida, aparece a reveladora preocupação amiga. Por exemplo: – Você tem notícias do Edgard? Como ele está?
Exatamente assim acontece com Edgard de Castro, (Rib.Preto-21/01/1943) o nosso homem de cinema e de literatura. Eu o conheci no antigo Ginásio do Estado, quando usávamos terno cáqui e gravata preta, até para o jogo de futi-pedra, no pátio, entre uma aula e outra.
Depois ele desapareceu, depois ele apareceu. Foi para a Inglaterra, e na volta, a Itália por pouco tempo. Tivemos amigos comuns. Um deles o Jirges Ristum, jornalista e cineasta, morto, prematuramente, aos 42 anos, cujo filho André, cineasta também, acaba de celebrar o pai com uma linda obra, misto de biografia e de ensaio fotográfico, na qual veicula um artigo do Edgard e um meu.
O dele é um resumo primoroso da convivência do Jirges Ristum com a arte do cinema, especialmente a convivência com os três maiores diretores da época valendo essa síntese até pelo registro sobre a Inglaterra convulsionadapela música dos Beatles e do Rolling Stones (1971). O Edgard descobriu, na Itália, e pelas pistas parceiras do amigo Jirges, sua vocação pela arte cinematográfica e a ela se dedicou.
Em matéria de cinema, Ribeirão Preto assistiu Edgard fundar o Núcleo de Cinema, que ajudou a implantar no interior do estado um polo cinematográfico e audiovisual. Mas seu convívio artístico ficou mais enriquecido quando ele se ligou, há tempos, com as pioneiras invejáveis da Fundação Feira do Livro e de Leitura, para fazer a difusão dos livros e da necessária leitura por tantos lados e por tantos espaços, que se tornou um evento anual de repercussão no país todo, e até fora dele.Edgard está ali, há anos e anos, imprescindível.
Ele e eu trocarmos, frequentemente, mensagens de WhatsApp. Ele me enviou notícia do Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, com “Sessão Premiere Brasil” programada para exibir o filme “ Love Kills”, produzido por ele e pela ribeirão-pretana Luiza ShellingTubaldini, com apoio da Film Comissionda Região Metropolitana de Ribeirão Preto.
O filme ainda foi selecionado para a Mostra Internacional de São Paulo e para o Festival SITGES da Espanha, programado para outubro. Em seguida, recebi a notícia do sucesso da exibição.
O cinema lotado aplaudiu diretores, elenco e produtores, que abraçam orgulhosos a honra e a responsabilidade, para todos que se apresentaram pela primeira vez em Festival Internacional.
A arte que tem sempre a força expansiva da beleza, projeta-se para muito além de seus autores e inspiradores, para pertencer ao universo das pessoas, do tempo e do modo. Por isso, vencemos juntos.
* Procurador-geral do Estado no governo de André Franco Montoro e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras

