José Moacir Marin *
A família Coronavidiae a qual pertence o Coronavírus SARS-CoV 2 foi descrita há mais de 75 anos atrás, na década de 1940. Inicialmente alguns dos Coronavírus descritos foram caracterizados como vírus que afetavam os animais, como por exemplo vírus da bronquite aviaria infecciosa (IBV), Coronavírus bovino (BCoV) entre outros.
Posteriormente foram descritos outros vírus como agentes infecciosos para os seres humanos, os Coronavírus (HCoV) 229E, HCoV-HKU1, HCoV-NL63 e HCoV-OC43, que são responsáveis por aproximadamente 6-8% das infecções agudas do trato respiratório. Estes Coronavírus circulam de forma endêmica, por todos os continentes e infectam as crianças nos primeiros anos de vida, sendo amplamente conhecidos e causando na grande maioria dos casos uma gripe comum.
Em novembro de 2002 um caso de pneumonia atípica na província de Guangdong na China foi descrito como síndrome respiratória aguda severa e se tornou o primeiro caso de SARS (SevereAcuteRespiratorySyndrome), sendo identificado como agente infeccioso um novo Coronavírus que passou a ser denominado como SARS-CoV. Posteriormente ocorreu um novo aparecimento de outro Coronavírus denominado MERS-CoV (MiddleEastRespiratorySyndrome) em 2015. Estas duas ocorrências levaram a um esforço de pesquisa que resultou em torno de 3.500 publicações sobre o SARS-CoV entre 2003 e 2016, o que demonstra que este vírus era bastante conhecido antes de 2019.
O primeiro caso da COVID 19 foi identificado em dezembro de 2019 em Wuhan na China. Um novo Coronavírus foi rapidamente identificado como o responsável pela doença, inicialmente caracterizada como pneumonia atípica, exatamente como a SARS. O novo Coronavírus foi denominado SARS-CoV2 e apresentava uma homologia do material genético (RNA) em torno de 80% com o SARS-CoV.
Logo no início da pandemia foi observado que as crianças são menos infectadas com o vírus SARS CoV2, e quando infectadas, são assintomáticas ou apresentam sintomas muito brandos, geralmente febre, tosse e sintomas gastrointestinais e apresentavam um quadro geral similar aquele descrito para as crianças em relação ao SARS-CoV e ao MERS-CoV, há muitos anos atrás. Estudos epidemiológicos nestas doenças mostraram que crianças respondem por apenas 1% ou 2% de todos os casos, o que também foi verificado na COVID 19.
Sorg e colaboradores (2021) realizaram um estudo em 14 hospitais pediátricos na Alemanha envolvendo 10.358 participantes, crianças e adolescentes com menos de 17 anos de idade. O risco de doença severa foi tão baixo que não foi possível calcular a taxa de casos fatais, pois não foi identificada nenhuma morte. Segundo Zimmermann e Curtis (2021) existem diferentes fatores que podem proteger as crianças, incluindo : 1) diferenças na imunidade inata e adaptativa das crianças em relação aos adultos; 2) infecções mais frequentemente recorrentes e concorrentes nas crianças; 3) imunidade pré-existente ao coronavírus em função de infecções recentes com outros coronavírus; 4) diferenças na microbiota orofaringeana, nasofaringeana ou gastrointestinal das crianças em relação aos adultos; 5) efeito protetivo off-target de vacinas vivas recebidas no esquema de vacinação infantil, e outras possibilidades.
Dados iniciais na pandemia indicavam uma taxa extremamente baixa de infectividade do vírus em crianças e adolescentes, segundo Pezzullo e colaboradores (2023) a taxa média de fatalidade de infecção (IFR) de 0 a 19 anos é de 0,0003% e de 20 a 29 anos é de 0,002%.
Em novembro de 2023 o CDC (Center for DiseaseControlandPrevention) inseriu a vacina de mod mRNA-spike no esquema de vacinação de crianças após 6 meses de idade, o que foi bastante estranho pois este grupo não foi testado nos ensaios clínicos da vacina da Pfizer-BioNTech, além disso, nesta época já existia uma ampla literatura cientifica que demonstrava o caráter altamente imunogênico e pró-inflamatório da proteinaspike produzida no corpo humano após a injeção da vacina. Segundo Baumeier e colaboradores (2022) proteinaspike e inflamação ativa foram observadas em biopsia de indivíduos jovens hospitalizados com miocardite relacionada a vacina mod mRNA-spike.
Desde o começo da pandemia da COVID 19, baseada no conhecimento científico existente até aquele momento, a Suécia de forma soberana decidiu não seguir as recomendações apresentadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), assim, não realizou nenhum lockdown, não adotou o uso obrigatório de máscaras, não estabeleceu a vacinação obrigatória, não exigiu passaporte vacinal, não fechou escolas e não vacinou crianças. Segundo Baral e colaboradores (2021) 1,8 milhões de crianças frequentaram a escola em 2020/2021 e não foi detectada nenhuma morte.
Recentemente em maio de 2025 o governo americano retirou a recomendação de uso da vacina da COVID 19 para mulheres grávidas e crianças. Um longo caminho precisara ser percorrido para a compreensão mais adequada das consequências da pandemia da COVID 19 e das atitudes tomadas neste período.Este artigo faz parte de uma série de artigos já publicados neste jornal abordando a COVID 19.
* Professor aposentado de Genética e Biologia Molecular da USP/ Campus Ribeirão Preto

