José Moacir Marin *
Toda ocorrência prejudicial à saúde provocada pelo uso de uma vacina é denominada evento adverso, sendo registrado no Vaccine Adverse EventReporting System (VAERS). Essa é uma ferramenta de vigilância administrada por duas agências do US Departmenttof Health andHuman Services (HHS), pelo Center for DiseaseControlandPrevention (CDC) e pelo FoodandDrugAdministration (FDA). Este serviço tem acompanhado a ocorrência de eventos adversos após a administração de vacinas desde 1990. O VAERS é alimentado por profissionais médicos e pelos fabricantes de vacina e toda submissão é revisada por médicos e expert em segurança de vacina sendo analisada pelos dois órgãos CDC e FDA antes de ser publicado na plataforma. Como a comunicação não é obrigatória e sim opcional, os cálculos mais conservadores apresentam que o número de comunicações está subdimensionado 31 vezes, ou seja, os números reais são muito maiores.
Segundo Hulscher e colaboradores (2024) o CDC descreveu que de 01/01/2020 até 23/11/2024 ocorreram 1.212.008 mortes com teste positivo para COVID-19 sendo que 94% das pessoas mortas apresentavam idade superior a 50 anos. Até setembro de 2024 o VAERS registrou 19.028 mortes relacionadas a vacina da COVID-19, o que representa em torno de 80% das mortes relacionadas a todas as vacinas já usadas, sendo que 1.175 mortes ocorreram no mesmo dia da vacinação e 1.250 mortes no dia seguinte a vacinação. Como os dados do VAERS estão subnotificados, segundo os autores acima mencionados (19.028 x 31)- 589.868 mortes podem ser atribuídas as vacinas da COVID-19 nos Estados Unidos.
Devemos recordar que os ensaios clínicos das vacinas BNT162b2-Comirnaty da Pfizer-BioNTech e mRNA 1273-Spikevax da Moderna estão sendo revisados e são motivo de críticas e condenações. Aliás, a revelação inicial dos eventos adversos da Comirnaty ocorreu após um processo no USA, no qual documentos confidenciais da Pfizer foram tornados públicos e mostraram aproximadamente 1,6 milhões de eventos adversos até agosto de 2022, sendo que um terço destes eventos foram classificados como sérios, invariavelmente resultando em cuidados emergenciais, hospitalizações ou mortes.
Desde a SARS (SevereAcuteRespiratorySyndrome) e a identificação de um novo Coronavírus como o agente infeccioso (SARS-CoV), o vírus foi amplamente estudado e a proteína spike, foi reconhecida como a principal arma do vírus, sendo muito imunogênica e responsável por desencadear uma forte inflamação nos tecidos humanos. A mesma proteína spike foi caracterizada no SARS CoV-2 agente infeccioso da COVID-19.
As duas vacinas, a Comirnaty e a Spikevax utilizaram o mRNA (RNA mensageiro, uma etapa intermediária da produção de uma proteína)no caso o mRNA-spike para produzir cópia completa e funcional da proteína spike, e o mais inexplicável, utilizaram um mod mRNA-spike,mforma humanizada da proteína spike, o que lhe permite circular por meses no corpo humano, escapando das defesas antivírus, sendo confundida com uma proteína humana.
De acordo com Parry e colaboradores (2023) cada injeção da vacina pode introduzir de 13 a 40 trilhões de moléculas de mod mRNA-spike no corpo humano e cada uma dessas moléculas pode produzir de 10 a 100 moléculas de proteína spike. Os efeitos adversos da vacina da COVID-19 afetam uma série de sistemas, nesta primeira parte vamos abordar de uma breve maneira o sistema cardiológico e neurológico.
O conhecido efeito inflamatório da proteína spike, somado ao bloqueio que a proteína spike promove no sítio ACE 2, pode aumentar o nível de angiotensina 2 o que pode causar inflamação e stress oxidativo, o que nos permite entender a ocorrência de miocardite (inflamação da camada média da parede do coração) e pericardite (inflamação da membrana que recobre o coração), sendo que o mod mRNA-spike foi isolado do coração humano em autopsias realizadas após 30 dias da vacinação do indivíduo.
O mod mRNA-spike envolvido em nanopartículas lipídicas introduzido pela vacina foi encontrado circulando no sistema sanguíneo e cruzando a barreira hemato encefálica, potencialmente causando neuroinflamação e/ou coágulo sanguíneo no cérebro, levando a encefalite e encefalomielite. A proteína spike também promove uma desregulação no processo da coagulação, causando a formação de micro coágulos no cérebro, pulmão e fígado, associada a queda dramática no número de plaquetas circulantes no sangue.
Uma doença inflamatória aguda no cérebro pode levar a um prejuízo funcional do sistema nervoso, assim eventos como vertigem, perda de equilíbrio e coordenação geral prejudicada se tornam autoexplicativos. Neste artigo não existe espaço suficiente para avaliar todos os eventos adversos causados pela vacina da COVID-19 e nem os diversos mecanismos envolvidos. Isto permanece uma estrada aberta de longa caminhada em busca dos fatos.
* Professor aposentado de Genética e Biologia Molecular da USP/ Campus Ribeirão Preto