Tribuna Ribeirão
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João e Joana de Barro



Rui Flávio Chúfalo Guião *

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Basta terminar a irrigação da manhã para o casal João e Joana-de-barro descer até as partes úmidas dos canteiros para pegar, com seus bicos, o barro necessário para a confecção de seu ninho.

São pequenas porções levadas em voos rápidos e repetitivos, que vão se acumulando em paredes compactadas por bicadas e batidas dos pés.

O pássaro tem uma coloração marrom clara, com um toque de vermelho e seu ninho parece um forno de barro, daí seu nome científico fornariusrufus.

O João-de-barro é originário da América do Sul e endêmico no Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.

É o pássaro nacional da Argentina, onde é chamado de hornero( forneiro ).

A construção do ninho leva cerca de duas semanas e o casal se reveza na coleta do barro, algumas vezes esterco e capim, e na confecção das paredes, que tem em média cinco centímetros de espessura.

O casal localiza o ninho em árvores e, nas cidades, é comum vê-los nas travessas dos postes.

Ainda não bem compreendido pelos ornitólogos o como isto acontece, o ninho é feito de tal maneira que o vento e a água das chuvas não penetram em seu interior.

Arquiteto caprichoso, o casal divide o ninho com uma parede interna, criando um ambiente protegido para a nidificação.

Aí a fêmea deposita seus três a quatro ovos na câmera interna, onde os choca por cerca de quinze dias, quando nascem os filhotes. Vinte dias após o nascimento, os filhotes estão prontos para deixar o ninho.

Interessante notar que o João-de-barro utiliza o ninho feito com muito trabalho somente para duas ninhadas, abandonando-o depois disto e partindo para a confecção de outro.

O ninho abandonado é ocupado então por outras aves, pererecas, cobras ou abelhas. Um tipo de andorinha só nidifica em fornos abandonados.

Apesar dos cuidados na construção, o ninho pode ser predado por gambás e outros pássaros.

A construção do segundo, terceiro ou mais ninhos pode ser feita em cima do forno original, originando um edifício de fornos.

A alimentação do João-de-barro é basicamente encontrada embaixo de folhas caídas no chão e constituída de formigas, larvas, aranhas e outros artrópodes. Pode aproveitar restos de pão deixado por nós.

A João-de-barro é um pássaro amigável, fica saltitando ou andando, elegante e garboso, pelo chão e não foge quando os humanos dele se aproximam,não voa, o que permite que nos aproximarmos bastante dele.

Têm um canto estridente, que parece uma gargalhada, mas pouco usado.

Lenda indígena narra que um jovem se apaixonou perdidamente por uma índia e, para demonstrar seu amor, ficou nove dias sem comer e beber, preso em sua oca.

Findo o prazo, o jovem começou a cantar e foi se transformando no João-de-barro. Sua escolhida, morrendo de amores, também se transforma em pássaro, surgindo o casal que encanta a natureza.

Outra lenda diz que o macho, quando descobre a traição da fêmea, fecha a porta do ninho, deixando-a para morrer.

Amplamente difundida, a lenda nunca foi comprovada pelos ornitólogos.

O João-de-barro é basicamente monogâmico, os casais só se dissolvem se não conseguem se reproduzir. Então, dá-se o divórcio e cada um parte em busca de novo parceiro.

Na minha casa é muito gostoso tomar o café da manhã na varanda, observando o casal apanhar o barro em seguidas revoadas, algumas vezes nos brindando com sua gargalhada luminosa.

* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras

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