Ex-ministro falou sobre segurança pública, políticas públicas e democracia brasileira
Por Pedro Ferro/Especial para o Tribuna Ribeirão
Na última quinta-feira (30), o ex-ministro da Casa Civil e dirigente do PT José Dirceu veio a Ribeirão Preto para discursar em um encontro de membros do PT no Cineclube Cauim. Em entrevista ao Tribuna Ribeirão, Dirceu respondeu a vários temas, da luta ‘eterna’ pela democracia brasileira à megaoperação realizada no Rio de Janeiro.
Sobre a megaoperação realizada pela polícia carioca nos complexos da Penha e do Alemão na terça-feira (28), o ex-ministro criticou a violência gerada pela megaoperação, afirmando que o que foi feito não tem efeito algum na luta contra o fim de facções criminosas. “A operação que aconteceu no Rio não resolve o problema do crime organizado, muito menos do PCC, Comando Vermelho, Amigos dos Amigos e milícias. […] Agora, como eliminar? Tem que começar [reestruturando] o sistema penitenciário, porque as facções dominam as penitenciárias, e depois reformar as polícias”, comentou Dirceu.
“As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) eram uma solução correta, porque você faz infraestrutura, políticas públicas, políticas de juventude e cultural, além da repressão [das organizações criminosas nas comunidades”, completa o ex-ministro.
Segundo ele, ações como a que foi realizada na capital carioca se devem ao longo histórico de violência policial e de mortes pelas mãos do Estado. Dirceu mencionou a Polícia mineira, o Esquadrão da Morte, o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) durante a ditadura militar e a Tropa de Elite como exemplo de organizações paralelas ao governo que se diziam dedicadas à eliminação do crime, mas raptavam e torturavam pessoas que se opunham ao Estado, além de dar continuidade ao tráfico de armas e drogas ou dominar a população de determinado território.
“Talvez essa desgraça acorde o País, os governadores e governo federal para a urgência de mudar os métodos de combate à facções”, aponta Dirceu.
Para o ex-ministro, também as falas e comentários de figuras públicas e governadores de extrema direita pedindo pelo bombardeio estadunidense a regiões dominadas pelo crime são uma afronta ao governo brasileiro. Com isso, segundo Dirceu, também seria ideal realizar uma reforma política para impedir abusos de poder por parte de parlamentares – como, por exemplo, a PEC da Blindagem – e para renovar as instituições governamentais com a entrada de membros que almejam o progresso social e econômico do País.

Trabalhadores em foco
Ao mencionar mudanças de infraestrutura no Brasil, José Dirceu abordou a situação atual das classes trabalhadoras, atestando a importância dos sindicatos para a garantia de direitos trabalhistas. “Com o tempo, foi-se criada na sociedade a imagem de que o sindicato explora, ilude e engana o trabalhador e, por isso, tiraram os recursos que os sindicatos tinham e flexibilizaram as relações de trabalho, terceirizaram, precarizaram”, disse.
“E agora querem privatizar a Previdência, querem desvincular o salário-mínimo da Previdência, querem tirar o piso da saúde e educação, ou seja, querem romper o pacto social. Então, o papel do sindicato hoje, é lutar pelas condições de trabalho, pelas condições de saúde do trabalhador, pela alimentação, pelo salário, pela participação nos lucros, o que é muito importante dar saúde e segurança ao trabalhador. Os sindicatos estão lutando para que o trabalhador tenha acesso ao Sistema Único de Saúde, ao Minha Casa Minha Vida, lutando para que a mobilidade urbana melhore e que haja lazer, cultura para o trabalhador”, acrescentou Dirceu.
Luta pela democracia
O ex-ministro comparou o cenário político atual com o período de repressão e censura da ditadura militar brasileira, no qual os direitos básicos da população foram revogados; a luta contra os movimentos conservadores e de extrema direita tem sido com o objetivo de impedir retrocessos em políticas públicas, econômicas e sociais.
Dirceu tomou a vereadora Duda Hidalgo como exemplo de uma nova geração empenhada a promover mudanças sociais e constitucionais, o que também tem tornado mulheres e outras minorias do âmbito político em alvos de ataques de grupos conservadores.
“O PT foi chave essencial para atrair os jovens para a política. Não só a nova juventude, mas como também membros da comunidade LGBTQIA+, negros e negras, índios e quilombolas”, afirmou.
Aliado a isso, Dirceu argumentou que a diversidade e ideais progressistas são essenciais para a composição da democracia brasileira. E, com isso, ele acredita que todas as pessoas devem ser responsabilizadas pelos seus atos, independentemente de sua posição social, econômica ou política.
“Parlamentares têm que responder [à Justiça] como qualquer cidadão, não importa se é de direita, de esquerda, se é jovem ou idoso. Eu respondi por tudo que me acusaram, não fugi de prestar contas com a Justiça e cumpri minha pena. Eu tinha convicção da minha inocência, mas acatei à decisão da Justiça até que fosse provada minha inocência”, concluiu Dirceu.

