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Discurso na Academia

No dia 9 de fevereiro, na solenidade de posse na Academia de Letras, Ciências e Artes da Associação dos Funcionários Públi­cos do Estado de São Paulo, pronunciou-se o seguinte discurso:

A Academia de Letras, Ciência e Artes da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo é o seu berço criativo, como centro de inspiração poética, de inspiração li­terária, cenáculo do silêncio pesquisador da ciência, e habitat das mãos inspiradas da música ordenadora de notas e sons, ou da arquitetura das estatuas e dos objetos.

Assim como o Conselho Deliberativo e os demais Conse­lhos praticam o exercício prioritário das fiscalizações dos ne­gócios internos, essa singela e forte prática nos prepara para a fiscalização dos negócios públicos, nossa Academia, por sua vez, estende o mesmo braço de solidariedade associativa, como ensinamento do convívio social pacífico e respeitoso, encaixado na experiência da democracia sempre inacabada.

Honra-me falar pela representação que ora me designam.

Essa Academia trazendo para o seu seio ora a sensibili­dade poética, ora o dono da prosa fluente, ora o pesquisador do silêncio exigido pela ciência, ora as mãos iluminadas que imprimem na pintura a natureza ou as paixões humanas, ora a coordenação das notas e dos sons da música, tem – essa Academia — a expectativa real de que o lugar de cada um se converte em campo de observação e percepção do país, com seu passivo social e suas desigualdades históricas, ora em recons­trução; e tem – essa Academia — a expectativa de que cada um capture, para construir sua superação, a tristeza e os sofrimentos do mundo, turbilhonado pelas injustiças e pelas guerras.

Afinal, nossa época converteu o mundo em uma aldeia, sentida na sua globalidade pela alma que chora, ri e espera com toda esperança na poesia: percebida — essa aldeia – pelo espírito fluente da prosa que interroga seu tempo; percebi­da – essa aldeia — pelos que debruçam a alma e o espírito, garimpando na ciência sua verdade; percebida – essa aldeia – nas mãos impressoras do instante do artista ou da música, como esperanto da arte.

Esse dever de solidariedade, que nasce pelo reconheci­mento do outro, emerge mais forte como autodefesa, contra o individualismo desenfreado e neoliberal, que sorrateiramente conspira contra nossa humanidade de iguais.

Academia, campo sagrado de poesia, de prosa, de pesqui­sas sem arrogância, porque nunca na ciência o passo do com­passo é definitivo, cada sucesso é sempre uma aproximação, sempre uma verdade provisória, no vagar da criatividade.

Entretanto, nossa Academia também traz o enigma saudável da convivência leal e nos ensina a lição da amizade e do companheirismo associativo, inspiração preambular do convívio democrático.

Como uma aldeia que é o mundo, somos cidadãos ou cidadãs dele, com o dever patriótico de cuidarmos e pre­servarmos nossa identidade e nosso sentimento de nação, enfrentando as questões da paz e da guerra, da justiça e da injustiça, da diversidade e das desigualdades sociais, com espirito crítico marcado pela altivez e pelo respeito.

Espero que cada instante nosso, na poesia, na prosa, na ciência, na pintura e na música, na arquitetura dos objetos, projete-se como oração de tolerância e de paz, no coração do homem, no coração do mulher, no coração da criança.

É o que penso. É o que digo.

Feres Sabino
Auditório da AFPESP – 9/2/2023

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