Por Adriana Cristofoli
O endividamento das famílias brasileiras é um fenômeno que transcende as finanças
pessoais, afetando diretamente a economia nacional. Quando as famílias comprometem
uma parcela significativa de sua renda com dívidas, há uma redução no consumo, o que
impacta negativamente a demanda agregada e pode levar à desaceleração econômica.

Segundo o consultor econômico, José Rita Moreira, em Ribeirão Preto, a situação reflete essa realidade nacional. Segundo ele, no primeiro semestre de 2024, a inadimplência atingiu 29,65% da população local, sendo o cartão de crédito o principal vilão. Além disso, dados indicam que 66% das famílias na região possuem algum tipo de dívida.
O endividamento precoce entre os jovens é uma preocupação crescente. Segundo o
Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 46% dos brasileiros com idade entre 25 e 29
anos estão inadimplentes, e 19% dos jovens entre 18 e 24 anos também enfrentam
dívidas. Esse cenário é agravado pela facilidade de acesso ao crédito e pela falta de
educação financeira desde a juventude.
Já no primeiro emprego, muitos entram no ciclo do endividamento, muitas vezes por não compreenderem conceitos básicos como juros, crédito rotativo e planejamento financeiro. “Uma armadilha silenciosa que compromete não só o presente, mas o futuro desses jovens”, diz Moreira.
A educação financeira é uma ferramenta essencial para prevenir o endividamento. No
entanto, sua oferta no sistema educacional brasileiro é limitada. “Apesar de iniciativas
como o Decreto Federal nº 7.397/2010, que formalizou diretrizes básicas de educação
financeira, a implementação efetiva nas escolas ainda é um desafio”, declara. Para ele, a falta de capacitação de professores e a ausência de políticas públicas consistentes são alguns
dos impedimentos para a disseminação desse conhecimento.
Moreira ainda ressalta que o endividamento é um problema multifacetado que requer ações
coordenadas entre governo, instituições educacionais e sociedade civil. A promoção da
educação financeira desde a infância e a conscientização sobre o uso responsável do
crédito são passos fundamentais para construir uma sociedade mais equilibrada
economicamente.
Para Moreira, dinheiro não é um tabu. Dinheiro não é um problema. Dinheiro é uma ferramenta que pode ser usada para construir sonhos ou para cavar buracos de dívidas. Ainda segundo o consultor econômico, ensinar nossas crianças e adolescentes a entenderem isso não é apenas um ato pedagógico. É um ato social, cultural e, sobretudo, econômico. “Uma cidade onde as pessoas sabem lidar com dinheiro é uma cidade mais forte, mais justa e mais preparada para enfrentar crises”, finaliza.

Diego Galli Alberto, economista e coordenador do CPV SINCOVARP/CDL RP (Centro de Pesquisas do Varejo), concorda. Para ele, a educação financeira deveria receber maior atenção por parte do sistema educacional e ofertada o quanto antes, de preferência desde a infância, passando por assuntos básicos como contas pessoais e familiares, até temas menos conhecidos da população, como investimentos.
“Endividamento e educação financeira são caminhos opostos, sendo assim, a principal dica para fugir do descontrole financeiro é informar-se o máximo possível sobre como administrar os próprios recursos”, orienta. Ele lembra que o planejamento é necessário para não cair na inadimplência que costuma ocasionar um prejuízo ainda maior através de juros e multas.
Atuação de Ribeirão Preto
A prefeitura de Ribeirão Preto disse por meio de nota que a Educação Financeira vem sendo desenvolvida na rede municipal de Ribeirão Preto de forma integrada e contextualizada no Ensino Fundamental, com o objetivo de promover o uso consciente dos recursos e o desenvolvimento da autonomia dos estudantes em relação ao consumo e ao planejamento financeiro.
“Durante as aulas, são oferecidas atividades diversas, como simulações de compras, elaboração de orçamentos simples e análise de situações do cotidiano, envolvendo o comportamento financeiro, diz a nota.
Ainda segundo a prefeitura, as propostas são adaptadas à faixa etária de cada turma, trabalhando conhecimentos e habilidades que envolvem os contextos financeiros, para formar cidadãos responsáveis, que gerenciam o dinheiro assertivamente e planejam o futuro de maneira consciente, evitando desperdício de recursos, investimentos equivocados e o endividamento.
A prefeitura também afirma que o tema é trabalhado na formação continuada de professores, oferecida pela Secretaria da Educação. Nesse espaço de aprendizado, os professores trocam experiências, planejam atividades e organizam formas de trabalhar a Educação Financeira em suas escolas, em conjunto com outras disciplinas, como Língua Portuguesa, Ciências, Geografia e História.
“Em 2024, várias escolas da rede municipal de Ribeirão Preto participaram da OLITEF (Olimpíada do Tesouro Direto de Educação Financeira). O resultado foi satisfatório e os depoimentos dos professores e alunos participantes motivaram a participação de mais escolas na edição que ocorrerá em setembro de 2025”, finaliza.
Educação financeira pelo mundo
Na Europa, educação financeira é uma política pública consolidada. Países como o
Reino Unido, França e Finlândia ensinam desde cedo que dinheiro é mais do que
consumo – é responsabilidade, cidadania e sustentabilidade. Crianças britânicas, por
exemplo, aprendem na escola a fazer orçamento, entender impostos e a diferença entre
gastar e investir. Na Finlândia, a lição é clara: se você entende como o dinheiro funciona,
você é mais livre e mais seguro financeiramente.
Nos Estados Unidos, o pragmatismo reina. A educação financeira está ligada à
independência e ao empreendedorismo. Lá, jovens aprendem a lidar com crédito,
hipoteca, empréstimos estudantis e investimentos antes mesmo de se formarem no
ensino médio. O país que é símbolo do consumo também tenta, ao menos nos últimos
anos, formar consumidores mais conscientes e empreendedores mais preparados.
A Ásia, por sua vez, dá uma verdadeira aula de disciplina financeira. Em países como
Japão, China e Singapura, a cultura da poupança e do planejamento de longo prazo
começa dentro de casa e se fortalece na escola. As crianças não apenas entendem a
importância de guardar dinheiro, como também aprendem sobre investimentos, seguros
e até finanças sustentáveis desde muito cedo. Tudo isso impulsionado por uma
combinação de tradição, valores familiares e inovação tecnológica.
Dificuldades de implementação de educação financeira
- Falta de formação dos professores: Poucos educadores foram preparados para
ensinar finanças de forma didática e atrativa. - Desinteresse político: Educação financeira raramente entra como prioridade
nas políticas públicas. - Cultura do consumo imediato: Somos uma sociedade onde o “ter agora” pesa
mais que o “planejar para depois”. - Desconhecimento das famílias: Pais que também não sabem lidar com dinheiro
dificilmente conseguem ensinar os filhos.
O que pode ser feito?
• Educação financeira desde o ensino fundamental: Com aulas práticas,
simulações, feiras de finanças e atividades interativas.
- Formação de professores: Investir em capacitação é essencial.
• Parcerias com bancos, cooperativas e startups: Que podem oferecer programas, palestras e conteúdo para alunos e famílias.
• Tecnologia a serviço da educação: Aplicativos, jogos e plataformas digitais são aliados poderosos, como já são em Singapura e no Japão.
Endividamento versus inadimplência.
Uma pessoa endividada é aquela que possui dívidas, como parcelas de financiamento, empréstimos, mas está em dia com suas obrigações de pagador. Por outro lado, uma pessoa torna-se inadimplente quando deixa de cumprir suas obrigações no prazo estipulado.