Tribuna Ribeirão
Cultura

Irmãos gêmeos são o desafio de Mark Ruffalo

Por Mariane Morisawa, especial para o Estado

O Emmy e o Globo de Ouro, se e quando acontecerem, já têm um candidato certo a melhor ator. Em I Know This Much Is True, minissérie em seis episódios em cartaz na HBO, Mark Ruffalo se entrega totalmente num projeto que é o sonho de todo ator: interpretar gêmeos, um deles esquizofrênico. Dominick, que abandonou a carreira como professor depois de viver uma tragédia pessoal, narra sua conturbada relação com Thomas, que já no início da série corta sua mão como sacrifício. “A vida é curta, e acho importante você se desafiar e se despedaçar mesmo”, disse Ruffalo, de 52 anos, em painel durante evento da Associação de Críticos de Televisão, em Pasadena, Califórnia. “Quero ser um artista que não pode ser rotulado, que surpreende as pessoas e a mim mesmo. E que às vezes erra, às vezes acerta. E falar de coisas que são importantes para mim. Quero continuar me desafiando para não morrer.”

I Know This Much Is True, que é baseado em Eu Conheço a Verdade, escrito por Wally Lamb e lançado no Brasil pela editora Record, é seu primeiro grande projeto como produtor. Ele escalou o diretor Derek Cianfrance (Namorados para Sempre, O Lugar Onde Tudo Termina), que costuma fazer longas sobre homens da classe operária com dificuldades de lidar com as emoções, bem parecidos com Dominick, para dirigir todos os seis episódios como se fosse um filme de seis horas. “Foi ele que me escolheu, não o contrário”, contou Cianfrance. “Nem precisei ler o livro porque queria trabalhar com Mark. É um privilégio trabalhar com alguém tão talentoso, mas também uma alma boa e admirável.”

Usar o mesmo ator para interpretar gêmeos normalmente envolve vários truques técnicos – e Ruffalo, que fez o Hulk em sete produções da Marvel, sabe bem o que é lidar com telas verdes e que tais. Mas tanto o ator quanto o diretor queriam usar o mínimo necessário. Além disso, Dominick e Thomas podem ter nascido idênticos, mas depois de 40 anos de vidas bem diferentes, eles não podiam ser iguais. “Seus corpos, suas fisicalidades, suas almas expressam isso”, disse Cianfrance.

Então, pelas primeiras 15 semanas de filmagem, Mark Ruffalo foi apenas Dominick. Nesse período, Thomas foi interpretado pelo ator Gabe Fazio, um amigo do diretor, para que Ruffalo pudesse contracenar com alguém, que depois seria substituído na edição pelo próprio Ruffalo fazendo o outro personagem.

Depois do período sendo Dominick, Ruffalo tirou cinco semanas de folga do set, enquanto a produção aproveitava para rodar as cenas dos gêmeos quando crianças e quando jovens. O ator então engordou cerca de 14 quilos para viver Thomas. “Ele usa muita medicação que faz inchar”, explicou Ruffalo. “E suas experiências de vida depois da adolescência são tão diferentes que era importante que os dois fossem duas pessoas completamente separadas. Eu não estava tentando fazer Thomas ser diferente de Dominick, mas construindo um personagem novo, com uma realidade própria.” Nessas cenas, Fazio interpretava Dominick.

Ganhar peso para interpretar Thomas não foi tão fácil quanto Mark Ruffalo imaginava. “Foram cinco semanas bem solitárias”, lembrou. Verdade que ele voltou a ver sua família depois de um tempo afastado filmando as cenas como Dominick, mas depois resolveu ficar sozinho. “Thomas ouve vozes em sua cabeça. Queria mergulhar em sua doença mental, entendê-la e tratá-la com o maior respeito”, explicou Ruffalo. “No fim, cheguei à conclusão de que Thomas é mais livre que Dominick em diversos aspectos. Ele não tem as expectativas e responsabilidades do irmão. Thomas é capaz de se expressar, está menos preso às ideias de masculinidade, dominação e controle. Dominick foi criado numa família italiana, em que aprendeu a ser forte, talvez até um pouco cruel, com alguns conflitos resolvidos na base da violência. Thomas era mais feminino, sensível, aberto e vulnerável.”

Como Dominick e Thomas, Mark Ruffalo também cresceu numa família da classe operária – o pai herdou o negócio da família, de construção e pintura, e a mãe era cabeleireira. O sobrenome não nega que ele vem de família italiana. Como na minissérie, não faltaram tragédias em sua vida, de um aneurisma cerebral ao assassinato de Scott, seu irmão quase gêmeo – os dois tinham pouco mais de um ano de diferença – em 2008, um caso nunca resolvido pela polícia. “Eu sou o tipo de ator que se inspira nas próprias experiências, e tenho muitas”, afirmou. “Meu irmão sempre vai ser parte disso. Quem tem irmãos sabe como a relação é complicada, profunda, poderosa. Scott está nesse trabalho e em tudo o que faço de uma maneira ou de outra.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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