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Filme holandês narra história da maestrina americana Antonia Brico

Foto Shooting Star Filmcompany BV
Por João Luiz Sampaio, especial para o Estadão

Em uma das principais cenas do filme, a maestrina se vê obrigada a interromper o ensaio e se dirigir a um dos violinistas. Reclama da falta de atenção a suas orientações, questiona o que estão todos ali fazendo e discursa um longo monólogo sobre o sentido do fazer musical.

“Foi ali, naquele momento, que eu de fato compreendi pelo que ela deve ter passado, foi ali que eu senti o que ela deve ter sentido. De repente, você se vê diante de noventa homens olhando para você, todos eles preferindo que você não estivesse ali. Toda a luta de Antonia revelou-se de uma maneira bastante real”, conta a atriz holandesa Christanne de Brujn.

Christanne interpreta a maestrina norte-americana Antonia Brico no filme Antonia – Uma Sinfonia, de Maria Peters, baseada na história real da musicista que, no início do século 20, furou a barreira de um mercado dominado por homens, tornando-se a primeira mulher a reger a Filarmônica de Berlim.

“Eu fiquei espantada quando conheci sua história”, diz a cineasta holandesa. “Assisti a um documentário sobre sua vida e me perguntei por que ninguém antes havia feito um filme sobre ela, em especial na Holanda, uma vez que ela nasceu aqui. Resolvi então que faria isso e, desde o início, contei com todo o apoio de sua família.”

Antonia nasceu em Roterdã em 1902, mas mudou-se com a família aos 5 anos para os Estados Unidos, onde passou a viver na Califórnia. Estudou piano e regência em São Francisco, antes de mudar-se para a Europa, onde foi aceita em 1927 como aluna da Academia Estatal de Música em Berlim. Três anos depois, regeu a Filarmônica de Berlim e passou a trabalhar com a Sinfônica de São Francisco, nos EUA, e a Filarmônica de Hamburgo, na Alemanha Depois de reger orquestras como a Filarmônica de Nova York, criou a Women’s Symphony Orchestra em Washington e radicou-se em Denver, onde manteve ligação até o final da vida com a filarmônica local. Morreu em 1989.

O filme começa com Antonia trabalhando como lanterninha em uma sala de concertos, precisando procurar um local no prédio em que conseguisse ouvir a apresentação: a Sinfonia nº 1 de Mahler, com regência do lendário maestro Wilhelm Mengelberg. Em seguida, trata das dificuldades para conseguir estudar piano, o preconceito e o assédio sexual de colegas, e os dilemas pessoais, desde a incompreensão da própria família até a tentativa de equilibrar sua vida afetiva e o foco necessário para construir uma carreira na música.

Peters conta ter tomado diversas liberdades com relação à história original de Antonia ao construir a narrativa do filme. “Ao narrar uma história, você precisa ter certeza de que tudo vai funcionar na tela. Esse processo levou muito tempo, mudei muito o roteiro, ouvindo muitas pessoas, o que foi bom. Mas para mim foi importante acima de tudo o contato com o primo de Antonia, que a conheceu muito bem. Ele me disse várias vezes: não há problemas em mexer em uma outra coisa, pois o importante é a essência do personagem. Ainda assim, a infância, o tempo em Berlim, a ajuda que recebeu de muitas pessoas, o começo no teatro de vaudeville, tudo isso de fato foi retratado de maneira bastante fiel.”

A diretora conta ter encontrado resistência no momento em que propôs a realização do filme, que chega nesta sexta-feira ao Brasil por meio de plataformas de streaming. “Foi muito estranho perceber isso. Porque era uma história praticamente inédita. E sobre uma mulher forte, com quem o público de hoje com certeza pode estabelecer uma relação especial. Mas era também um filme caro e, hoje em dia, conseguir dinheiro, seja para o que for, não é fácil.”

A trilha foi inspirada em compositores importantes para Antonia, como Mahler e Dvorák. “E usar uma sinfonia como a Novo Mundo tem também um simbolismo”, ela explica. Um novo mundo que ainda não se concretizou, ela diz, referindo-se ao fato de que as mulheres ainda são minoria no mundo da regência. “Acho que eu poderia ter contado essa história ainda nos dias de hoje. Mas as pessoas precisam de modelos. E Antonia foi um.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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