Tribuna Ribeirão
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Fiscalização e educação são essenciais para um trânsito seguro

Superintendente da RP Mobi, Marcelo Galli, explica como pretende criar um transito mais seguro em Ribeirão Preto | Foto: Alfredo Risk

Com formação acadêmica em Engenharia Mecânica, Engenharia Civil e Engenharia de Segurança do Trabalho e especialização em Liderança e Gestão de pessoas, Marcelo Galli é o responsável pela gestão da RP Mobi, empresa municipal responsável pelo trânsito e pelo transporte público de Ribeirão Preto.

Em entrevista ao Tribuna Ribeirão, Galli falou sobre os desafios e projetos para o setor. Sob sua coordenação está, por exemplo, a criação de uma interação entre o poder público e a sociedade, principalmente os motoristas, que possibilite um trânsito seguro e uma mobilidade urbana perene e que se perpetue para as próximas gerações. Algo complexo em uma cidade que tem 730 mil habitantes, uma frota de 614 mil veículos e entre as principais infrações registradas, há vários anos, o excesso de velocidade e o desrespeito a sinalização.

Somente de janeiro a outubro deste nano foram registradas na cidade 222.178 infrações de trânsito.  “Reforçamos a fiscalização, a engenharia de tráfego e ações de educação para o trânsito, mas a mudança cultural leva tempo. Mesmo assim, já começamos a observar reduções em pontos críticos”, ressalta Galli.

 

Tribuna Ribeirão – O senhor está no comando da RP Mobi desde o início do governo do prefeito Ricardo Silva. Antes, também comandou a empresa no governo do ex-prefeito Duarte Nogueira. Quais foram as mudanças que ocorreram no trabalho da empresa com a troca de prefeito?

Marcelo Galli – Estou à frente da RP Mobi desde o início do governo do prefeito Ricardo Silva, e também ocupei a superintendência na gestão anterior. O que mudou, de forma mais evidente, foi a prioridade dada à mobilidade com foco nas pessoas e em quem mais precisa. Com o prefeito Ricardo Silva, recebemos a determinação de fortalecer três frentes: planejamento viário, transporte acessível e a promoção da educação para o trânsito. Diante disso, viabilizamos a ampliação da frota de novos ônibus urbanos, a aquisição de modernos coletivos elétricos para o município, além de reformulações na operação das linhas. Ainda, instalamos sistemas semafóricos em locais com maior complexidade no tráfego veicular; iniciamos o projeto de lombofaixas e de redutores de velocidade com foco na segurança do pedestre e criamos o programa Educa Mobi visando conscientizar e ensinar boas práticas para um trânsito mais seguro.

 

Tribuna Ribeirão – Ribeirão Preto é considerada uma cidade com trânsito violento. A que o senhor atribui essa fama.

Marcelo Galli – A violência no trânsito está ligada a um comportamento histórico de risco, muito associado ao excesso de velocidade e à pouca percepção das pessoas sobre o perigo de diversas imprudências. Também temos em Ribeirão Preto, uma frota muito alta com mais de 614 mil veículos, mediante o porte da nossa cidade com mais de 730 mil habitantes, o que aumenta a pressão sobre a malha viária. Ao longo destes 11 meses, reforçamos fiscalização, engenharia de tráfego e a educação para o trânsito, mas a mudança cultural leva tempo. Mesmo assim, já começamos a observar reduções em pontos críticos.

“Com o prefeito Ricardo Silva, recebemos a determinação de fortalecer três frentes: planejamento viário, transporte acessível e a promoção da educação para o trânsito”

Tribuna Ribeirão – Em todos os levantamentos de infrações feitos, pela então Transerp, hoje RP Mobi, as mais cometidas no trânsito da cidade são as de excesso de velocidade e desrespeito ao sinal vermelho. Em sua avaliação por que isso acontece e tem persistido ao longo dos anos?

Marcelo Galli – Isso acontece porque, infelizmente, ainda existe um costume de baixa tolerância às regras de trânsito. Muitos motoristas e motociclistas subestimam o risco real dessas condutas e acreditam que “não vai acontecer nada”. Persistem porque: frota cresce rapidamente; o comportamento de risco se replica socialmente; ainda há pouca consciência dos impactos humanos dessas infrações. Tenho insistido muito com a nossa equipe na combinação de fiscalização permanente com educação continuada. Somente o conjunto de ações é capaz de mudar esta alarmante situação no trânsito.

Segundo Galli, os problemas de trânsito vêm do aumento da frota de veículos somado a uma falta de conscientização dos impactos humanos em relação às infrações de trânsito | Foto: Alfredo Risk

Tribuna Ribeirão – Existem momentos em que os motoristas falam que a cidade tem muitos semáforos. Em outras situações, principalmente quando é registrado um acidente de trânsito, que é preciso mais semáforos e sinalização vertical e horizontal. Afinal, Ribeirão têm muitos ou poucos semáforos? Como a instalação deles é decidida?

Marcelo Galli – Ribeirão Preto tem a quantidade necessária de equipamentos para as atuais condições do trânsito e a dinâmica da cidade, mas sempre passível de ajustes. Não trabalhamos com a lógica de “mais ou menos”, e sim de necessidade técnica. A instalação é decidida a partir de estudos de viabilidade realizados por engenheiros de tráfego da RP Mobi, que analisam fluxo, sinistros, travessia de pedestres, visibilidade, velocidade da via e conexões do entorno. Antes de qualquer implantação, seguimos sempre os critérios técnicos como base de decisão. Ainda, ressalto que a instalação de qualquer semáforo é a medida de última instância a ser adotada pela nossa engenharia de tráfego.

 

Tribuna Ribeirão – Quais foram as principais ações implementadas este ano pela RP Mobi?

Marcelo Galli – Neste ano, conseguimos avançar em ações importantes como o início do projeto de implantação de redutores de velocidade e lombofaixas, ampliando segurança de pedestres e condutores; requalificamos a sinalização horizontal e vertical em dezenas de bairros; instalamos semáforos em movimentadas rotatórias, melhorando a fluidez veicular; ainda instituímos o Programa Educa Mobi, levando ações para escolas, empresas e vias municipais. No setor de transporte, aumentamos a fiscalização das plataformas elevatórias dos ônibus urbanos, a fim de oferecer melhores condições de acessibilidade ao transporte público; autorizamos as vans escolares a circularem nos corredores de ônibus, garantindo maior segurança no transporte de estudantes; outros destaques foram a chegada de 20 novos ônibus na frota e também dos quatro novos ônibus elétricos que passaram a atender a população.

“A violência no trânsito está ligada a um comportamento histórico de risco, muito associado ao excesso de velocidade e à pouca percepção das pessoas sobre o perigo de diversas imprudências”

Tribuna Ribeirão – Especialistas em trânsito afirmam que é preciso mais ações educacionais da prefeitura para os motoristas da cidade. Que isso reduzira o cometimento de infrações. A RP Mobi realiza ações deste tipo e, em sua avaliação, elas efetivamente têm dado resultados no dia a dia do trânsito?

Marcelo Galli – Com a absoluta certeza a educação é o melhor caminho para um trânsito mais seguro. Em 2025, realizamos ações educacionais de forma permanente e acredito profundamente nelas. Hoje, temos abordagens em escolas, empresas, terminais de ônibus e ações itinerantes. Entre os projetos de destaque neste ano foi o uso do óculos simulador de embriaguez e o bafômetro tipo bastão, voltado para triagem rápida, quando não detecta álcool acende uma luz verde, liberando o condutor. O que também marcou este ano foram os vídeos educativos e de conscientização nos nossos canais oficiais da RP Mobi, registrando milhares de visualizações. Diante disso, ressalto que a educação não substitui fiscalização, mas modifica hábitos e cria uma nova cultura. E isso, já aparece nos dados de pontos onde somamos engenharia com fiscalização e educação: constatamos reduções mais consistentes nos índices de sinistros de trânsito.

 

Tribuna Ribeirão – No caso de crianças e adolescentes, que ações educacionais são realizadas pela RP Mobi?

Marcelo Galli – Com crianças e adolescentes desenvolvemos o programa Educa Mobi, que inclui ações na Escola Pública de Trânsito, localizada na sede da RP Mobi; onde realizamos simulações em um circuito de uma minicidade de trânsito, brincadeiras lúdicas e compartilhamos conhecimentos em uma sala de aula; ainda pelo programa ministramos palestras e atividades educativas nas escolas com a presença da “Mobinha” e do “Mobinho”, mascotes dos Agentes de Trânsito, que levam animação para os estudantes. Além das atividades na nossa sede administrativa, promovemos ações em parques durante festividades, praças, escolas e empresas. Inclusive, aproveito este espaço para citar o nosso mais novo projeto, o Agente Mirim de Trânsito, voltado a crianças de sete a 13 anos. As inscrições abriram neste mês, com o objetivo de formar jovens multiplicadores de boas práticas no trânsito. As inscrições estão disponíveis no portal da RP Mobi até 9 de janeiro.

“Tenho insistido muito com a nossa equipe na combinação de fiscalização permanente com educação continuada. Somente o conjunto de ações é capaz de mudar esta alarmante situação no trânsito”

Tribuna Ribeirão – Outro problema do trânsito na cidade são as chamadas rabeiras em ônibus do transporte coletivo. Por que a fiscalização e a multa dos infratores, aprovada por lei municipal ainda não começou?

Marcelo Galli – A lei municipal foi aprovada, mas para a aplicação da fiscalização foi necessária devida regulamentação de procedimentos técnicos, criação de um sistema eletrônico de cadastramento das ocorrências e validação jurídica conforme houve a publicação, na semana passada, no Diário Oficial do Município de uma instrução normativa que organiza o processo administrativo necessário para futuras ações de fiscalização. Também estamos em alinhamento com o consórcio operador do transporte coletivo, Guarda Civil Metropolitana e a Polícia Militar. O nosso objetivo é garantir que a fiscalização comece de forma segura, legal e eficiente, evitando questionamentos posteriores. A previsão de início é nesta segunda quinzena de dezembro.

Galli contou que aumentou a fiscalização das plataformas elevatórias e instalou novos semáforos nas rotatórias | Foto: Alfredo Risk

Tribuna Ribeirão – A flexibilização dos corredores de ônibus para o tráfego de veículos desde que eles estejam desocupados, deu resultado positivo para a mobilidade urbana?

Marcelo Galli – Ao longo dos meses, percebemos uma adesão satisfatória dos condutores nestes corredores que antes eram exclusivos. Tenho acompanhado de perto os dados e observamos melhoria no fluxo geral, especialmente fora dos horários de pico.  A prioridade do transporte coletivo continua garantida nos momentos de maior demanda, mas a flexibilização trouxe benefício para quem circula nos horários em que o corredor possui menor demanda. A cidade ganhou mobilidade sem prejudicar o sistema.

 

Tribuna Ribeirão – A Câmara de Vereadores criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o atraso e problemas na implantação dos chamados “Semáforos Inteligentes”, que já deveria ter sido concluída. Qual a responsabilidade e poder de decisão da RP Mobi nesse processo?

Marcelo Galli – A RP Mobi participa como órgão técnico, responsável pela integração do sistema e pela validação operacional do que foi entregue. Não decidimos sobre contratação, licitação ou pagamentos. A responsabilidade da entidade executiva de trânsito é garantir que aquilo que chega ao departamento técnico seja funcional, seguro e atenda ao projeto previsto. Estamos colaborando com a CPI e fornecendo todas as informações solicitadas.

“Não trabalhamos com a lógica de ‘mais ou menos semáforos’, e sim de necessidade técnica. A instalação é decidida a partir de estudos de viabilidade realizados por engenheiros de tráfego da RP Mobi”

Tribuna Ribeirão – O que o poder público e a própria sociedade precisam fazer para que as próximas gerações possam ter um trânsito mais seguro para os motoristas e os pedestres.

Marcelo Galli – Acredito que precisamos unir engenharia, fiscalização, educação e comportamento social. Do poder público, é essencial manter investimentos contínuos em infraestrutura segura, calçadas, faixas elevadas, sinalização eficiente, entre outras inovações e tecnologias. Da sociedade, precisamos de empatia e respeito. Cada pessoa deve entender que dirigir não é um ato isolado: é uma responsabilidade coletiva. Se cada um fizer sua parte, conseguiremos entregar às próximas gerações uma cidade mais humana, segura e acessível.

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