Tribuna Ribeirão
Cultura

Editorial – Farra do Livro na ACIRP

Carimbos de propriedade nos livros de Golfeto - Reprodução

O bem mais valioso para Antônio Vicente Golfeto – sua biblioteca – ficou escancarado, para quem quisesse ou passasse na porta do prédio da ACIRP nesta quarta-feira (12); Pegou livro quem quis, quantos quisesse, sem se dar satisfação a ninguém. Golfeto, morto em 2023, deixou sua famosa biblioteca para a ACIRP em testamento

Antônio Vicente Golfeto deve estar se revirando em seu túmulo nesse momento. Em cambalhotas. O professor Golfeto, como era conhecido, era um leitor contumaz, um estudioso, dono – como poucos e talvez único em Ribeirão Preto – de um profundo conhecimento das tais ‘epistemologia’, o estudo da teoria do conhecimento e ‘etimologia’, que é o estudo do significado das próprias palavras.

Com ele se aprendia rindo. Foi, durante anos, talvez, o maior cliente da saudosa livraria Acadêmica (que ficava na rua São Sebastião, entre a Visconde de Inhaúma e a Barão do Amazonas) a poucos metros do prédio principal da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (ACIRP), seu principal local de trabalho e, onde ingressou nada menos que em 1965, no então Departamento Jurídico. Depois criou o Instituto de Economia “Maurílio Biagi”, onde permaneceu até falecer em outubro de 2023. No meio do caminho também foi vereador, comentarista político em TV, etc, etc. mas isso é assunto pra outra hora…

Golfeto, no entanto, não era fiel à Acadêmica. Era cliente ‘fanático’ também da extinta ParaLer, da Saraiva… enfim, onde tinha uma livraria, ele era ‘figurinha fácil’. De livros e discos vinis (clássicos e de jazz, essencialmente).

Não por acaso, constituiu uma das maiores bibliotecas particulares de Ribeirão Preto (estimava-se algo em torno de 5 mil exemplares). Chegou ao ponto de ter que transferir parte do acervo, do seu apartamento para a própria entidade onde trabalhava, até pelo vínculo visceral que tinha com a ACIRP. Não era para menos. Morto em 2023, entrou e saiu pelas portas do Palácio do Comércio e Indústria, construído por Amim Antônio Calil, por incríveis 58 anos!

Embora homem de hábitos simples, Golfeto amealhou também no mundo financeiro, uma razoável fortuna. Possuía diversos imóveis em Ribeirão Preto. Solteiro e sem filhos, óbvio que deixou um testamento registrado em Cartório. Imóveis para seu advogado, para seu médico, para entidades beneficentes… e por aí vai, mas para a Entidade onde dedicou sua vida e fé – a ACIRP – Golfeto deixou sua lendária biblioteca!

Livros aqui, livros acolá, não se sabe, no entanto, por qual razão, uma parte enorme dessas obras já estão em mãos totalmente ignoradas. E o cúmulo do descaso aconteceu na tarde da última quarta-feira (12), quando as ‘portas’ principais da rua Visconde de Inhaúma, 489 ficaram abertas para quem quisesse pegar uma obra e chamar de sua…

Uns pegaram apenas um; outros dois, outros cinco, 10, 20… Depois, carros pararam na porta e porta-malas foram enchidos… “Propriedade de Vicente Golfeto”; “É de Vicente Golfeto”… Carimbos e manuscritos na página 3, estão hoje espalhados pelos quatro cantos da cidade. Durou menos de dois anos, o sonho de Golfeto de a ACIRP ter uma biblioteca honrada e valiosa. É óbvio que em breve, o que sobrou vai virar objeto de decoração em lojas de roupas e restaurantes chiques, como já vemos hoje, apoiando táboas de estante. Pelo menos, os de capa dura, com escrita em dourado…

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