Instituto 2030 *
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Em Ribeirão Preto, o futuro de uma criança está atrelado ao seu CEP. Enquanto a cidade se orgulha de seus indicadores econômicos, vemos um abismo silencioso nas salas de aula, com duas realidades distintas dentro da mesma rede municipal. De um lado, a excelência.
Do outro, o abandono. Os números não mentem. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2023 revela que uma escola chega a ser 74% superior à outra. Enquanto a melhor (localizada em bairro de classe média) teve nota de 7,5, a pior (localizada na periferia) pontuou 4,3.
Disparidade que vem se repetindo entre diferentes escolas a cada nova divulgação de dados, de dois em dois anos. Há mais desequilíbrio estampado em outros pontos avaliados pelo IDEB. Na escola primeira colocada, em cada 10 alunos, cerca de 9 terminam o 5º ano com aprendizado adequado em Português.
A alguns quilômetros dali o cenário é desolador: cerca de 3 alunos em cada 10 alcançam o mesmo nível. Na primeira, cerca de 7 em cada 10 crianças chegam ao 6º ano com o conhecimento adequado de Matemática, já na outra escola, menos de 3 atingiram esse índice. Isso não é apenas estatística; é uma sentença com impacto direto sobre trajetórias de vida e oportunidades futuras das crianças e jovens de Ribeirão Preto.
Essa injustiça social expressa em avaliações e notas também está dentro das residências dos alunos. Entre os estudantes do 9º ano, de classe média, 59% se identificam como brancos, 58% vão de carro para a escola e 71% têm quarto próprio com ambiente de estudos adequado.
Na periferia, analisando a mesma série, 64% dos alunos nem sabem qual é a escolaridade da mãe (percentual que atinge 64% no caso do pai). Pais, em sua maioria, que não falam com os filhos sobre a rotina escolar. Somente 35% dos alunos têm um lugar com mesa para estudar e 82% vão a pé para a escola, muitas vezes em regiões com altos índices de criminalidade e presença do tráfico de drogas (dados do IDEB 2021 nas mesmas escolas citadas).
O problema é sistêmico e requer intervenções coordenadas. Por isso o Instituto Ribeirão 2030 (IR2030) trabalha em rede com outras entidades, especialistas e pesquisadores no intuito de mobilizar a sociedade na reivindicação por mudanças.
O Movimento ‘Ribeirão Pela Educação’ concentra esforços para entender os pontos mais problemáticos e propor soluções que devem ser implantadas com urgência. Porém, a resposta do poder público, até o momento, tem sido o silêncio. No início de 2024, o IR2030 lançou um amplo diagnóstico da educação municipal, com dados e propostas concretas.
Os gestores precisam tirar essas evidências do papel para solucionar impasses que impactam diretamente na qualidade do ensino. Combater desigualdades exige combinar ações de curto prazo com políticas estruturais de médio e longo prazo.
Não se trata apenas de indicadores: são famílias inteiras, escolhas a serem feitas e futuro da cidade em jogo. O Instituto Ribeirão 2030 espera ver decisões rápidas, atitudes práticas e abertura ao diálogo permitindo que sejam estabelecidas metas claras, permitindo fiscalização, participação da sociedade civil e, sobretudo, foco nas escolas e alunos que mais precisam.
Ribeirão Preto tem capacidade técnica para uma ação coordenada, sustentável e baseada em bons exemplos de sucesso. Só assim romperemos o ciclo no qual o endereço, a renda, a cor da pele ou outros aspectos não relevantes na sala de aula determinam a qualidade da educação. * Entidade do terceiro setor de Ribeirão Preto que atua na fiscalização, proposição e qualificação de política públicas locais

