Rui Flávio Chúfalo Guião *
Aproveitando viagem a Portugal, além de rever as belezas daquele país e de sua capital, Lisboa, tive oportunidade de visitar três vinícolas, que me impressionaram: Cartuxa, Herdade do Esporão e Adega Mãe. A produção do vinho naquele país iniciou-se há mais de 4.000 anos, quando povos primitivos já comercializavam o produto com seus vizinhos.
Hoje, o país é o quarto produtor da Europa, famoso pelo seu Porto e pela utilização de castas nativas em seus rótulos, como a Touriga Nacional, Touriga Franca, Alfrocheiro, Castelão, Tinta Roriz, Alvarinho, Encruzado (uma das minhas preferidas) Arinto, Loureiro, entre tantas. Portugal foi pioneiro no estabelecimento das regiões demarcadas do mundo, com a do Douro, em 1756.
Coube ao Marquês de Pombal a iniciativa de delimitar e preservar as características de um pedaço do território, dando a Denominação de Origem Controlada, DOC, aos vinhos ali produzidos e estabelecendo exigências para os produtores. As vinícolas Cartuxa e Esporão estão localizadas no Alentejo, região a uns cento e dez quilômetros ao leste de Lisboa e a Adega Mãe, na região da capital, de onde dista em torno de trinta quilômetros.
No já longínquo ano de 1913, Vasco Maria Eugênio de Almeida resolveu aproveitar seu vasto patrimônio de terras na região de Évora e ali começou a produção de vinhos e azeites. Sempre voltado para a promoção dos seus colaboradores e cioso da importância social da empresa, desenvolveu seus negócios ligando-os à cidade de vasta tradição romana. Em 1963, sem descendentes, criou a Fundação Eugênio de Almeida, a quem legou seu patrimônio, com a missão de promover o desenvolvimento cultural, educativo, social e espiritual da região de Évora, missão esta permitida pelos resultados da Adega e do Lagar Cartuxa. Dentro vários e ótimos vinhos, a Adega produz o Pera-Manca, considerado o melhor vinho português.
Localizada num antigo e acolhedor mosteiro dos monges cartuxos, bem preservado, oferece vários tipos de visitas e degustações, precedidas de interessante apresentação visual da história e da participação social da Fundação. A história do Esporão remonta ao século XV, quando ali foi construída uma torre, até hoje preservada, para moradia de fidalgos.
Em 1973, dois empresários portugueses compram as terras e iniciam a produção de vinhos, sendo hoje a Herdade um dos maiores produtores do país. Com o advento do enoturismo, a Herdade constrói amplas instalações para receber grandes grupos de visitantes, bem como um exclusivo restaurante, para menor número de clientes, todos com a bela vista dos vinhedos e dos açudes da propriedade.
Tivemos oportunidade de ali almoçar, degustando um menu de cinco pratos, a melhor refeição que fizemos na viagem. Usando produtos do Alentejo, que são apresentados em sofisticadas formas e harmonizando os pratos com os excelentes vinhos Esporão, é uma experiência imperdível.
A Adega Mãe é mais recente, foi construída em 2009 pela família Alves, o maior exportador de bacalhau de Portugal, com a marca Ribeiralves, produto que encontramos em nossos supermercados. Apaixonada por vinhos, a atual geração investiu numa instalação moderníssima, toda de vidro, no topo de um morro de onde se veem os vinhedos e os olivais, bem como o oceano Atlântico ao longe, o que dá um toque de salinidade aos vinhos que ali se produzem, majoritariamente brancos.
O nome é uma homenagem à matriarca da família, Dona Manuela Alves. Seu restaurante é primoroso, a refeição é memorável, bem como a visita às instalações compactas da vinícola, que impressionam pelo estado da arte e pelas novas técnicas de produção do vinho. Foram três visitas que marcaram a viagem.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras